Direitos contra a religião

Não há
tolerância para com o cristianismo

Pe. John
Flynn, L.C.


ROMA, domingo, 27 de fevereiro de 2011 (ZENIT.org) – Durante muitos anos, grupos homossexuais
advogaram pela tolerância e pela eliminação das leis que eles consideravam
discriminatórias. Agora que, em grande medida, eles venceram sua batalha, seu
entusiasmo pela tolerância desapareceu.Os cristãos, que por razões de
consciência sentem que não podem ser favoráveis ao comportamento homossexual,
sofrem cada vez mais pressões. O último caso na Grã-Bretanha afetou um médico
cristão, Hans-Christian Raabe.

Há menos de um mês, Raabe foi nomeado para o Conselho de Assessoria sobre o
Consumo de Drogas (informações da BBC, 7 de fevereiro). Mas acaba de ser
despedido porque escreveu um artigo relacionando a homossexualidade com a
pedofilia.

Raabe foi co-autor de um estudo intitulado “Casamento gay e
homossexualidade: comentários médicos em fevereiro de 2005”. O artigo
afirma que, embora a maioria dos homossexuais não esteja implicada na
pedofilia, verifica-se um número desproporcionalmente grande de homossexuais
entre os pederastas.

“A minha nomeação foi revogada só por causa dos meus pontos de vista sobre
temas sem relação alguma com a política antidrogas”, lamentou Raabe em
comentários publicados no mesmo dia pelo Daily Mail.

Comentando a pressão que existe para impor a aceitação da homossexualidade, a
jornalista do Daily Mail, Melanie Phillips, lamentava em sua coluna de 24 de
janeiro: “O que já foi uma tentativa de eliminar atitudes desagradáveis
contra uma pequena minoria sexual se tornou agora uma espécie de fanatismo em
sentido contrário”.

Phillips relatou casos em que os cristãos são tratados de modo injusto por
causa dos seus pontos de vista sobre a homossexualidade. Seu alarme diante
desta tendência não deixa de ter razões, como revelaram as reações que ele
provocou.

Intolerância

Segundo reportagem de 1º de fevereiro do Christian Institute, a publicação da
coluna de Phillips gerou um “fluxo vicioso de ódio” contra ela,
incluindo convocações a assassiná-la. Phillips comenta que o lobby homossexual
está espalhando com abundância o mesmo ódio e intolerância dos quais esses
grupos se dizem vítimas.

“O que mais me alarma, e esta é a razão de eu me concentrar nos perigos
dessas diversas agendas de direitos, é que eles estão corroendo os valores de
bases que sustentam a nossa sociedade livre, tolerante e liberal”, acrescenta
Phillips.

Pouco antes deste episódio, Peter e Hazelmary Bull foram multados por se
negarem a reservar um quarto de seu hotel na Cornuália para um casal
homossexual, em setembro de 2008.

O juiz Rutherford, do Tribunal do Condado de Bristol, concedeu indenização de 1.800 libras a cada um
(BBC, 18 de janeiro). O casal tinha uma relação civil, mas os Bull, evocando
suas crenças cristãs, mantinham a política de reservar os quartos duplos para
casais unidos em
matrimônio.

“A nossa política sobre as camas de casal se baseia nas
nossas sinceras crenças sobre o matrimônio, sem hostilidade contra
ninguém”, afirmou Peter após o julgamento.

Mike Judge, do Christian Institute, que financiou a defesa dos Bull, declarou à
BBC que “esta sentença fornece mais evidências de que as leis de igualdade
estão sendo usadas como espada e não como escudo”.

“O direito a ter uma crença religiosa e agir de acordo com ela é
contraposto ao direito de não ser ofendido – e perde”, observou um
editorial de 18 de janeiro do Telegraph.

O editorial sustentava que hoje existe um insano desequilíbrio entre a
liberdade dos crentes e a daqueles que se consideram discriminados.

Adoção

Outro exemplo deste desequilíbrio foi sentido por uma pediatra cristã que
perdeu uma ação por discriminação religiosa, depois de ser despedida de um
órgão de adoções por defender que crianças não deveriam ser adotadas por casais
homossexuais.

Sheila Matthews perdeu seu cargo no Conselho do Condado de Northamptonshire
quando optou por se abster de votar em casos que envolvessem casais
homossexuais (Independent, 16 de novembro de 2010).

O juiz do trabalho, John MacMillan, afirmou que o tema “transcende as
fronteiras de todas as religiões”. Também sentenciou que Sheila devia
pagas as custas de ambas partes.
A matéria do Independent relatava o depoimento de Sheila: “Como cristã, eu
acredito que o casamento entre um homem e uma mulher numa relação sexual fiel e
monogâmica é o ambiente mais apropriado para a educação das crianças”.

Ela explicou que tinha começado a estudar o tema em 2004 e que encontrou
pesquisas com evidências de que as crianças de casais homossexuais não se
desenvolviam tão bem como as de casais heterossexuais. Segundo o juiz, a
postura de Sheila se baseava menos em bases científicas do que em fundamentos
religiosos, o que o levou a negar-lhe razão.

No Canadá, o Tribunal de Apelação de Saskatchewan sentenciou que os juízes de
paz da província não poderiam negar-se a realizar cerimônias de casais do mesmo
sexo (National Post, 11 de janeiro).

Os cinco membros do tribunal rejeitaram por unanimidade duas leis propostas
pelo governo. Uma propunha autorizar todos os juízes de paz a recusarem
cerimônias de casamentos civis contrárias às suas crenças religiosas. A outra
pretendia conceder esta isenção só aos juízes de paz que estivessem no cargo
quando foi legalizado o casamento homossexual, em novembro de 2004.

Direito de opinar

Não são apenas os cristãos que enfrentam problemas por causa dos seus pontos de
vista quanto à homossexualidade. Um caso notável foi o de um foro online da
Austrália, o On Line Opinion.

Graham Young, o redator, explicou a situação numa postagem de 7 de fevereiro.
Durante 11 anos, a página tinha sido uma plataforma aberta às idéias, escreveu
Young.

O futuro do site está agora ameaçado por uma campanha contra os seus
anunciantes, que geram cerca de metade da receita necessária para sustentá-lo.
O problema surgiu após a publicação de um artigo de Bill Muehlenberg, que se
opunha ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Young afirma que tinha decidido publicar uma série de artigos, com diversos
pontos de vista, sobre o casamento homossexual, atendendo aos pedidos de se
debater o assunto no parlamento federal. O artigo de Muehlenberg se
fundamentava em pesquisas e tinha sido redigido numa linguagem bastante neutra,
explica Young.

E acrescenta que se alguém não estava de acordo com as opiniões do artigo, a
forma de responder era contribuindo com suas próprias opiniões, em vez de
suprimir qualquer ideia contrária.

O artigo de Muehlenberg foi publicado em dezembro. Após a
campanha dos ativistas homossexuais, algumas empresas deixaram de anunciar na
página e o dinheiro da publicidade caiu praticamente a zero, afirma Young.

Christopher Pearson comenta a situação em um artigo de 5 de fevereiro, no
jornal Australian. Ele se colocou em contato com as empresas envolvidas e uma
das respostas que recebeu foi do banco ANZ.

“A retirada de nossa publicidade não se deveria considerar uma violação da
liberdade de expressão; simplesmente escolhemos não anunciar em blogs que não
estejam em linha com nossos valores da organização”, disseram-lhe.

“Ó, valente mundo novo! Qualquer coisa menos ser acusado de que o
casamento gay não esteja na linha dos valores organizacionais de ANZ”,
comenta Pearson.


Ódio


Os ativistas homossexuais acusam os cristãos, e outros que não estão de acordo
com eles, de odiá-los. Isso apesar das repetidas explicações de que não se faz
oposição às pessoas, mas apenas à conduta sexual.

De fato, o Catecismo da Igreja Católica indica claramente que “o ódio
voluntário é contrário à caridade” (No. 2303).

Ao tratar a homossexualidade, o Catecismo assinala que as pessoas com
tendências homossexuais “devem ser acolhidas com respeito, compaixão e
delicadeza” (No. 2358). Não obstante, a Igreja católica, junto a outros
muitos cristãos, não aceita a prática do comportamento homossexual.

Cada vez mais, os direitos dos homossexuais entram em confronto com o direito
dos crentes de realizar aquilo que se sentem chamados a fazer. Para que haja de
verdade liberdade religiosa, é necessário permitir que as pessoas atuem de
acordo com sua consciência.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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