Wolfgang Amadeus Mozart: imortal gênio musical, amigo de Deus

18 de Maio de 2012 – Dir-se-ia que Deus tem seus “caprichos”. Por vezes, concentra quantos talentos, graças, e dons em um só homem. Os gênios marcam a História com sua glória que, em última análise, procede da gloriosa bondade divina. Assim aconteceu na História da Música com Wolfgang Amadeus Mozart.

O “menino-prodígio” – como dizem os alemães, der Wunderknabe – irrompeu desde cedo com seu incrível talento musical no mundo barroco de Salzburgo. Com seis anos, coroado com “sua peruca e sua espadinha apertada à cintura” – como recordava Goethe – deslumbrou toda a Europa.

Conta-se que, com apenas seis anos já tocava violino, cravo e órgão. Entre um concerto em outro, Mozart deixava-se infantilmente deslizar no piso encerado do Palácio Imperial de Hofburg, em Viena. Em um dos divertidos percursos, esbarrou com uma das princesas da Casa de Habsburg. A menina de apenas 11 anos ajudou-o a levantar-se. A gentil princesa chamava-se Maria Antonieta, mais tarde, Rainha da França[1].

Viena, Paris, Londres, Roma, em todas as partes, platéias entusiasmadas o aclamariam. Cada cidade era presenteada com a improvisação de uma melodia.

Inúmeras são as narrações de fatos que atestam seu portentoso gênio musical. Ainda menino, Woferl – como era apelidado – ditava para seu pai minuetos espirituosos. Assistia a concertos que duravam horas, e de volta ao lar, os reconstituía de cor ao piano.

Aos 13 anos, Mozart compôs sua primeira ópera, intitulada Bastião e Bastiana. Seguiram-na mais de 50 sinfonias, 20 óperas, 20 missas para orquestra, coro e solistas, inúmeros concertos. Ainda não se definiu o inventário geral de suas composições, muitas delas escritas em brevíssimo tempo. Sem revisão, as entregava a um copista para serem impressas e executadas. Escreveu, por exemplo, de improviso, a abertura de sua ópera Don Giovanni, disponibilizando-a aos instrumentistas vinte minutos antes da estréia, quando já “aqueciam” e afinavam os instrumentos.

Dotado de uma inteligência vivíssima, falava e escrevia corretamente o latim, alemão, francês, italiano e inglês. Enobrecido pelo ambiente aristocrático, vestia-se sempre com pulcritude e elegância, costume conservado desde a infância, sabendo admirar obras que não eram de sua autoria. Católico, ao ouvir o cântico Gregoriano, Mozart afirmou: “Daria toda a minha obra para ter escrito o ‘Prefácio’ da Missa Gregoriana”.[2]

Suas duas mais famosas óperas povoam os cenários dos grandes teatros: A flauta mágica e Dom Giovanni, cujas partituras melodiosas entusiasmam os ouvintes, mas constituem o terror dos regentes e solistas que têm de haver-se com elas…

Uma de suas últimas obras, ouvida e comentada recentemente pelo Papa, merece especial atenção. Caindo doente em Praga, não mais recobrou perfeita saúde. Todavia, relatos posteriores o mostram de volta a Viena engajado em ritmo intenso de trabalho, envolvido com a finalização do Réquiem e assombrado com premonições da morte. Não se sabe ao certo o limite entre a lenda e a realidade nas descrições dos últimos dias de Mozart. Embora, doente, continuava a escrever várias cartas onde demonstra um humor jovial[3].

Em novembro de 1791, novamente doente, recolheu-se ao leito. No início de dezembro sua saúde parecia melhorar, e pôde cantar partes do Réquiem inacabado com alguns amigos. Agravando-se seu estado, em torno da uma da manhã de 5 de dezembro, expirou.

Sobre o “máximo músico”, comenta o Papa, “todas as vezes que ouço a sua música não posso deixar de me recordar da minha igreja paroquial, onde, quando eu era jovem, nos dias de festa, era executada uma sua ‘Missa’: no coração eu sentia que um raio da beleza do Céu me tinha alcançado”.

“Em Mozart tudo é harmonia perfeita, cada nota, cada frase musical é assim e não poderia ser de outra forma; também os opostos estão reconciliados e a Mozart’sche Heiterkeit, a ‘serenidade mozartiana’ tudo envolve, em cada momento. Trata-se de um dom da Graça de Deus, mas é também o fruto da fé viva de Mozart, que – sobretudo com a sua música sacra – consegue fazer transparecer a resposta luminosa do Amor divino, que dá esperança, também quando a vida humana é dilacerada pelo sofrimento e pela morte”[4].

Mozart morreu jovem, com 35 anos. Se é verdade que o amor de Deus cria e infunde a bondade na criatura e tudo em última análise tem origem no Autor do Universo, foi por causa deste amor infinito que Mozart morto é “imortal”[5].

Amor que se reflete inclusive no nome. Batizado com o nome Theophilus, preferia ser chamado em suas versões francesa ou germânica, Amadé ou Gottlieb, ou ainda na forma latina, Amadeus, mais próximo da tradução portuguesa.

Por Marcos Eduardo Melo dos Santos

[1] Cf. PAHLEN, Kurt. História Universal da Música. São Paulo: Melhoramentos, 1965.

[2] Cf. DANIEL-ROPS, Henri. A igreja das Catedrais e das Cruzadas. V. III. São Paulo: Editora Quadrante, 1993, p. 429.

[3] Cf. DANIEL-ROPS, Henri. A igreja das Catedrais e das Cruzadas. V. III. São Paulo: Editora Quadrante, 1993, p. 429.

[4] BENTO XVI. Discurso no final do Concerto oferecido pela Pontifícia Academia de Ciências. Castel Gandolfo. 7 set. 2010. Disponível em: www.vatican.va

[5] Cf. Suma Theologiae. 1,20,2 in THOMAE AQUININATIS. Summa Theologiae. Opera Omnia. Coord. Roberto BUSA. t. 3. Torino: Aloisianum: 1980.

Fonte: Gaudium Press

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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