Sínodo dos Bispos: Assembleia especial para a América – Parte 4

Capítulo
II: A eclesiologia da comunhão no Concílio Ecumênico Vaticano II

Os
fundamentos eclesiológicos: fé, sacramentos e missão

31. A eclesiologia da comunhão é um conceito
central e fundamental dos documentos do Concílio Ecumênico Vaticano II,(49)
fato que se pode facilmente constatar lendo as quatro constituições
conciliares: sobre a Igreja (Lumen gentium), sobre a divina Revelação (Dei
Verbum), sobre a Sagrada Liturgia (Sacrosanctum concilium) e sobre a Igreja no
mundo de hoje (Gaudium et spes).

A
constituição dogmática Dei Verbum apresenta a revelação como a obra salvífica
de Jesus, que convida através das palavras e dos gestos a se abrir à comunhão
com Deus e com os outros homens.(50) A constituição dogmática Lumen gentium
descreve a Igreja como sacramento universal de salvação, ou seja, como sinal e
instrumento de comunhão com Deus e entre os homens.(51) A constituição
Sacrosanctum concilium ensina como, durante sua peregrinação terrena rumo à
plenitude do Reino, a Igreja encontra a fonte e o cume da sua vida eclesial na
celebração da Eucaristia, memorial do mistério pascal de Jesus Cristo.(52)
Finalmente, a constituição Gaudium et spes descreve a contribuição específica
que a Igreja pode oferecer à sociedade em favor da unidade do gênero humano,
dando testemunho da comunhão em Cristo, que é a razão última da unidade na
Igreja.(53)

32. Falando
do papel especial que têm os Bispos na missão evangelizadora da Igreja e na
construção da unidade, o Concílio Ecumênico Vaticano II aponta os elementos
essenciais da comunhão eclesial nos seguintes termos: “Jesus Cristo quer
que seu povo cresça, sob a ação do Espírito Santo, através da fiel pregação do
Evangelho e da administração dos sacramentos, e mediante um governo amoroso,
realizado pelos Apóstolos e seus sucessores – os Bispos – e o sucessor de Pedro
como chefe. E Ele próprio, através de tudo isso e por obra do mesmo Espírito,
realiza a comunhão na unidade: na confissão de uma única fé, na comum
celebração do culto divino e na fraterna concórdia da família de
Deus”.(54) Portanto, os traços essenciais da comunhão na Igreja são: a
confissão de uma mesma fé, a celebração do culto e a concórdia fraterna na vida
da comunidade eclesial, tanto ad intra, isto é em sua unidade interna, como ad
extra, no esforço missionário de evangelizar o mundo.

33. O
questionário aos Lineamenta não incluía uma pergunta sobre a visão da Igreja
como mistério de comunhão; perguntava-se, no entanto, sobre a situação concreta
da Igreja na América: quais são os fatores que produzem divisões no âmbito
eclesial (pergunta n· 4) e como foi acolhida a eclesiologia da comunhão
proposta pelo Concílio Vaticano II (pergunta n· 5). Por este motivo, as
respostas têm um tom mais informativo, que descreve a situação atual da Igreja
na América. No entanto, é claro que as respostas pressupõem uma eclesiologia de
comunhão ao descrever os diversos aspectos da vida eclesial (catequese,
liturgia, testemunho cristão, etc.) e que tal concepção eclesiológica se baseia
na fé, nos sacramentos e em um espírito comunitário, que anima a vida interna e
o impulso missionário da Igreja. Levando em conta este postulado fundamental,
emerge também claramente das respostas que a comunhão requer a ativa
participação de todos os fiéis, segundo a variedade dos próprios carismas e
ministérios. Neste sentido, assinala-se que a participação em vista da comunhão
é um dos mais preciosos frutos da recepção do Concílio Ecumênico Vaticano II na
América.

A comunhão
da Igreja Católica na América

34. A América é um continente no qual a
maioria dos seus habitantes é de religião católica.(55) No entanto, a comunhão
na mesma Igreja Católica, em todo o Continente, está marcada por uma série de
fatores geográficos, históricos e culturais que a condicionam e a qualificam.
Assim, muitas respostas aos Lineamenta indicam diferenças substanciais entre as
realidades eclesiais da América Latina e do resto do Continente, mas, por outra
parte, advertem que não seria lógico caracterizar simplesmente as grandes áreas
geográficas em base às diferenças, sem levar em consideração certos matizes que
podem resultar decisivos para a compreensão da realidade global. Por exemplo, a
presença de imigrantes latino-americanos em algumas áreas do Norte cria uma
certa semelhança entre as comunidades eclesiais desta região e as do Centro, do
Caribe e do Sul do Continente. Além disso, em cada país e em cada igreja local
existe uma variedade de matizes étnicos, culturais, históricos e sociais que,
longe de impedir a unidade na fé, nos sacramentos e na vida em comum, enriquece
realmente a comunhão, tornando-a mais dinâmica e vivaz.

35. Muitas
respostas aos Lineamenta indicam que a vida das Igrejas particulares, em cada
um dos países do Continente, é influenciada não somente pela diversidade de
origens étnicas dos membros das mesmas comunidades, mas também pelas
específicas circunstâncias históricas, culturais e econômicas. Na América
Latina a comunhão eclesial foi influenciada, muitas vezes, por um contexto
social muito complexo, que deu como resultado o nascimento das comunidades
eclesiais de base e da teologia da libertação.(56) No restante da América, em
câmbio, a experiência da comunhão eclesial, às vezes, foi influenciada pela
tradição civil da democracia, provocando em alguns fiéis que, com sã intenção
desejavam participar da vida da Igreja, a tentação de construir a comunidade
eclesial com os mesmos critérios da comunidade civil (direito à dissidência, a
vontade da maioria como elemento decisivo nas questões governativas e sociais,
etc.). Em resposta ao questionário dos Lineamenta, indica-se criticamente que
tal concepção não leva na devida consideração o fato de que a Igreja, enquanto
mistério de comunhão, implica fundamentalmente a dimensão vertical (comunhão
com Deus) além da dimensão horizontal (comunhão entre os homens). É
precisamente a primeira dimensão que distingue a Igreja de qualquer outra
instituição humana e que torna possível a dimensão da comunhão entre as
pessoas, em um sentido autenticamente cristão. Com efeito, a Igreja é um povo
cuja unidade se fundamenta na unidade do mistério trinitário: o mesmo Espírito,
que abraça a única e indivisa Trindade, uniu indissoluvelmente a carne humana
ao Filho de Deus e é o inesgotável manancial do qual brota, sem cessar, a
comunhão na Igreja e a comunhão da Igreja.(57)

36. A Assembléia Especial para a América
do Sínodo dos Bispos oferece uma oportunidade de incalculável valor, pois nela
se encontram os Pastores do Povo de Deus provenientes das Igrejas que pertencem
a duas partes do Continente certamente significativas: o norte e o sul. Com
efeito, nestas duas grandes áreas – não somente geográficas mas também
socioculturais – manifesta-se a grande divisão que caracteriza a situação do
mundo no final do segundo milênio, ou seja, a tensão entre os hemisférios norte
e sul. À luz de uma eclesiologia de comunhão, aparece claro que a Assembléia
sinodal pode ser um sinal eficaz e um instrumento da união de todos os membros
do Povo de Deus e das Igrejas locais do Continente, em comunhão com o Pastor
Universal e, ao mesmo tempo, um válido testemunho de unidade e de solidariedade
para a sociedade civil na América e para o mundo inteiro.

A
influência e a recepção do Concílio Vaticano II

37. As
respostas aos Lineamenta são unânimes em reconhecer que o Concílio Ecumênico
Vaticano II marcou profundamente não somente a vida litúrgica e comunitária das
Igrejas particulares, mas também o modo de pensar dos católicos acerca da
Igreja e sobre o papel que eles mesmos nela desempenham. Todos os membros do
Povo de Deus foram influenciados positivamente pelo Concílio:

Bispos: uma
das realidades emergentes de maior importância é a instituição das Conferências
Episcopais, que constituem uma ocasião privilegiada para viver ricas
experiências de colegialidade entre os Pastores de um mesmo país. Também a
comunhão colegial entre os Bispos de dioceses sufragâneas e o respectivo
Arcebispo Metropolitano ajuda eficazmente uma adequada coordenação e uma
uniformidade dos critérios pastorais, que é um sinal positivo de unidade
eclesial. Sacerdotes e diáconos: em diversas dioceses constatam-se positivas
iniciativas de comunhão dos sacerdotes e diáconos entre si e com o Bispo, para
servir melhor o Povo de Deus a eles confiado (Conselhos Pastorais diocesanos,
Decanatos pastorais, reuniões de clero, etc.).

Leigos:
atualmente, muitos leigos concebem a comunhão eclesial como um grande dom do
Espírito Santo, que eles são chamados a acolher com gratidão e a viver com
profundo sentido de responsabilidade.(58) Muitas são as maneiras indicadas
pelas respostas aos Lineamenta, através das quais se realiza a comunhão dos
leigos nas Igrejas locais na América: participação em diversas comissões e
organismos em nível diocesano e paroquial, colaboração no planejamento da
liturgia, no ensino do catecismo, nas atividades missionárias, na elaboração de
programas paroquiais e diocesanos de pastoral, etc.

A vida
consagrada: através das respostas aos Lineamenta percebe-se uma ativa e
crescente participação dos homens e mulheres consagrados na vida das Igrejas
particulares, dando um testemunho de comunhão e de serviço.(59) Como fruto da
IX Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, sobre o tema da vida
consagrada, em muitas partes do continente estão sendo postas em prática novas
estruturas de diálogo e de colaboração para incentivar a cooperação entre os
Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica entre si e com
o Bispo diocesano.

Além das
diversas vocações ao interno do Povo de Deus, mencionadas precedentemente, nas
respostas aos Lineamenta realça-se a influência positiva do Concílio Ecumênico
Vaticano II e do Magistério pós-conciliar em outros grupos, que desempenham um
papel ativo na construção da comunhão eclesial: a) as mulheres, cuja função é
cada vez mais importante na vida da Igreja, cobrindo necessidades
pastorais;(60) b) os jovens, cuja atenção pastoral assume o caráter de uma
verdadeira prioridade, que pode ser o objeto de colaboração entre os Pastores
de todo o Continente; c) a família como igreja doméstica e primeira escola de
fé e de comunhão cristã.

Capítulo
III: Dificuldades para a comunhão inter-eclesial

Fatores de
divisão

38. Antes
de tudo, é necessário indicar que muitas respostas aos Lineamenta assinalam a
existência de um sentido de unidade e de colaboração entre Bispos, sacerdotes,
consagrados e consagrados, movimentos eclesiais e leigos, que prevalece como um
traço característico das Igrejas locais e que é mais forte do que os elementos
que causam tensões.(61) Não obstante, isto não significa que não existam
fatores de divisão, por exemplo:

uma falta
de conversão, que se manifesta em atitudes como: autoritarismo, clericalismo,
anticlericalismo, recusa da autoridade na Igreja, individualismo; uma falta de
diálogo como conseqüência de uma incapacidade, por parte de certos membros do
Povo de Deus, de trabalhar em equipe; uma escassez de planos pastorais de
conjunto, que se traduz em uma falta de uniformidade nos critérios a serem
seguidos na ação evangelizadora; a escassa participação efetiva dos leigos em
alguns âmbitos da vida eclesial; a existência de alguns modos de conceber a
vida da Igreja, que não aceitam plenamente a eclesiologia de comunhão do
Concílio Vaticano II; a falta de formação em uma teologia da comunhão e da
solidariedade pastoral entre os diversos membros do Povo de Deus: Bispos,
sacerdotes, consagrados e consagradas, movimentos eclesiais e leigos;
insuficiente colaboração por parte de certos movimentos eclesiais, para
trabalhar em comunhão com as estruturas pastorais diocesanas;diversidade de
posições no aspecto econômico, tanto no que se refere aos emolumentos que se
cobram por ocasião da administração dos sacramentos, como no que diz respeito
às diferenças criadas por uma desigualdade de critérios sobre a manutenção do
clero;

polarização
ideológica de alguns membros da Igreja, com freqüência etiquetada em termos de
tradicionalismo ou progressismo, que encontra muitos pontos de conflito em
temas como a  justiça social, a teologia moral, a liturgia, etc; atitudes
contestadoras com relação a certos temas sobre os quais o Magistério se definiu
expressamente e, no entanto, alguns membros do Povo de Deus insistem sobre as
próprias ideias, criando forte contraste: a ordenação sacerdotal da mulher, o
celibato sacerdotal, a indissolubilidade do vínculo matrimonial, etc.

Finalmente,
percebe-se nas respostas que, por detrás das tensões anteriormente mencionadas
e na base das mesmas, existem implícitas concepções do mistério de Jesus
Cristo, que se traduzem em outros tantos enfoques do mistério da Igreja e da
programação da ação pastoral. Com efeito, dada a íntima relação que existe
entre o mistério de Cristo e a natureza da Igreja,(62) não é difícil
compreender que um desequilíbrio na cristologia facilmente se traduz em uma
eclesiologia incompleta, a qual, por sua vez, se reflete em uma práxis
pastoral, cujos critérios de fundo tendem a se identificar não tanto com o
Evangelho e sim com correntes ideológicas alheias ao mesmo. Daí a importância
de um anúncio completo do mistério de Cristo, baseado nos critérios objetivos
da revelação e da fidelidade ao Magistério da Igreja

Passos para
superar as divisões

39. As
respostas aos Lineamenta indicam a necessidade de se promover estruturas
eclesiais e

atitudes
pessoais que facilitem o diálogo, para poder superar os obstáculos que impedem
a comunhão na Igreja. Muitas são as sugestões de se fomentar a programação de
uma pastoral de conjunto, através de planos nacionais, diocesanos e paroquiais.
Para isso, indica-se a conveniência de se criar uma mentalidade aberta para
aceitar a colaboração de todos os membros do Povo de Deus, especialmente dos
leigos que, com seus próprios carismas e ministérios, podem enriquecer o
diálogo e a reflexão pastoral.

Indica-se,
com freqüência, que, na base das divisões dentro da Igreja, existe o problema
da conduta pessoal dos membros envolvidos nestas tensões. Neste sentido,
menciona-se o papel importante que certas atitudes podem desempenhar na
construção da unidade, como, por exemplo: a oração pessoal e comunitária para
pedir os dons do Espírito Santo, a disposição interior para uma conversão
contínua orientada a uma busca da verdade e a uma vivência da caridade, a
disponibilidade para participar de atividades comunitárias em todos os níveis, o
respeito e a paciência para compreender as posições dos demais, a honestidade
de expor claramente as próprias idéias e de aceitar as críticas que refletem
outros pontos de vista, etc.

40. Outra
sugestão para superar as tensões em nível global em toda a Igreja na América,
que se evidencia como opinião comum nas respostas ao questionário, consiste na
promoção de maior contato, comunicação e colaboração entre as Igrejas
particulares do Continente, que se encontram nas diversas regiões e países.
Nesta linha de ação já se realizaram, por exemplo, diversos Encontros
Internacionais de Bispos, dos quais participaram representantes das
Conferências Episcopais da América Latina, do C.E.L.A.M. (Conselho Episcopal
Latino-americano), da Conferência Nacional de Bispos Católicos dos Estados
Unidos da América e da Conferência Canadense de BisposCatólicos. Tais reuniões,
como também as Conferências Gerais do Episcopado Latino-americano, constituem
ótimas ocasiões para se viver uma experiência de colegialidade episcopal. Estes
eventos certamente contribuem para reforçar os laços de comunhão na Igreja que
está na América. Outro exemplo que põe em evidência a comunhão intra-eclesial é
o envio de sacerdotes de algumas dioceses a outras igrejas locais com carência
de vocações como missionários, ou ainda para acompanhar pastoralmente os
imigrantes (especialmente os latino-americanos nos Estados Unidos da América e
no Canadá).

Capítulo 4:
A Igreja Católica no contexto religioso da América

Em geral

41. As
respostas ao questionário dos Lineamenta, relativas a este tema, distinguem
três tipos de comunidades religiosas com as quais a Igreja Católica na América
entra em contato: a) as comunidades cristãs com as quais se leva a cabo uma
relação de colaboração ecumênica, a caminho de uma comunhão que se vai
realizando lentamente; b) comunidades não cristãs com as quais é possível
somente um diálogo inter-religioso e c) diversos grupos conhecidos
genericamente como movimentos religiosos e “seitas”.(63) Não é
exagerado dizer que existe, com relação a este aspecto, uma significativa
diferença entre os países nos quais tradicionalmente a maioria dos habitantes
pertence à Igreja Católica e aqueles nos quais os católicos são uma minoria. As
respostas dos países deste último grupo, como os Estados Unidos da América e o
Canadá, caracterizam-se, em geral, por uma apresentação positiva dos contatos
ecumênicos e inter-religiosos. Em contraste, as respostas do primeiro grupo,
isto é, dos países de maioria católica, como os da América Latina, apresentam
menos contatos ecumênicos e inter-religioso. A diferença entre ambas as
realidades encontra uma explicação evidente na diversidade dos contextos
históricos de cada uma das regiões, com relação à respectiva tradição
religiosa. No entanto, tampouco aqui as diferenças devem ser exageradas, já
que, por exemplo, a atividade dos movimentos religiosos e das seitas parece
alcançar proporções alarmantes em todo o território americano, a ponto de
muitos católicos deixarem a Igreja para passar às filas das referidas denominações
religiosas e seitas, ou para seguir os passos da corrente sincretista chamada
habitualmente New Age.

Ecumenismo

42. A realização de significativos
esforços em favor do ecumenismo está ligada, em cada Igreja

particular,
à presença histórica de comunidades cristãs que não estão em plena comunhão com
a

Igreja
Católica, como, por exemplo os Ortodoxos, os Luteranos, os Reformados, os
Metodistas e outras religiões semelhantes, que buscam ativamente superar as
divisões. A regra geral é que naquelas regiões onde estas comunidades não são
numericamente importantes, tampouco se mantêm ativos contatos ecumênicos com a
Igreja Católica. Isto se verifica precisamente em muitas dioceses e
Conferências Episcopais do Sul do Continente, embora isso não significa que ali
não aconteçam iniciativas ecumênicas, inclusive com resultados positivos:
participação em conselhos de igrejas em nível continental e nacional, diálogo
teológico, colaboração no tema dos direitos humanos, oração em comum com os
irmãos separados para pedir a unidade, cooperação no uso de alguns meios de
comunicação e também em atividades caritativas. A estas iniciativas une-se a
inclusão do tema do ecumenismo nos programas de formação nos seminários e
centros catequéticos. Apesar destes resultados positivos, percebe-se a
necessidade de fazer crescer a consciência ecumênica nos fiéis católicas, nas
regiões onde a Igreja Católica é maioria. Por outra parte, menciona-se nas
respostas que muitos cristãos não católicos, nestas regiões, pertencem a
comunidades fundamentalistas e militantes, que são agressivas com respeito à
Igreja Católica e parecem não ter interesse na unidade.

43. Nos
países onde os católicos são tradicionalmente uma minoria, observa-se uma
atividade ecumênica mais intensa, tanto em nível diocesano como paroquial. A
sensibilidade ecumênica é promovida a partir das universidades e faculdades
católicas, como também a partir da catequese. Os membros do Povo de Deus nestas
regiões da América, clero e leigos, participam frequentemente de Conselhos de
Igrejas e de organizações ecumênicas. A Igreja Católica
“co-patrocina” diálogos bilaterais em nível nacional, regional e
local. Observa-se que os contatos com as comunidades cristãs não católicas mais
conservadores e fundamentalistas são mais fluidos quando se trata de colaborar
no campo das atividades em favor da vida, do que quando se tenta um diálogo em
nível teológico. Não obstante, nos últimos tempos, alguns temas relacionados
com a moral sexual e com o papel da mulher têm sido fonte de conflitos entre a
Igreja Católica e outras comunidades cristãs.

Em geral,
em todo o Continente, a atividade ecumênica mais universalmente praticada é a
semana de oração pela unidade dos cristãos. Através destes encontros, cresce e
amadurece o movimento ecumênico, cuja alma se nutre, antes de tudo, da oração e
da conversão. Realizam-se também outras formas de colaboração social e
caritativa, como também o diálogo teológico, mas sem obscurecer o aspecto
fundamental da oração.(64)

Diálogo
inter-religioso

44. No que
diz respeito às relações com as religiões não cristãs, algumas das respostas
provenientes do Sul do Continente mencionam as comunidades judaicas e, em menor
proporção, a comunidade islâmica, como as mais relevantes nesta categoria, embora
a presença de ambas não deixa de ser minoritária. Outras religiões, de origem
asiática, como o Budismo ou o Hinduísmo, encontram-se difundidas menos ainda;
no entanto, essas espiritualidades orientais exercem cada vez mais uma atração,
mesmo em ambientes cristãos, nos quais se impõem como uma espécie de “moda
cultural”.

Ao abordar
este tema, algumas respostas aludem também à propensão de se valorizar certos
elementos das religiões indígenas da América. Estas tendências deram origem à
assim chamada teologia pluralista das religiões, que conecta as intuições
filosóficas e religiosas da Ásia com as do mundo indígena americano.(65)

As
respostas que refletem o estado da situação no Norte do Continente indicam uma
maior proporção de aderentes a religiões não cristãs, especialmente ao judaísmo
e, em menor escala, ao islamismo. Nesta região, a Igreja Católica tem mantido
vários contatos com estas comunidades e as Conferências Episcopais
estabeleceram estruturas para promover encontros inter-religiosos.

Igualmente,
algumas dioceses mantêm excelente diálogo com hebreus e muçulmanos. Uma das
maiores áreas de colaboração é o campo da educação universitária. No presente,
percebe-se que a Igreja Católica e algumas comunidades hebraicas, quando
aliadas em certos valores comuns, têm um considerável peso na sociedade, apesar
de não serem numericamente maioritárias.

Novos
movimentos religiosos e seitas

45. A situação relativa aos novos
movimentos religiosos e às seitas é muito complexa e se apresenta

com
acentuadas variantes segundo os diversos contextos culturais.(66) Entre as
características que mais se realçam merecem ser citados o proselitismo e o
fanatismo religioso. Este problema foi abordado por muitas das respostas à
pergunta n· 8 do questionário dos Lineamenta, nas quais se afirma que essas
duas notas distintivas anteriormente mencionadas opõem-se a qualquer tipo de
diálogo. Com efeito, com tais atitudes se tenta induzir as pessoas a mudar as
próprias convicções religiosas através de certos meios, como, por exemplo:(67)

a crítica e
a ridicularização injusta das igrejas com suas práticas religiosas; o emprego
da violência, sobretudo compulsão moral e pressão psicológica, com o uso de
certas técnicas publicitárias nos meios de comunicação social; a manipulação
indiscriminada do poder político e econômico como meio para ganhar novos
membros para a própria seita ou movimento religioso; o oferecimento explícito
ou implícito de ajuda nos campos da educação, da saúde e da assistência material
e financeira, como meios para obter adeptos; as atitudes e práticas que
exploram as necessidades do povo, a debilidade psicológica ou a carência de
educação, especialmente nas situações de esgotamento ou de desespero, sem
respeitar a liberdade e a dignidade humana.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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