Quando a Igreja se pronuncia sobre revelações particulares?

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Dizíamos que a Igreja se pronuncia sobre as revelações particulares… Mas, quando é que ela se pronuncia?

Está claro que, diante de um fenômeno religioso extraordinário, a Igreja se sente interpelada. Ela se vê obrigada a procurar distinguir o autêntico do não autêntico, pois pode haver ilusões, fraudes ou algum estado doentio na origem das revelações. Por isso, quando se proclama uma revelação de certo vulto, a Igreja estuda quatro aspectos da questão:

1. O conteúdo da mensagem transmitida pelos videntes. É mensagem condizente com as verdades da fé? Está em harmonia com o credo e a moral católica? Não haveria aí expressões da fantasia humana, sequiosa de dados maravilhosos? Um vidente, mesmo de boa fé ou candidamente, pode propor suas ideias como se fossem reveladas por Deus. Daí a cautela da Igreja ao examinar o que se atribui a intervenções do além;

2. Os videntes gozam de boa saúde física e mental? Podem estar sendo vítimas de alguma alucinação ou fantasia doentia? Sabemos que isso acontece com certa frequência; de modo especial, a temática religiosa sugere “intuições”, dado o peso da religião na vida dos homens;

3. Há honestidade, humildade e amor nos videntes e naqueles que propagam suas respectivas mensagens? Ou é possível descobrir charlatanismo, vaidade, cobiça de lucro, desejo de autopromoção em suas ações? Está claro que qualquer deslize moral na transmissão das mensagens desabona a “revelação”;

4. “Pelos frutos se conhece a árvore”, diz o Evangelho. A Igreja estuda asa consequências do fenômeno extraordinário. Procura saber se há benefícios espirituais (conversões, novo fervor, progresso nas virtudes etc) resultantes de tais mensagens, ou se há benefícios corporais (curas, graças no plano físico ou material).

Caso tais benefícios ocorram, sem que haja erro doutrinário nem defeito moral, a Igreja pode tomar uma ou outra das seguintes atitudes:

a) Deixa correr os acontecimentos, não havendo motivo para alguma censura. A Igreja não se pronuncia – o que equivale a um certo abono dos fatos;

b) Favorece o culto à Virgem Santíssima, tal como é prestado no lugar das ditas aparições.

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Vaticano: Normas sobre aparições e revelações privadas

Revelações privadas: Critérios de Discernimento

Aparições Marianas

Observemos bem: a Igreja numa dirá oficialmente que Nossa Senhora apareceu nesta ou naquela localidade; mas, em vista dos frutos espirituais colhidos em consequência das propaladas aparições, poderá abonar a devoção a ela tributada no local mencionado. É o que se dá em Lourdes e em Fátima: embora não se pronuncie sobre as aparições como tais, a Igreja incluiu no seu calendário litúrgico a Festa de Nossa Senhora tal com é cultuada em Lourdes (11 de fevereiro) e em Fátima (13 de maio);

Caso, porém, o exame dos acontecimentos leve a descobrir algo que fira a fé ou a moral, a Igreja diz não à devoção provocada pelas pretensas aparições. Em Garabandel, na Espanha, por exemplo, os bispos locais declararam espúrias as propaladas aparições de Nossa Senhora.

Apoiando as esperanças no transcendental

Resta dizer algo sobre o grande numero de “profecias” que circulam entre os fiéis, relativas a este fim de século.

A esse propósito, notemos que atualmente, muitas pessoas sente insegurança por diversos motivos: está abalada a economia, a política, a educação, a família… É natural, pois, que procurem algum apoio para a sua esperança no transcendental, ainda que se trate de mero imaginário. Daí o pulular de previsões relativas à proximidade do fim do mundo, que porá termo à desordem hoje vigente.

Também, o grande número de visões e aparições prometendo a intervenção do “alto” neste mundo, em favor de uma nova fase da História, caracterizada por paz, amor e fidelidade a Deus, provêm de tal “insegurança coletiva”. Essas visões podem ser contagiantes, visto que muitas vezes trata-se de fenômenos meramente psicológicos – senão psicopatológicos – que sugestionam o público e levam pessoas mais sensíveis a conceber, também elas, visões e aparições.

Os fiéis católicos devem exercer um certo senso crítico em relação as numerosas profecias que sacodem a sociedade de nossos dias e nada perdem ao reconhecer que muitas das pretensas aparições de nossos dias não são autênticas. Na verdade, o Evangelho está a clamar diariamente por oração e penitência (cf. Mc 1,14; Lc 18,1). Esse apelo é, em última análise, o mesmo de Nossa Senhora em suas genuínas aparições.

Orar e converter-se é o programa que os fiéis hão de assumir cada vez mais coerentemente, incitados precisamente pelas grandes lacunas religiosas e morais de nossos dias. O mundo precisa de Santos. Não lhe faltam profissionais e técnicos em diversas áreas; porém, aquilo que mais importa na preparação dos caminhos de uma sociedade mais harmoniosa e feliz é o cultivo da santidade ou da incondicional fidelidade a Cristo e à sua Santa Igreja. Eis o que deve permanecer na mente dos fiéis católicos interpelados por Cristo e sua Mãe Santíssima em nossos dias.

D. Estêvão Tavares Bettencourt, O.S.B

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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