Soluções fáceis para problemas difíceis

 Muitos erros e sofrimentos de nossos dias, acontecem por querermos dar ‘soluções fáceis para problemas difíceis’, agravando ainda mais os problemas, ao invés de solucioná-los.
Quanto mais difícil é um problema, tanto mais difícil será a sua solução, pois não há solução fácil quando o problema é difícil.
Há sempre duas maneiras de solucionar um problema: a primeira, será fácil, improvisada, rápida, cômoda, egoísta e sem sacrifícios; a segunda, será difícil: demorada, planejada, árdua e dispendiosa. A segunda será eficaz e duradoura; a primeira, inócua e falsa.
Fazendo-se uma análise dos graves problemas que o homem de hoje enfrenta, é fácil observar como ele tem optado pela primeira maneira. Por isso sofre.
É fácil, por exemplo, retirar o pobre da rua; contudo, é difícil retirar a miséria do pobre; promovê-lo, esta é a medida difícil e correta.

É fácil, por exemplo, diminuir o número de comensais em uma mesa; contudo, é difícil aumentar a quantidade de alimentos e repartí-los com amor; porém, esta é a solução certa e eficaz.
É fácil limitar o número de nascimentos, é fácil esterelizar homens e mulheres em massa, é fácil distribuir pílulas e camisinhas; contudo, é difícil implantar uma eficaz e digna paternidade responsável.

É fácil praticar um aborto e eliminar uma vida, mas é difícil aceitar, respeitar, amar e educar um ser humano.
É fácil condenar um criminoso à pena de morte, é difícil reeducá-lo e salvá-lo.
É fácil matar um assassino, linchá-lo até a morte; é difícil matar o crime e salvar o criminoso.
É fácil fazer a guerra, é difícil manter a paz.

É fácil distribuir preservativos e seringas para se evitar a AIDS; é difícil ensinar as pessoas sobre o emprego moral do sexo e o valor da castidade.
É fácil propor o divórcio para um casal em crise; mas é difícil reconciliá-lo no perdão e no amor; mas esta é a verdadeira solução.
É fácil eliminar as crianças delinquentes das ruas, sob o pretexto de se coibir o crime; mas é difícil educar essas crianças e indicar-lhes o sentido da vida.
É fácil e rápido apressar a morte de um paciente terminal, com a eutanásia; mas é difícil respeitar a vida e seu Autor até o último instante.
É fácil fazer discursos políticos, mas é difícil eliminar o déficit público, o empreguismo, o nepotismo, a corrupção e o desperdício que atolam a nação.
É fácil liberar os baixos instintos e paixões; mas é difícil dominá´los para que eles não nos escravizem.
É fácil fazer justiça com as próprias mãos, mas o justo e ético e esperar que ela seja feita pela lei e pelo direito, sob pena de sepultarmos a civilização.
É fácil invadir terras e prédios, sob o pretexto de que há má distribuição de rendas, etc, mas o difícil e correto é promover a reforma agrária, necessária, dentro da lei e da ordem, para que não haja ainda mais violência, luta de classes e injustiça.

Enfim, é fácil dar uma solução cômoda, rápida, inócua para um problema; mas é difícil, árduo e demorado, dar uma solução eficaz para o mal.
A Igreja Católica, e o Papa, serão sempre muito criticados e incompreendidos porque as soluções que propõem para os graves problemas da humanidade, são difíceis, assim como o são os seus males. Mas são soluções eficazes.

Quando, por exemplo, Martinho Lutero, com suas amarguras e orgulho, precipitou a revolução protestante, e causou um furacão dentro da Igreja, esta foi sábia e soube realizar um Concílio, o de Trento, que durou 18 longos anos (1545-1563), para examinar cada ponto que fora questionado. Isto é prudência; isto é uma solução séria para um problema muito sério. Os frutos desse Concílio foram enormes, até hoje. Dele surgiu o Catecismo Romano, o primeiro da Igreja, que só agora, depois de 430 anos, é substituído pelo Catecismo da Igreja Católica, outorgado pelo Papa João Paulo II.
As soluções sérias são eficazes e duradouras; geradas no sofrimento, na oração, na paciência, nas lágrimas, no diálogo, na compreensão,etc.

Quando João XXIII quis renovar a Igreja, fazer o seu ´aggiornamento´, não convocou apenas alguns poucos cardeais, para durante alguns poucos dias tratar do assunto. Não! Ele convocou todos os 2.600 Bispos do mundo todo, durante três anos seguidos (1962-1965), no Concílio Vaticano II, pára, demorada e exaustivamente, sob a luz do Espírito de Cristo, com muita oração, estudo, trabalho, diálogo, analisar a questão. Por isso, hoje, após mais de trinta anos, o Concílio Vaticano II continua a dar os seus frutos, e os dará ainda por muitos anos. Uma solução eficaz! A pressa é inimiga da perfeição, diz o ditado popular.

Precisamos aprender com a sabedoria chinesa que diz:
‘Se queres colher por um ano, semeia o grão. Se queres colher por dez anos, planta uma árvore. Se queres colher por cem anos, educa o povo’.
Não há solução fácil para problema difícil.
Toda vez que agirmos desta maneira, além de não resolvermos o problema, o agravaremos ainda mais.
Esta é a pior tendência do homem moderno; querer resolver todos os problemas de maneira rápida, com solução imediatista, atropelando o tempo, a moral, os costumes, a fé, e o próprio Deus. Por fim se dá conta de que correu em vão.
Há um provérbio que ensina:
‘Tudo que fazemos sem contar com o tempo, ele se incumbe de destruir’.
E o poeta já dizia: ‘gado, a gente tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente!
Acostumados a lidar com as ‘coisas’, a técnica e as máquinas, o homem de hoje se esquece que ele é dotado de uma alma imortal, com um fim transcendente em Deus. O Papa João Paulo II tem nos ensinado que as soluções propostas por Cristo, para os graves problemas da humanidade, são difíceis, mas jamais decepcionam.
O Mestre continua a nos dizer:
‘Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição…
Estreita porém é a porta e apertado o caminho da vida’ (Mt 7,13-14).


Prof Felipe Aquino

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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