Últimos momentos de vida de São Tomás de Aquino

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Em 1274, São Tomás, aos 49 anos, foi convocado a participar do II Concílio de Lyon, onde seria debatido o retorno da Igreja Oriental ao seio do Catolicismo. Durante o percurso, o Aquinate viu-se acometido por uma misteriosa doença, pelo que foi logo levado ao Castelo de Maenza, pertencente à sua sobrinha Francisca.

No entanto, mesmo recebendo todos os devidos cuidados, seu estado de saúde não melhorou. Ao perceber que se aproximava o término de sua peregrinação nessa Terra, o Angélico pediu para ser levado à Abadia de Fossanova, da ordem cisterciense. Em seguida, explicou a razão: “Se o Senhor quer visitar-me, é melhor que me encontre num convento de religiosos do que numa casa de seculares”.[1]

São Tomás, mesmo moribundo, procurava consolar de todos os modos seu discípulo, Frei Reginaldo. Ao vê-lo tão abatido, perguntou-lhe qual seria a razão de tamanha tristeza. Ele então revelou a São Tomás o seu desejo de vê-lo honrado pelo Concílio de Lyon com alguma distinção importante como o cardinalato, pois isso daria maior glória à ordem dominicana, bem como alegria aos seus familiares. Ao ouvir estas palavras, São Tomás esclareceu-o de que pouco lhe importavam as honrarias deste mundo, pois o que realmente vale nessa terra é estar unido a Deus pela virtude da humildade.

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Meu filho, não vos inquieteis com isso. Entre outros desejos, pedi a Deus e fui atendido, pelo que dou-Lhe muitas graças de me tirar desta vida no estado de humildade em que me encontro, sem que qualquer autoridade me confira alguma distinção que mude este estado. Eu poderia progredir ainda em ciência e ser útil aos outros pela doutrina, mas aprouve a Deus, segundo uma revelação que me fez, de me impor silêncio, pondo fim ao meu ensino. Porque Ele quis, como sabeis, revelar-me o segredo de um conhecimento superior. É por isso que, a mim, indigno, Deus concedeu mais que aos outros doutores, que permaneceram mais tempo nesta vida, para que eu saísse mais depressa que os outros dessa vida mortal, e entrasse, sereno, na vida eterna. Por isso, consolai-vos, meu filho, que morro seguro de todas essas coisas.[2]

Devido ao intenso frio daquele inverno, alguns frades foram até a floresta colher lenha para aquecer a sua cela. São Tomás, vendo-os chegar com aquelas toras de madeira sobre os ombros, replicou humildemente: “Donde me vem esta honra de ver os servidores de Deus a servir um homem como eu e a trazer de tão longe, tão pesados fardos?”[3]

Atendendo à solicitação dos monges ali presentes, o Angélico Doutor comentou parte do Cântico dos Cânticos, deixando todos maravilhados por sua sabedoria e ciência. Dias depois, São Tomás pediu os Sacramentos, os quais recebeu com grande fervor. Em seguida reiterou sua fé absoluta na presença de Jesus Eucarístico:

Recebo-te, preço da redenção de minha alma, recebo-te, viático de minha peregrinação, por cujo amor estudei, realizei vigílias, sofri; preguei-te, ensinei; jamais disse algo contra ti, e, se o fiz, foi por ignorância e não insisto em meu erro; se ensinei mal a respeito deste sacramento ou de outros, submeto-o ao julgamento da Santa Igreja Romana, em obediência à qual deixo agora esta vida.[4]

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Frei Reginaldo de Piperno, que o acompanhou em seus últimos momentos, declara que a confissão de São Tomás foi como a de uma criança de cinco anos. No dia 7 de março de 1274, pela madrugada, São Tomás é ungido com os santos óleos, cerimonial em que respondeu diligentemente a cada uma das santas unções, expirando pouco tempo depois. Ameal afirma que a “sua alma vai tão pura como veio”.[5] Tomás “não parte, regressa. Espera-o Aquele de quem nunca, afinal, se separou”.[6]

Podemos assim concluir que o Angélico dedicou o melhor de seus esforços em santificar-se, pois segundo Touron, ser santo “foi o anseio mais veemente do seu coração”.[7] Para Grabmann, “a figura científica de São Tomás não se pode separar da grandeza ético-religiosa de sua alma; em Tomás, não se pode compreender o investigador da verdade sem o Santo”.[8] Dessa forma, a primeira e mais importante característica de sua vida foi a santidade, pois foi tão grande intelectual quanto foi grande santo.

Por Diác. Inácio de Araújo Almeida

[1] Ameal, João. Op. Cit., p.153.

[2] Guilelmus de Tocco. Op. cit., cap. 25., p. 204.

[3] Ameal, João. Op. cit., p. 154.

[4]Ibid, p. 155.

[5] Loc. cit.

[6] Loc. cit.

[7] Touron, Antonio. Vida história

Fonte: http://www.gaudiumpress.org/content/64591

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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