“Twiblings”, a última “novidade” em procriação artificial

Gêmeos
nascidos de barrigas diferentes com cinco dias de diferença

PORTLAND,
domingo, 20 de fevereiro de 2011 (ZENIT.org) – Os pequenos Violet e Kieran são gêmeos hoje
com 15 meses. Nasceram com cinco dias de diferença. Com o mesmo material
genético, mas gerados em barrigas diferentes.

Sendo um
caso tão estranho, não existe uma palavra para denominá-lo. Por isso foi
cunhado em inglês o termo twiblings, combinação de twin (gêmeos) e sibling (irmão).
O caso foi recentemente narrado na revista dominical do New York Times.

Melanie
Thernstrom se casou aos 41 anos com Michael Callahan, cinco anos mais jovem, em
Portland (Oregon, Estados Unidos), depois de se graduar em Harvard e ter
construído uma carreira de sucesso.

Apesar da
idade, não queria se privar da experiência de ser mãe. Tentou engravidar
naturalmente, mas não conseguiu. Então tentou seis vezes uma fertilização in
vitro, mas os embriões morriam prematuramente.

A adoção
foi descartada, porque o processo é cada vez mais complicado para mulheres
maiores de 40 anos: “Quando os pais de Michael adotaram sua irmã, em 1970,
abundavam nos Estados Unidos bebês que precisavam de famílias, mas o uso
generalizado de métodos contraceptivos, o aborto e outros fatores diminuíram a
oferta de crianças para adoção”, diz Melaine no artigo do New York Times.

Melanie
decidiu procurar uma doadora de óvulos. Insistiam em ter gêmeos, mas sabiam que
60% deles nascem prematuros e com risco de doenças. Pensaram então em ter dois
filhos com dois anos de diferença, mas a idade de Melanie os fez pensar que
seria melhor alugar duas barrigas, usando os óvulos da doadora e o esperma de
Michael.

Sobre este
assunto, ZENIT consultou o médico ginecologista espanhol Esteban Rodíguez
Martín, porta-voz da associação Ginecologistas pelo Direito de Viver. Ele
afirma que estes procedimentos “fazem parte das consequências da ideologia de
gênero, e são assumidos como dogmas de fé do progresso secularizante”.

“Nestes
casos”, prosseguiu Rodíguez, “os técnicos acham prazer em satisfazer seu desejo
de reconhecimento e de negócio; as ‘locadoras’, com a desculpa de um falso
altruísmo pelo qual serão pagas; os arrendatários, ao satisfazerem seu desejo
de descendência achando que estão contribuindo para um progresso do qual são
pioneiros, e que redundaria num bem social graças ao que eles acreditam que é
um sacrifício”.

Esteban
afirmou que os únicos sacrificados são “os seres humanos inocentes que foram
fabricados, selecionados e manipulados, comprados e vendidos, em função do
interesse dos que têm o poder de utilizá-los como meio para satisfazer o
instinto animal de prazer-desejo”.

“Doadores”
e “arrendatários”

Melanie
Thernstrom e Michael se encontraram com todas as envolvidas neste procedimento:
a doadora dos óvulos (que embora chamada de “doadora”, comprou um carro zero
com o dinheiro que recebeu), e, por meio de uma agência e uma entrevista, as
duas mulheres que alugaram suas barrigas para gestar as crianças.

Foram
eleitas Melissa Fowler, uma enfermeira então com 30 anos, casada e com dois
filhos, e Fie McWilliams, 34, também casada e com três filhos. Seus respectivos
maridos aprovaram o procedimento e elas explicaram aos filhos que o novo bebê
deveria ser entregue a outra família quando nascesse. Melanie acompanhou as
gravidezes e fez recomendações. Ao nascerem as crianças, as “locadoras” se
comprometeram a amamentá-las com seu leite.

Diferentemente
de muitos casais que preferem romper o vínculo com as mulheres que alugam seus
ventres ou doam os óvulos, eles quiseram conservar o laço com todas as mulheres
que intervieram no nascimento de Violet e Kieran. “Só assim é possível
desmitificar este assunto”, diz o casal.

Esta
decisão desatou uma grande polêmica por causa dos laços afetivos e da crise de
identidade que pode ser gerada nas crianças pelo fato de terem material
genético de uma mulher, terem sido gestadas por outras duas e terem sido
ideadas por uma terceira, que se diz sua mãe e que é a encarregada de sua
educação.

Isto,
segundo o doutor Rodíguez, anula a “especificidade e a individualidade” do ser
humano, que se diferencia de outro ser vivo “por uma qualidade própria,
exclusiva e imaterial, e, portanto, não genômica, que o dota de capacidade
racional, moral e espiritual. Até Sócrates sabia disto”, afirma.

Melanie
acha que, à medida que a tendência se tornar comum, as dúvidas irão se
dissipando. E insiste, no artigo: “Em vinte anos, ninguém vai dizer que teve
um filho graças a uma doação de óvulos. O escândalo agora acontece porque a
situação é nova”.

Sobre o
tema, a instrução Dignitas Personae afirma que a Igreja “considera eticamente
inaceitável a dissociação da procriação do contexto integralmente pessoal do
ato conjugal”, porque a procriação humana “é um ato pessoal do casal
homem-mulher, que não admite nenhum tipo de delegação substitutiva”.

A
fecundação in vitro envolve um grande número de perda de embriões, “além de não
estar em conformidade com o respeito devido à procriação, que não se reduz à
dimensão reprodutiva; contribui para debilitar a consciência do respeito que se
deve a cada ser humano”.

A Dignitas
Personae insiste na legitimidade do desejo do casal de ter um filho e
compreende os sofrimentos da infertilidade, mas observa que esse desejo “não
pode ser anteposto à dignidade que cada vida humana possui, a ponto de
submetê-la a um domínio absoluto”. Enfatiza ainda em que “o desejo de um filho
não pode justificar a ‘produção’ desse filho, assim como o desejo de não ter um
filho já concebido não pode justificar seu abandono ou destruição”. 

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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