Todas as religiões têm a verdade…?

No Consistório dos Cardeais do mundo inteiro, realizado em Roma de 4 a 6 de abril de 1991, o cardeal Josef Tomko, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, apresentou uma nova teoria nascida em ambientes teológicos da Índia e de outros países que distingue entre o Cristo cósmico Logos e Jesus Cristo histórico. O Cristo Logos cósmico “estaria presente em todas as religiões do mundo”, não só no Cristianismo, ao passo que o Cristo histórico só no Cristianismo. Isto leva à conclusão de que não se deveria fazer um esforço missionário de evangelização e catequese dos povos não católicos, mas apenas cuidar da promoção temporal e econômica de todos os povos.

A tese é muito perigosa, pois anula o conceito de verdade e relativiza todas as mensagens religiosas, colocando no mesmo plano o politeísmo, o panteísmo e o monoteísmo, como se todas as religiões fossem boas e igualmente verdadeiras. Tal proposta nega radicalmente o cristianismo, trai Jesus Cristo, e esvazia a missão da Igreja que é evangelizar todos o povos, como Jesus ordenou (Mt 28, 20).

Eis um resumo das colocações do cardeal sobre este perigo: “As consequências sobre a missão são simplesmente devastadoras. A finalidade da evangelização é desviada e reduzida, a necessidade da fé em Jesus Cristo, do batismo e da Igreja, é posta em dúvida. Neste contexto do pluralismo religioso – exclama um teólogo indiano – ainda tem sentido proclamar Cristo como o único Nome em que todos os homens encontram a salvação, a chamar a fazerem-se discípulos mediante o batismo e a entrar na Igreja?”

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A evangelização no sentido global, em que o novo ponto focal é a construção do Reino, ou seja, da nova humanidade, consistiria só no diálogo, na inculturação e na libertação. Estranha mas significativamente, é omitido o anúncio ou proclamação; antes, ela é classificada como propaganda ou proselitismo. A evangelização é reduzida ao diálogo de tipo social ou à promoção econômico-social e à “libertação” das raças com todos os meios, incluída a violência. Sobre a conversão, um teólogo indiano escreve: “A conversão religiosa é o resultado do jacobinismo ocidental e da sua intolerância (…). A conversão nasce do sentido de superioridade de uma religião a respeito de outra, enquanto nenhuma religião tem o monopólio da verdade”.

“O abandono das estações missionárias, das pregações do Evangelho e da catequese, por parte dos missionários, do clero, das religiosas, e a fuga para obras sociais, como também o contínuo falar em sentido redutivo dos “valores do Reino” (justiça, paz) é um fenômeno difundido na Ásia e propagado por alguns centros missionários, também noutros continentes”.

Note que este Jesus histórico teria outras manifestações paralelas e equivalentes, de tal forma que se deveriam equiparar entre si Jesus Cristo, Buda, Maomé, Confúcio, etc., e as religiões seriam caminhos equivalentes entre si dirigidos para o mesmo Deus. Assim, o objetivo do catolicismo não seria reunir todos os povos na Igreja fundada por Jesus Cristo, e entregue a Pedro e seus sucessores (cf. Lumen Gentium nº 14; Decreto Ad Gentes nº 7) mas apenas reunir todos os homens, de qualquer religião, no Reino de Deus. Mas este Reino não seria caracterizado por uma única crença religiosa, um credo católico, mas, por amor, justiça, paz, bem estar da humanidade, libertação dos homens…; logo, o zelo missionário seria condenável como proselitismo e intolerância, e a evangelização se reduziria à promoção econômico-social e à libertação das raças.

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O Reino de Deus não é simplesmente deste mundo, temporal, mas é religioso e transcendental, supõe a pregação religiosa de Jesus Cristo, que não se confunde com a de Buda, Maomé,Confúcio, etc.

A Igreja é o sacramento do Reino, ou é o Reino de Deus iniciado na terra. Fora da Igreja Católica, há sementes de verdade e de bem, que devem ser reconhecidas, como disse o Concílio Vaticano II, mas não a verdade plena, e nem a “plenitude dos meios da salvação”, que só existe na Igreja católica (Unitatis Redintegratio, 3). A pregação missionária tem por objetivo precisamente fazer desabrochar essas sementes de verdade que há fora do Catolicismo, e fazer que todos os homens cheguem ao conhecimento da Verdade revelada por Jesus Cristo e fielmente conservada na sua Igreja (cf. 1 Tm 2,4; Mt 16,16-19; Lc 22,31s;Jo 21,15-17).

Não há como distinguir realmente entre o Logos cósmico e Jesus Cristo (o Jesus da história). O Logos cósmico é a segunda pessoa da Santíssima Trindade, que se fez homem no seio de Maria Virgem, e, como homem, tomou o nome de Jesus. A pregação de Jesus histórico é a mesma do Logos.

Por causa dessas e de outras teorias teológicas perigosas é que a Santa Sé, com aprovação do Papa João Paulo II publicou a Dominus Iesus, que precisa ser estudada.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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