Um Atentado a Eucaristia

José Lisboa Moreira de Oliveira, publicou na internet – no site Adital, um espaço dos adeptos da teologia da libertação –  o artigo “Corpus Christi: Momento para repensar o mistério da Eucaristia”. [1]

Este artigo, que considero um atendado à Sagrada Eucaristia, já foi contestado pelo amigo Jorge Ferraz, no site “deuslovult.org”. [2]
Tendo em vista a gravidade do assunto, gostaríamos também de tecer alguns comentários.

José Lisboa se apresenta como “filósofo, doutor em teologia, ex-assessor do Setor Vocações e Ministérios/CNBB, ex-Presidente do Inst. de Past. Vocacional. É gestor e professor do Centro de Reflexão sobre Ética e Antropologia da Religião (CREAR) da Universidade Católica de Brasília”.

O título do artigo é estranho quando fala em “repensar o mistério da Eucaristia”. Repensar o que? Há dois mil anos, enfrentando muitas heresias, como a de Berengário de Tours e dos cátaros, sobre a sagrada Eucaristia, a Igreja sempre afirmou, sem dúvida, que se trata da Presença real de Cristo na Hóstia Consagrada: Corpo, Sangue, Alma e Divindade.

De maneira sutil e sofisticada, com argumentos vazios, o autor nega o que a Igreja ensina, embora faça uma ginástica teológica e literária para tentar mostrar que não nega o dogma da presença real de Cristo, enganando o bom povo de Deus que não sabe teologia. Embora ele não diga, é fácil entender que para ele a Eucaristia não passa de símbolo, e não a Presença real e substancial de Cristo na Hóstia sagrada. Em seu artigo há frases ofensivas ao povo católico. Entre outras coisas ele diz que: “a festa de Corpus Christi, é um desvirtuamento radical do significado litúrgico do mistério do Corpo e do Sangue do Senhor”. “Considero a festa de Corpus Christi, na forma como ainda é celebrada atualmente, um desvirtuamento litúrgico e uma traição do mandato de Cristo…”.

 Ora, então quer dizer que o Santo Padre e todos os bispos do Brasil e do mundo fazem na “Festa de Corpus Christi” um “desvirtuamento litúrgico” e uma “traição a Cristo”? Com que direito e autoridade ele afirma isso? Será que ele é mais sábio, douto e santo, que o Papa, todos os nossos bispos e sacerdotes?

A Festa de Corpus Christi  surgiu no séc. XIII, na diocese de Liège, na Bélgica, por iniciativa da freira Santa Juliana de Mont Cornillon, (+1258) que recebia visões nas quais o próprio Jesus lhe pedia uma festa litúrgica anual em honra da Sagrada Eucaristia, após o célebre milagre eucarístico de Bolsena, cujas relíquias estão na expostas na Catedral de Orvieto.

Em 11/08/1264 o Papa aprovou a Bula “Transiturus de mundo”, onde prescreveu que na 5ª feira após a oitava de Pentecostes, fosse oficialmente celebrada a festa em honra do Corpo do Senhor. Há quase oitocentos anos a Igreja celebra Corpus Christi. E mandou a São Tomás de Aquino, que vivia em Orvieto, que escrevesse o Ofício da Festa.

O autor diz em relação à Festa do Corpo do Senhor que “deveríamos sair das pompas, ostentações e luxo e nos voltarmos para o silêncio contemplativo e reflexivo”.

Ora, não se trata de luxo, de ostentação e de pompas, mas de louvor, honra e glória a Deus que é Todo Poderoso, nosso Senhor, Criador de Salvador;  e, por isso, merece todo o nosso louvor. Os reis magos não levaram ao Menino Deus, ouro, incenso e mirra?

A revista “Jesus” das Edições Paulinas de Roma, publicou uma matéria do escritor Antonio Gentili, em abril de 1983, pp. 64-67, onde apresenta uma resenha de milagres eucarísticos. Há tempos, foi traçado um “Mapa Eucarístico”, que registrou o local e a data de mais de 130 milagres, metade dos quais ocorridos na Itália. Infelizmente José Lisboa despreza tudo isso, mesmo tendo a Igreja reconhecido a autenticidade de muitos desses milagres, como o de Bolsena, Lanciano, Santarém, Cássia, etc.

O desrespeito do autor é grande  com a fé do povo que adora o Senhor na Hóstia consagrada;  ele diz: “Por rigor de lógica as espécies eucarísticas, quando colocadas para a veneração dos fiéis, deveriam ser postas em pratos de comida e não em ostensórios luxuosos”.

“Assim a concepção comum presente na mente de bispos, padres e fiéis é que os termos “carne”, “corpo”, “sangue” se refiram exclusivamente ao corpo biológico de Jesus”.

“A Eucaristia seria a transformação de algumas hóstias e de um pouco de vinho num amontoado de células e moléculas do corpo físico do Jesus histórico que viveu na Palestina há dois mil anos”.

José Lisboa se esquece que a Igreja sempre ensinou que na Sagrada Hóstia não está apenas o corpo biológico  de Jesus, mas seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade. Até uma criança que se prepara para a Primeira Comunhão sabe disso. Como um teólogo não sabe? É doloroso perceber como o autor entende a Eucaristia; faz um reducionismo tremendo do mistério. Não sei de onde ele tirou a ideia de que alguém possa entender a Comunhão eucarística como um ato de antropofagia. Ele diz: “Participar da Eucaristia não é participar de um rito antropofágico, no qual se come um pedaço da carne biológica do Jesus histórico”.

É claro que não. Sabemos que não há nada de antropofagia na Comunhão eucarística, pois, na transubstanciação o que se transforma é apenas a substância (essência ou natureza) da Pessoa de Cristo, mas as espécies (acidentes) se mantém na forma do pão e do vinho. A substância da Pessoa de Cristo não tem sabor, cor, tamanho e gosto.

Além de tudo isso, é triste e lamentável que José Lisboa jogue o bom povo de Deus contra a hierarquia, já que esta não aceita as “suas” sugestões para que a Eucaristia possa ser celebrada por leigos em todas as comunidades onde não há sacerdotes. E cita Tertuliano para se defender: “Soluções já existem como já tive oportunidade de mostrar, mas a hierarquia resiste e não quer adotá-las. Se a hierarquia não resolve, cabe às comunidades cristãs abandonadas encontrarem uma solução”. Tertuliano (+220) afirmava: “Onde não há um colégio de ministros inseridos, tu, leigo, deves celebrar a Eucaristia e batizar; tu és, então, o teu próprio sacerdote, pois, onde dois ou três estão reunidos, aí está a Igreja, mesmo que os três sejam leigos”.

Não há como negar a subversão eclesial proposta pelo autor do artigo. Ele se esqueceu de dizer que Tertuliano morreu como herege montanista e milenarista. É dogma de fé que somente o sacerdote ordenado pode celebrar a sagrada Eucaristia, porque sem isso não existe a Consagração e o Sacrifício de Cristo que se renova sobre o altar. Mas infelizmente o autor não aceita isso e nem mesmo respeita a Igreja e sua hierarquia que Cristo instituiu. Não há como não enxergar em todos esses erros lamentáveis, a influência nefasta da teologia da libertação marxista.

Prof. Felipe Aquino*

* Professor de História da Igreja do Instituto Bento XVI, da Diocese de Lorena e da Canção Nova; mestre e doutor em Engenharia, autor de setenta livros; apresentador dos programas “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos” pela TV Canção Nova.

[1] – http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=67480

[2] – http://www.deuslovult.org/2012/06/05/meditando-o-misterio-da-eucaristia-contra-os-maus-filosofos-e-falsos-doutores/

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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