Livres de todo Mal

“O último pedido ao nosso Pai aparece também na oração de Jesus: “Não te peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno” (Jo 17,15), diz o nosso Catecismo.

Ele nos ensina que: “Neste pedido, o Mal não é uma abstração, mas designa uma pessoa, Satanás, o Maligno, o anjo que se opõe a Deus. O “diabo” (“diabolos”) é aquele que “se atira no meio” do plano de Deus e de sua “obra de salvação” realizada em Cristo” (n. 2851).

Jesus disse que ele é “Homicida desde o princípio, mentiroso e pai da mentira e não permaneceu na verdade, porque a verdade não está nele. Quando diz a mentira fala daquilo que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8,44). Ele, “Satanás, é sedutor de toda a terra habitada” (Ap 12,9).

Foi por ele que o pecado e a morte entraram no mundo. O livro da Sabedoria explica algo muito importante: “Ora, Deus criou o homem para a imortalidade, e o fez a imagem de sua própria natureza. Foi por inveja do demônio que a morte entrou no mundo, e os que pertencem ao demônio prová-la-ão” (Sab 2,23-24). “Deus não é o autor da morte, a perdição dos vivos não lhe dá alegria alguma” (Sab 1,13). E é por sua derrota definitiva que a criação toda será “liberta da corrupção do pecado e da morte”. “Nós sabemos que todo aquele que nasceu de Deus não peca; o gerado por Deus se preserva e o Maligno não o pode atingir. Nós sabemos que Somos de Deus e que o mundo inteiro está sob o poder do Maligno” (1 Jo 5,18-19). “ Não façamos como Caim, que era do Maligno e matou o seu irmão. E por que o matou? Porque as suas obras eram más, e as do seu irmão, justas” (1 Jo 3,12).

São João deixa claro: “Eis que o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do demônio” (1 Jo 3,8). Isso é determinante.

Eis o que ensina o Catecismo da Igreja Católica:

§328. “A existência dos seres espirituais, não corporais, que a Sagrada Escritura chama habitualmente anjos, é uma verdade de fé. O testamento da Escritura a respeito é tão claro quanto a unanimidade da Tradição.

§330. Enquanto criaturas puramente espirituais, são dotadas de inteligência e de vontade; são criaturas pessoais a imortais. Superam em perfeição todas as criaturas visíveis. Disto dá testemunho o fulgor de sua glória”.

§391. Por trás da opção de desobediência de nossos primeiros pais há uma voz sedutora, que se opõe a Deus, e que, por inveja, os faz cair na morte. A Escritura e a Tradição da Igreja veem neste ser um anjo destronado, chamado Satanás ou Diabo. A Igreja ensina que ele tinha sido anteriormente um anjo bom, criado por Deus! Com efeito, o Diabo e outros demônios foram por Deus criados bons em (sua) natureza, mas se tornaram maus por sua própria iniciativa.

O Papa Bento disse, em 22/7/2012 que:

“Na verdade, o diabo tenta sempre arruinar a obra de Deus, semeando divisões no coração humano, entre corpo e alma, entre o homem e Deus, nas relações interpessoais, sociais, internacionais, e também entre o homem e a criação. O maligno semeia guerra; Deus cria a paz. Com efeito, como indicou São Paulo, Cristo «é a nossa paz: de dois povos fez um só povo, em sua carne derrubando o muro da inimizade que os separava»

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Em 15/11/1972 em uma Audiência, Papa Paulo VI, fez a famosa Alocução “Livrai-nos do mal”, onde falou da existência do demônio e de sua ação perversa.

O Papa começou perguntando: “Atualmente, quais são as maiores necessidades da Igreja?” E ele mesmo responde: “Não deveis considerar a nossa resposta simplista, ou até supersticiosa e irreal: uma das maiores necessidades é a defesa daquele mal, a que chamamos Demônio”.

Paulo VI mostra que a realidade do pecado e uma ação perversa deste Mal; “o efeito de uma intervenção, em nós e no nosso mundo, de um agente obscuro e inimigo, o Demônio. O mal já não é apenas uma deficiência, mas uma eficiência, um ser vivo, espiritual, pervertido e perversor. Trata-se de uma realidade terrível, misteriosa e medonha”.

E deixou claro que estão em desacordo com o ensinamento da Igreja quem nega a existência do demônio:

“Sai do âmbito dos ensinamentos bíblicos e eclesiásticos quem se recusa a reconhecer a existência desta realidade; ou melhor, quem faz dela um princípio em si mesmo, como se não tivesse, como todas as criaturas, origem em Deus, ou a explica como uma pseudo-realidade, como uma personificação conceitual e fantástica das causas desconhecidas das nossas desgraças”.

Paulo VI relembra a tríplice tentação que Jesus sofreu no deserto, e os muitos episódios evangélicos, nos quais o Demônio se encontra com o Senhor e aparece nos seus ensinamentos (cf. Mt 1,43)?

“E como não haveríamos de recordar que Jesus Cristo, referindo-se três vezes ao Demônio como seu adversário, o qualifica como “príncipe deste mundo” (Jo 12,31; 14,30; 16,11)? E a ameaça desta nociva presença é indicada em muitas passagens do Novo Testamento. São Paulo chama-lhe “deus deste mundo” (2Cor 4,4) e previne-nos contra as lutas ocultas, que nós cristãos devemos travar não só com o Demônio, mas com a sua tremenda pluralidade: “Revesti-vos da armadura de Deus para que possais resistir às ciladas do Demônio. Porque nós não temos de lutar (só) contra a carne e o sangue, mas contra os Principados, contra os Dominadores deste mundo tenebroso, contra os Espíritos malignos espalhados pelos ares” (Ef 6,11-12)”.

Paulo VI afirma que “não se trata de um só demônio, mas de muitos (cf. Lc 11,21; Mc 5,9), um dos quais é o principal: Satanás, que significa o adversário, o inimigo; e, ao lado dele, estão muitos outros, todos criaturas de Deus, mas decaídas, porque rebeldes e condenadas; constituem um mundo misterioso transformado por um drama muito infeliz, do qual conhecemos pouco (cf. DS 800)”.

O Papa diz que o demônio é a origem de todo o pecado que entrou no mundo: “O Demônio é a origem da primeira desgraça da humanidade; foi o tentador pérfido e fatal do primeiro pecado, o pecado original (cf. Gn 3; Sb 1,24). Com aquela falta de Adão, o Demônio adquiriu um certo poder sobre o homem, do qual só a redenção de Cristo nos pode libertar”.

“Ele é o inimigo número um, o tentador por excelência. Sabemos, portanto, que este ser mesquinho, perturbador, existe realmente e que ainda atua com astúcia traiçoeira; é o inimigo oculto que semeia erros e desgraças na história humana”.

Depois de nos lembrar a parábola do joio que demônio semeia no bom trigo de Deus (“Inimicus homo hoc fecit” – Mt 13,2), relembra que ele é o assassino desde o princípio… e “pai da mentira”, como o define Cristo (cf. Jo,44-45).

“Ele é o pérfido e astuto encantador, que sabe insinuar-se em nós através dos sentidos, da fantasia, da concupiscência, da lógica utópica, ou de desordenados contatos sociais na realização de nossa obra, para introduzir neles desvios, tão nocivos quanto, na aparência, conformes às nossas estruturas físicas ou psíquicas, ou às nossas profundas aspirações instintivas”.

Paulo VI ensina que nem todo pecado é obra direta do demônio, mas lembra-nos que “aquele que não vigia, com certo rigor moral, a si mesmo (cf. Mt 12,45; Ef 6,11), se expõe ao influxo do “mysterium iniquitatis”, ao qual São Paulo se refere (2Ts 2,3-12) e que torna problemática a alternativa da nossa salvação”.

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Onde está a ação do Mal? Paulo VI responde:

“Podemos admitir a sua atuação sinistra onde a negação de Deus se torna radical, sutil ou absurda; onde o engano se revela hipócrita, contra a evidência da verdade; onde o amor é anulado por um egoísmo frio e cruel; onde o nome de Cristo é empregado com ódio consciente e rebelde (cf. I Cor 16,22; 12,3); onde o espírito do Evangelho é falsificado e desmentido; onde o desespero se manifesta como a última palavra, etc”…

Paulo VI termina nos ensinando a defesa contra o Mal: “Sabemos – escreve o evangelista São João – que todo aquele que foi gerado por Deus guarda-o, e o Maligno não o toca” (I Jo 5,19).

“A graça é a defesa decisiva. A inocência assume um aspecto de fortaleza. E, depois, todos devem recordar o que a pedagogia apostólica simbolizou na armadura de um soldado, ou seja, as virtudes que podem tornar o cristão invulnerável (cf. Rm 13,13; Ef 6,11-14-17; l Ts 5,8). O cristão deve ser militante; deve ser vigilante e forte (lPd 5,8); e algumas vezes, deve recorrer a algum exército ascético especial, para afastar determinadas invasões diabólicas; Jesus ensina-o, indicando o remédio “na oração e no jejum” (Mc 9,29). E o apóstolo indica a linha mestra que se deve seguir: “Não te deixes vencer pelo mal; vence o mal com o bem” (Rm 12,21; Mt 13,29)”.

E termina dizendo: “Procuraremos dar sentido e eficácia à usual invocação da nossa oração principal: Pai nosso… livrai-nos do Mal”.

O maior serviço que alguém pode prestar ao demônio e ensinar que ele não existe; assim, os fiéis não de defendem contra ele, e se tornam suas vítimas.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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