Um dominicano paquistanês

O padre Patrick Peter fala da perseguição contra os cristãos

ROMA, domingo, 19 de junho de 2011 (ZENIT.org) – Os cristãos no Paquistão enfrentam uma grave perseguição, mas o problema não é o fato de serem minoria num país com uma esmagadora maioria muçulmana.

O padre dominicano Patrick Peter afirma que os católicos e muçulmanos selam amizades que duram a vida toda nos colégios católicos do país. Os problemas só aparecem com os estudantes de um tipo específico de escola.

O programa de televisão Deus chora na Terra, da Catholic Radio and Television Network (CRTN), em colaboração com Ajuda à Igreja que Sofre, falou com o padre Peter sobre a sua vocação e sobre a situação dos católicos no Paquistão.

– Você é do Paquistão, mas o seu nome é Patrick?

Padre Peter: É. Eu fui educado na religião. A minha família é muito católica. O nome do meu pai é Peter e ele me deu um nome que também começa com pê. Ele achou que era o melhor nome.

– Por que você entrou para os dominicanos?

Padre Peter: Quando eu era pequeno, conheci os padres dominicanos na diocese de Faisalabad porque o meu pai trabalhava para eles. Uma tia, por parte de pai, era irmã dominicana de Santa Catarina de Sena, e um tio por parte de mãe era padre dominicano. Graças a eles, eu tive a vontade de ser dominicano também.

Naquela época eu nem sabia a diferença entre um padre diocesano e um religioso. Na 8ª série eu falei que queria ser padre. Na universidade já entendia um pouco melhor a vida religiosa, falei com meu tio e ele me convidou: “Então venha, se junte a nós”. E lá em Faisalabad eu me uni aos dominicanos.

– Quem são os cristãos do Paquistão? Os pobres?

Padre Peter: A maioria dos cristãos do Paquistão são pobres. Muitos no limite da subsistência. É um grande desafio para os cristãos do Paquistão, inclusive para os que estudaram. A maioria dos cristãos é tão pobre que eles nem consegue pagar os subornos para algum trabalho bom. Os muçulmanos têm mais possibilidades, e a lei dá preferência a eles.

– Os cristãos são perseguidos por causa da fé?

Padre Peter: Sim. No Paquistão, os cristãos estão sendo perseguidos. Temos dificuldades principalmente com a “lei da blasfêmia”: qualquer um que falar contra o profeta Maomé ou desonrar uma página do alcorão pode ser acusado e julgado.

– Você já sofreu pessoalmente a discriminação ou a perseguição?

Padre Peter: Eu não, mas depois da minha ordenação, quando era mais novo, eu fui testemunha de um caso. No meu primeiro dia como padre, depois da missa de ação de graças, estive com um grupo de cristãos, de 16 a 17 famílias, que tinham sido acusados de dizer alguma coisa contra o profeta. Todos foram expulsos das aldeias deles. Queimaram as casas deles.

– O bispo de Faisalabad afirmou que os cristãos têm um papel determinante no progresso do país. Que papel é esse?

Padre Peter: Ele quer ressaltar que os cristãos têm as mesmas obrigações que os muçulmanos. Somos todos paquistaneses. Todos temos dificuldades. Contribuímos igualmente para o progresso do Paquistão na educação e na saúde. No Paquistão, a Igreja católica tem muitas instituições educativas e aceita todos. Os hospitais católicos também aceitam todos. Nós, cristãos, em particular os católicos, temos que dar um testemunho especial de fé para os muçulmanos, vivendo os nossos valores cristãos, tanto como testemunhas da nossa fé através do nosso apostolado de serviço como na forma de viver a nossa vida diária.

– Até que ponto esses colégios católicos têm um papel importante no Paquistão?

Padre Peter: Nós temos duas categorias de colégios: os de inglês médio e os colégios urdus. A maioria dos paquistaneses que podem pagar pela escolarização manda os filhos para os colégios de inglês médio. Os colégios missionários, os colégios católicos incluídos, estão nesta categoria. A maioria dos paquistaneses, que são na maior parte muçulmanos, prefere esses colégios missionários.

– Como se explica a perseguição contra os cristãos quando tantos muçulmanos estudam nos colégios católicos?

Padre Peter: O problema não é o muçulmano em geral. Os problemas vêm dos estudantes das madraças (as escolas religiosas e os seminários islâmicos), que são controladas por algumas mesquitas. Os estudantes que vêm dos nossos colégios têm relações muito boas entre si. Normalmente eles fazem amizades para a vida inteira.

– Existe possibilidade de diálogo com a comunidade muçulmana?

Padre Peter: Claro! E o diálogo está acontecendo. No meu povoado, quando eu era criança, nós, cristãos e muçulmanos, tínhamos uma relação muito boa. Conversávamos e éramos amigos.

– Como você vai ajudar o seu país?

Padre Peter: Eu já estou envolvido na formação. Uma das minhas tarefas é a preparação dos padres de amanhã. Vou ajudar a prepará-los para terem uma atitude boa com as pessoas, para eles prepararem e educarem as pessoas.

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Esta entrevista foi realizada por Marie-Pauline Meyer para “Deus chora na terra”, um programa rádio-televisivo semanal produzido por ‘Catholic Radio and Television Network’, (CRTN), em colaboração com a organização católica Ajuda à Igreja que Sofre.

Fonte: http://www.zenit.org/article-28254?l=portuguese
Mais informação em www.aisbrasil.org.br, www.fundacao-ais.pt.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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