O Sensacionalismo de sempre

O anúncio da descoberta de um fragmento de papiro do século IV com uma suposta referência de Jesus a uma sua esposa provocou reações mundo afora. Uma frase incompleta a provocar conclusões as mais incoerentes e insustentáveis diante de tudo que está no Novo Testamento. “Minha mulher” e nada em seguida. É de se notar que no Evangelho de São Marcos lemos o que Jesus disse: “Minha filha”, mas a frase inteira é esta dirigida à hemorroíssa curada pelo poder do Redentor: “Minha filha, tua fé de salvou” (Mc 5,324). Um fragmento de frase pode então ser a fonte de uma ambiguidade, mas é o contexto que tira a dúvida. Aos pés da Cruz Jesus dirá a Maria, sua Mãe: “Mulher”. João Evangelista narrou o fato: “Estavam junto à cruz de Jesus, sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cleófas, e Maria Madalena. E Jesus vendo a mãe e perto dela o discípulo que amava, diz à mãe: “Mulher, eis o teu filho” (Jo, 19,25-27). Não se dirigiu a uma mulher qualquer, mas a Maria, sua genitora. Além do mais, Jesus falou claramente sobre a castidade e sobre o celibato. Quando expôs a doutrina da indissolubilidade do matrimônio seus discípulos disseram: “Se tal é a condição do homem em relação a sua mulher, não convém casar-se” Respondeu-lhes ele: “Nem todos compreendem esta doutrina, mas só aqueles aos quais foi concedido. Com efeito, há eunucos que nascem assim do seio de sua mãe, há eunucos que foram feitos tais pelos homens, e há eunucos que tais se fazem a si mesmos por amor do reino dos céus. Quem for capaz de compreender, compreenda” (Mt 19,10-13). Acrescente-se o episódio em que “Jesus falava ainda à multidão, quando veio sua mãe e seus irmãos e esperavam do lado de fora a ocasião de lhe falar.Disse-lhe alguém: Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem falar-te. Jesus respondeu-lhe: Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? E, apontando com a mão para os seus discípulos, acrescentou: Eis aqui minha mãe e meus irmãos. (Mt 12,46-49). Ele não se referiu a nenhuma esposa sua, Adite-se que não há nenhum relato histórico de um possível casamento de Jesus. Os Livros do Novo Testamento nada falam a respeito e são livros históricos. O celibato de Jesus não nunca colocado em dúvida nos primeiros séculos da História da Igreja. Os textos gnósticos que dão uma visão negativa do corpo e da sexualidade  não seriam eles jamais  uma fonte para focalizar esta questão. Os Evangelistas se referem várias passagens às mulheres que estiveram em redor de Jesus, mas nunca registraram o fato de uma delas ter sido sua mulher. Aliás, é bom que se note que os apóstolos ficaram surpresos por verem Jesus a falar com a Samaritana (Jo 4,27). Acrescente-se que no Antigo Testamento o profeta Jeremias, por exemplo, não se casou e o mesmo se diga de São João Batista. No tempo de Jesus os membros da seita judia dos essênios renunciavam ao casamento. Portanto, só pelo fato de ser judeu, Cristo, necessariamente, não precisava ser casado. É fruto de imaginação doentia de certos escritores do século passado, envolver na questão em tela Maria Madalena que, por sinal, não tem um papel importante nos livros apócrifos que poderiam explorar esta tolice. Esta idéia foi, recentemente, impulsionada pelo autor do Código Da Vinci que visa sobretudo negar a divindade do Filho de Deus. Portanto, as conclusões anticientíficas feitas sobre a descoberta de um fragmento de papiro do século IV com uma suposta menção de possuir Jesus  uma esposa tem sido simplesmente mais uma lenha para a fogueira do sensacionalismo da Imprensa sempre a cata de fatos que, embora inteiramente destituídos de fundamento histórico, servem para exaltar a imaginação dos leitores. Cumpre a quem é verdadeiro seguidor de Cristo ler e estudar os Livros do Novo Testamento e repelir tudo aquilo que de espúrio vai surgindo envolvendo a figura do Mestre divino.

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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