“Teus pecados estão perdoados!”

o-paralitico-do-tanque-de-betesdaConheça algumas lições que podemos tirar para nossa vida da passagem da Cura do Paralítico

São Marcos começa seu Evangelho mostrando a divindade de Jesus, por meio dos seus milagres. Logo no capítulo 2, nos relata o milagre do paralítico deitado numa maca, que quatro amigos o colocaram dentro da casa onde Jesus estava em Cafarnaum, pelo teto, por não conseguirem entrar pela porta, de tanta gente que ali estava.

paraestarmenorVendo “a fé que eles tinham” Jesus disse ao paralítico: “Filho, teus pecados são perdoados”. Os escribas que estavam ali pensaram: “Como Ele pode falar desse modo! Está blasfemando. Só Deus pode perdoar pecados!”. Jesus sabia que eles estavam pensando assim; então, sem se dirigir a eles, disse: “Que é mais fácil dizer ao paralítico – os teus pecados estão perdoados, ou levanta-te, pega a tua maca e anda? Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na Terra o poder de perdoar pecados – disse ao paralítico – eu te digo – levanta-te, pega a tua maca, e vai para casa. O paralítico se levantou e, a vista de todos, saiu carregando a maca. Todos ficaram admirados e louvavam a Deus dizendo – nunca vimos coisa igual” (Mc 2, 1-12).

Pode parecer estranho que os amigos do paralítico tenham feito um esforço enorme para descê-lo até Jesus, pelo teto da casa, para ser curado, e Jesus lhe diga “apenas”: “seus pecados estão perdoados”. Provavelmente, esperavam a cura física do homem, mas Jesus queria mais. O que Jesus quis mostrar? Certamente, que o pecado é a pior realidade humana e causa de todos os males, doenças e morte. Jesus quis dizer que dar o perdão ao paralítico era mais importante que lhe dar a cura física. Que curar a alma é mais importante que curar o corpo. A paralisia imobilizava o corpo, o pecado imobiliza a alma.

Assim nos lembra o Catecismo da Igreja: “Aos olhos da fé, nenhum mal é mais grave que o pecado, e nada tem consequências piores para o próprio pecador, e para a Igreja e para o mundo inteiro” (n. 1489).

Jesus veio a nós para tirar o pecado do mundo, Ele é o “Cordeiro de Deus imolado para tirar o pecado do mundo” (Jo 1,29). Ele não veio para outra coisa. Tudo o que fez e viveu foi em função disso. Terminou Sua Missão dolorosamente na cruz, dizendo ao Pai: “Tudo está consumado!”. Jesus deixou a Sua Igreja para continuar a Sua missão de tirar o pecado do mundo, e ela faz isso pelos Sacramentos que Ele nos deixou, especialmente o Batismo e a Confissão.

Muitos de nossos males têm a sua raiz no pecado, não apenas os nossos pecados, mas também o de toda a humanidade. Por isso, não basta buscar apenas os médicos, psicólogos e psiquiatras para nos curar, mas temos de primeiro, buscar a Confissão, a oração de cura, a Eucaristia, que é “remédio e sustento para a nossa vida”. Sim, devemos recorrer a Medicina; contudo, sem dúvida, haveria muito menos doentes do corpo e da alma, se as pessoas, junto com a medicina dos homens, buscassem a Medicina de Deus.

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Outro ensinamento que esta passagem do Evangelho nos ensina é o amor e a fé daqueles quatro amigos do paralítico. São Marcos escreve que Jesus “vendo a fé deles”, dos quatro, os atendeu. Jesus não perguntou pela fé do paralítico, mas notou a fé dos amigos, e bastou isso. Certamente eles amavam aquele entrevado, e não queriam perder a oportunidade da Presença de Jesus ali, que poderia não se repetir. Então, fizeram algo inusitado, algo que só o amor pode fazer. E Jesus gostou daquele maravilhoso gesto de fé, que certamente deixou muitos admirados. Que lição importante esses quatro nos deixaram! Muitos entrevados no corpo e na alma não conseguem chegar a Jesus; então, temos de levá-los, por amor, ainda que tenhamos de descobrir telhados. Levemos a Jesus, mesmo os que ainda não tem fé, a nossa fé suprirá essa carência deles e eles verão a glória de Deus.

Por fim, Jesus aproveita a ocasião para provar e deixar claro a Sua divindade, através do milagre. Para os judeus, só Deus podia perdoar pecados. E quem se arvorasse a fazer isso era blasfemador. Então, Jesus assume integralmente a Sua divindade. Para não deixar dúvida sobre ela, cura de imediato aquele homem e ordena que vá para casa levando sua maca nas costas. E ele o fez. A prova estava dada. Só Deus tem o poder de fazer aquilo, portanto, Ele podia também perdoar os pecados.

São pelos milagres que Jesus mostra Sua divindade. Infelizmente, há algumas pessoas mal informadas, mesmo na Igreja, que negam alguns milagres de Jesus, como, por exemplo, a multiplicação dos pães, que os evangelistas narraram ao menos em duas ocasiões. Outros chegam a negar até a ressurreição, dando explicações evasivas que contrariam a melhor exegese bíblica, a Tradição da Igreja, os ensinamentos dos santos e dos papas. Jamais algum desses, em dois mil anos de vida da Igreja, negou a veracidade desses milagres. E o nosso Catecismo da Igreja, fala do “milagre da multiplicação dos pães”`, e do seu significado profundo em relação a Eucaristia – “O milagre da multiplicação dos pães, quando o Senhor proferiu a bênção, partiu e distribuiu os pães a seus discípulos para alimentar a multidão, prefigura a superabundância deste único pão de sua Eucaristia. O sinal da água transformada em vinho em Caná já anuncia a hora da glorificação de Jesus. Manifesta a realização da ceia das bodas no Reino do Pai, onde os fiéis beberão o vinho novo, transformado no Sangue de Cristo”(n.1335).cpa_escola_da_fe_ii

Neste milagre maravilhoso, que os discípulos não entenderam, Jesus “tira matéria do nada”, cria do nada, algo que só Deus pode fazer, como fez na Criação do mundo. Para tirar algo “do nada”, é preciso um poder infinito, que só Deus tem. Assim Ele mostrou a Sua divindade, como fez inicialmente nas Bodas de Caná. Sem a Sua divindade, Sua missão não teria valor salvífico e nem Ele seria amado como o Messias. Esconder esses milagres ou esvaziá-los, é trabalhar contra o Reino de Deus.

É uma pena que muitos ainda não creiam na divindade de Jesus, e procurem outros “salvadores”. Nada mais importante podemos fazer por essas pessoas do que mostrar-lhes a divindade de Jesus. Mostrar-lhes que nenhum outro fundador de alguma religião, ressuscitou dos mortos, ressuscitou Lázaro e outros, multiplicou pães, curou leprosos, deu ordens ao vento, ao mar, aos demônios, conhecia os pensamentos dos homens… Ora, trocar Jesus por outros salvadores é uma temeridade.

Também a nós, antes de nos dar a cura física, mesmo pela medicina humana, quer nos dar a cura da alma.

Prof. Felipe Aquino

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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