Sexualidade Humana: Verdade e Significado – Parte 2

A castidade
como dom de si

17. A castidade é a afirmação cheia de
alegria de quem sabe viver o dom de si, livre de toda a escravidão egoísta.
Isto supõe que a pessoa tenha aprendido a reparar nos outros, a relacionar-se
com eles respeitando a sua dignidade na diversidade. A pessoa casta não é
centrada em si mesma, nem tem um relacionamento egoísta com as outras pessoas.
A castidade torna harmónica a personalidade, fá-la amadurecer e enche-a de paz
interior. Esta pureza de mente e de corpo ajuda a desenvolver o verdadeiro
respeito de si mesmo e ao mesmo tempo torna capaz de respeitar os outros,
porque faz ver neles pessoas dignas de veneração enquanto criadas à imagem de
Deus e, pela graça, filhos de Deus, novas criaturas em Cristo que « vos chamou
das trevas à sua luz admirável » (1 Ped 2, 9).

O domínio
de si

18. « A
castidade supõe uma aprendizagem do domínio de si, que é uma pedagogia da
liberdade humana. A alternativa é clara: ou o homem comanda as suas paixões e
alcança a paz, ou se deixa comandar por elas e torna-se infeliz ».2 Todas as
pessoas sabem, até por experiência, que a castidade exige que se evitem certos
pensamentos, palavras e acções pecaminosas, como S. Paulo teve o cuidado de
esclarecer e recordar (cf. Rom 1, 18; 6, 12-14; 1 Cor 6, 9-11; 2 Cor 7, 1; Gal 5,
16-23; Ef 4, 17-24; 5, 3-13; Col 3, 5-8; 1 Tess 4, 1-18; 1 Tim 1, 8-11; 4, 12).
Por isso se requere uma capacidade e uma atitude de domínio de si que são sinal
de liberdade interior, de responsabilidade para consigo mesmo e para com os
outros e, ao mesmo tempo, testemunham uma consciência de fé; este domínio de si
comporta tanto o evitar as ocasiões de provocação e de incentivo ao pecado,
como o saber superar os impulsos instintivos da própria natureza.

19. Quando
a família realiza uma obra de válido apoio educativo e encoraja o exercício de
todas as virtudes, a educação para a castidade é facilitada e liberta de conflitos
interiores, mesmo que em certos momentos os jovens possam observar situações de
particular delicadeza.

Para
alguns, que se encontram em ambientes onde se ofende e se deprecia a castidade,
viver de modo casto pode exigir uma luta dura, às vezes heroica. De qualquer
maneira, com a graça de Cristo, que brota do seu amor esponsal pela Igreja,
todos podem viver castamente mesmo que se encontrem em ambientes pouco
favoráveis.

O próprio
facto de todos serem chamados à santidade, como recorda o Concílio Vaticano II,
torna mais fácil de compreender que, tanto no celibato quanto no matrimónio,
possam existir – e até, de facto acontecem a todos, de um modo ou de outro, por
períodos mais breves ou de mais longa duração – situações em que são
indispensáveis actos heroicos de virtude.3 Também a vida matrimonial implica,
por isso, um caminho alegre e exigente de santidade.

A castidade
conjugal

20. « As
pessoas casadas são chamadas a viver a castidade conjugal; as outras praticam a
castidade na continência ».4 Os pais sabem que o pressuposto mais válido para
educar os filhos para o amor casto e para a santidade de vida consiste em viverem
eles mesmos a castidade conjugal. Isto comporta que eles estejam conscientes de
que no seu amor está presente o amor de Deus e, por isso, também a sua doação
sexual deverá ser vivida no respeito de Deus e do Seu desígnio de amor, com
fidelidade, honra e generosidade para com o cônjuge e para com a vida que pode
surgir do seu gesto de amor. Só dessa maneira ela se pode tornar expressão de caridade;5
portanto, o cristão no matrimónio é chamado a viver essa doação dentro da
própria relação pessoal com Deus, como expressão da sua fé e do seu amor para
com Deus e assim com a fidelidade e a generosa fecundidade que caracterizam o
amor divino.6

Só assim
ele responde ao amor de Deus e cumpre a sua vontade, que os mandamentos nos
ajudam a conhecer. Não há um amor legítimo que não seja, no seu mais alto
nível, também amor de Deus. Amar o Senhor implica responder positivamente aos
seus mandamentos: « Se me amardes, observareis os meus mandamentos » (Jo 14,
15).7

21. Para
viver a castidade o homem e a mulher têm necessidade da contínua iluminação do
Espírito Santo. « No centro da espiritualidade conjugal está… a castidade,
não só como virtude moral (formada pelo amor), mas igualmente como virtude
ligada aos dons do Espírito Santo – antes de mais ao dom do respeito por aquilo
que vem de Deus (donum pietatis)… Assim, pois, a ordem interior da
convivência conjugal, que consente que as “manifestações afectivas”
se desenvolvam segundo a sua justa proporção e significado, é fruto não só da
virtude na qual os cônjuges se exercitam, mas também dos dons do Espírito Santo
com que colaboram ».8

Por um
lado, os pais, persuadidos de que a sua própria vida de castidade e o esforço
de testemunharem no dia-a-dia a santidade constituem o pressuposto e a condição
para a sua obra educativa, devem ainda considerar qualquer ataque à virtude e à
castidade dos seus filhos como uma ofensa à própria vida de fé e uma ameaça de
empobrecimento para a sua comunhão de vida e de graça (cf. Ef 6, 12).

A educação
para a castidade

22. A educação dos filhos para a
castidade pretende atingir três objectivos:

a)
conservar na família um clima positivo de amor, de virtude e de respeito pelos
dons de Deus, em particular pelo dom da vida;9 b) ajudar gradualmente os filhos
a compreender o valor da sexualidade e da castidade apoiando o seu crescimento
com o esclarecimento, o exemplo e a oração; c) ajudá-los a compreender e a
descobrir a própria vocação ao matrimónio ou à virgindade consagrada pelo Reino
dos céus em harmonia e no respeito pelas suas atitudes, inclinações e dons do
Espírito.

23. Esta
tarefa pode ser coadjuvada por outros educadores, mas não pode ser substituída
se não por graves razões de incapacidade física ou moral. Sobre este ponto, o
Magistério da Igreja exprimiu-se claramente,10 em relação a todo o processo
educativo dos filhos: « Esta tarefa educacional (dos pais) reveste-se de tanta
importância que, onde quer que falhe, dificilmente poderá ser suprida. É assim
dever dos pais criar um ambiente tal de família, animado pelo amor, pela
dedicação a Deus e aos homens, que favoreça a completa educação pessoal e
social dos filhos. A família é pois a primeira escola de virtudes sociais de
que precisam todas as sociedades ».11 A educação, de facto, compete aos pais
enquanto a obra educadora é continuação da geração e é prolongamento da sua
humanidade12 pela qual se empenharam solenemente no próprio momento da
celebração do seu matrimónio. « Os pais são os primeiros e principais educadores
dos próprios filhos e têm também neste campo uma competência fundamental: são
educadores porque pais.

Eles
partilham a sua missão educadora com outras pessoas e instituições, tais como a
Igreja e o Estado; todavia, isto deve verificar-se sempre na correcta aplicação
do princípio da subsidiariedade. Este implica a legitimidade e mesmo o ónus de
oferecer uma ajuda aos pais, mas encontra no direito prevalecente deles e nas
suas efectivas possibilidades o seu limite intrínseco e intransponível. O princípio
da subsidiariedade põe-se, assim, ao serviço do amor dos pais, indo ao encontro
do bem do núcleo familiar. Na verdade, os pais não são capazes de satisfazer
por si sós a todas as exigências do processo educativo inteiro, especialmente
no que toca à instrução e ao amplo sector da sociabilização. A subsidiariedade
completa assim o amor paterno e materno, confirmando o seu carácter
fundamental, porque qualquer outro participante no processo educativo não pode
operar senão em nome dos pais, com o seu consenso e, em certa medida, até mesmo
por seu encargo ».13

24. Em
particular, a proposta educativa sobre o tema da sexualidade e do amor
verdadeiro, aberto ao dom de si, deve confrontar-se hoje com uma cultura que
está orientada para o positivismo, como recorda o Santo Padre na Carta às
Famílias: « O desenvolvimento da civilização contemporânea está ligado a um
progresso científico-tecnológico que se actua de modo frequentemente
unilateral, apresentando por conseguinte características puramente
positivistas. O positivismo, como se sabe, tem como seus frutos o agnosticismo
no campo teórico e o utilitarismo no campo prático e ético… O utilitarismo é
uma civilização da produção e do desfrutamento, uma civilização das
“coisas” e não das “pessoas”; uma civilização onde as
pessoas se usam como se usam as coisas… Para convencer-se disto, basta
examinar – precisa ainda o Santo Padre – certos programas de educação sexual,
introduzidos nas escolas, não obstante o frequente parecer contrário e até os
protestos de muitos pais ».14

Em tal
contexto é necessário que os pais, tirando proveito do ensinamento da Igreja, e
com o seu apoio, revindiquem a si esta tarefa e, associando-se onde for
necessário ou conveniente, desenvolvam uma acção educativa marcada pelos
verdadeiros valores da pessoa e do amor cristão tomando uma posição clara que
supere o utilitarismo ético. Para que a educação corresponda aos objectivos
exigentes do verdadeiro amor, os pais devem exercê-a na sua responsabilidade
autónoma.

25. Também
em relação à preparação para o matrimónio, o ensinamento da Igreja recorda que
a família deve continuar a ser a protagonista principal em tal obra
educativa.15

Certamente
« as mudanças verificadas no seio de quase todas as sociedades modernas exigem
que não só a família, mas também a sociedade e a Igreja se empenhem no esforço
de preparar adequadamente os jovens para as responsabilidades do seu futuro
».16 É mesmo por isto que adquire ainda mais relevo a tarefa educativa da
família desde os primeiros anos: « A preparação remota tem início desde a
infância, naquela sábia pedagogia familiar, orientada a conduzir as crianças a
descobrir-se a si mesmas como seres dotados de uma rica e complexa psicologia e
de uma personalidade particular com as forças e fragilidades próprias ».17

III – NO
HORIZONTE VOCACIONAL

26. A família exerce um papel decisivo no
desabrochar de todas as vocações e no seu desenvolvimento, como ensinou o
Concílio Vaticano II: « Do matrimónio procede a família, onde nascem os novos
cidadãos da sociedade humana, que pela graça do Espírito Santo se tornam filhos
de Deus no baptismo, para que o Povo de Deus se perpetue no decurso dos tempos.
É necessário que nesta espécie de Igreja doméstica os pais sejam para os filhos
pela palavra e pelo exemplo os primeiros mestres da fé. E favoreçam a vocação
própria a cada qual, especialmente a vocação sagrada ».18 Antes, o sinal de uma
pastoral familiar adequada é o próprio facto de florescerem as vocações: « Onde
existe uma pastoral da família esclarecida e eficaz, como é natural que se
acolha com alegria a vida, assim é mais fácil que ressoe nela a voz de Deus e
essa voz seja mais generosamente escutada ».19

Quer se
trate de vocações ao matrimónio ou à virgindade e ao celibato, são sempre
vocações à santidade. De facto, o documento do Concílio Vaticano II Lumen
Gentium expõe o seu ensinamento acerca do apelo universal à santidade: «
Munidos de tantos e tão salutares meios de salvação, todos os cristãos de
qualquer condição ou estado são chamados pelo Senhor, cada um por seu caminho,
à perfeição da santidade pela qual é perfeito o próprio Pai ».20

1. A vocação ao matrimônio

27. A formação para o verdadeiro amor é a
melhor preparação para a vocação ao matrimónio. Em família, as crianças e os
jovens poderão aprender a viver a sexualidade humana com a densidade e no
contexto de uma vida cristã. As crianças e os jovens podem descobrir
gradualmente que um sólido matrimónio cristão não pode ser considerado o
resultado de conveniências ou de mera atracção sexual. Pelo facto de ser uma vocação,
o matrimónio não pode deixar de envolver uma escolha bem meditada, um empenho
mútuo diante de Deus, e a súplica constante da sua ajuda através da oração.

Chamados ao
amor conjugal

28. Os pais
cristãos, empenhados na tarefa de educar os filhos para o amor, podem fazer
referência, antes de mais, à consciência que têm do seu amor conjugal. Como
recorda a Encíclica Humanae Vitae, esse amor « exprime a sua verdadeira
natureza e nobreza quando se considera na sua fonte suprema, Deus, que é Amor
(cf. 1 Jo 4, 8), “o Pai, do qual toda a paternidade no céu e na terra toma
o nome” (cf. Ef 3, 15). O matrimónio não é, portanto, fruto do acaso ou
produto de forças naturais inconscientes: é uma instituição sapiente e
providente do Criador, para realizar na humanidade o seu desígnio de amor.
Mediante a doação pessoal recíproca que lhes é própria e exclusiva, os esposos
tendem para a comunhão das pessoas, em vista de um aperfeiçoamento mútuo, para
colaborarem com Deus na geração e educação de novas vidas. Para os baptizados,
porém, o matrimónio reveste a dignidade de sinal sacramental da graça, enquanto
representa a união de Cristo e da Igreja ».21

A Carta às
Famílias do Santo Padre lembra que « a família é… uma comunidade de pessoas,
para quem o modo próprio de existirem e viverem juntas é a comunhão: communio
personarum »;22 e, remetendo-se ao ensinamento do Concílio Vaticano II, o Santo
Padre recorda que tal comunhão comporta « alguma semelhança entre a união das
Pessoas divinas e a união dos filhos de Deus na verdade e na caridade ».23 «
Esta formulação, particularmente rica e sugestiva, confirma sobretudo o que
decide a identidade íntima de cada homem e de cada mulher. Tal identidade
consiste na capacidade de viver na verdade e no amor; melhor ainda, consiste na
necessidade da verdade e do amor qual dimensão constitutiva da vida da pessoa.
Essa necessidade de verdade e de amor abre o homem quer a Deus quer às
criaturas: abre-o às outras pessoas, à vida “em comunhão”, em
particular, ao matrimónio e à família ».24

29. O amor
conjugal, segundo o que afirma a Encíclica Humanae Vitae, tem quatro
características: é amor humano (sensível e espiritual), é amor total, fiel e fecundo.25

Estas
características fundamentam-se no facto de que « o homem e a mulher no
matrimónio se unem entre si tão firmemente que se tornam – segundo as palavras
do Livro do Génesis – “uma só carne” (Gen 2, 24). Homem e mulher por
constituição física, os dois sujeitos humanos, apesar de somaticamente
diferentes, participam de modo igual da capacidade de viver “na verdade e
no amor”. Esta capacidade, característica do ser humano enquanto pessoa,
tem uma dimensão conjuntamente espiritual e corpórea… A família que daí
deriva, obtém a sua solidez interior da aliança entre os cônjuges, que Cristo
elevou a Sacramento. Ela recebe a própria índole comunitária, ou melhor, as
suas características de “comunhão”, daquela comunhão fundamental dos
cônjuges que se prolonga nos filhos. “Estais dispostos a receber
amorosamente da mão de Deus os filhos e a educá-los…?” – pergunta o
celebrante durante o rito do matrimónio. A resposta dos noivos corresponde à
mais íntima verdade do amor que os une ».26 E com a mesma fórmula da celebração
do matrimónio os esposos se empenham e prometem « ser fiéis sempre »27 mesmo
porque a fidelidade dos esposos deriva desta comunhão de pessoas que se firma
no projecto do Criador, no Amor Trinitário e no Sacramento que exprime a união
fiel de Cristo com a Igreja.

30. O
matrimónio cristão é um sacramento pelo qual a sexualidade é integrada num
caminho de santidade, com um vínculo reforçado na sua indissolúvel unidade: « O
dom do sacramento é, ao mesmo tempo, vocação e dever dos esposos cristãos, para
que permaneçam fiéis um ao outro para sempre, para além de todas as provas e
dificuldades, em generosa obediência à santa vontade do Senhor: “O que
Deus uniu, não o separe o homem” ».28

Os pais
enfrentam uma preocupação actual

31.
Infelizmente hoje, mesmo nas sociedades cristãs, os pais têm motivo para se
preocupar acerca da estabilidade dos futuros matrimónios dos filhos. Devem,
porém, reagir com optimismo, malgrado o aumento de divórcios e a crescente
crise das famílias, empenhando-se a dar aos seus filhos uma profunda formação
cristã que os torne capazes de superar várias dificuldades. Concretamente, o
amor pela castidade, para a qual os ajudarão a formar-se, favorece o mútuo
respeito entre o homem e a mulher e dá capacidade de compaixão, ternura,
tolerância, generosidade e, sobretudo, de espírito de sacrifício, sem o qual
nenhum amor resiste. Os filhos chegarão assim ao matrimónio com aquela
sabedoria realista de que fala S. Paulo, segundo o ensinamento do qual os
esposos devem continuamente ganhar o amor um do outro e cuidar um do outro com
mútua paciência e afecto (cf. 1 Cor 7, 3-6; Ef 5, 21-23).

32.
Mediante esta remota formação à castidade em família, os adolescentes e os
jovens aprendem a viver a sexualidade na dimensão pessoal, recusando qualquer
separação entre a sexualidade e o amor – entendido como doação de si – e o amor
esponsal pela família.

O respeito
dos pais para com a vida e para com o mistério da procriação evitará à criança
e ao jovem a falsa ideia de que as duas dimensões do acto conjugal, unitiva e
procriativa, se possam separar arbitrariamente. A família é reconhecida assim como
parte inseparável da vocação ao matrimónio.

Uma
educação cristã da castidade na família não pode deixar de mencionar a
gravidade moral que comporta a separação da dimensão unitiva e da dimensão
procriativa no âmbito da vida conjugal, o que se realiza sobretudo na
contracepção e na procriação artificial: no primeiro caso, procura-se o prazer
sexual intervindo sobre a expressão do acto conjugal para se evitar a
concepção; no segundo caso, procura-se a concepção substituindo o acto conjugal
por uma técnica. Isto é contrário à verdade do amor conjugal e à plena comunhão
esponsal.

Assim, a
formação dos jovens para a castidade deverá tornar-se uma preparação para a
paternidade e para a maternidade responsáveis, que « dizem respeito
directamente ao momento em que o homem e a mulher, unindo-se “em uma só
carne”, se podem tornar pais. É um momento rico de um valor peculiar seja
pela sua relação inter-pessoal seja pelo seu serviço à vida: eles podem
tornar-se pais – pai e mãe – comunicando a vida a um novo ser humano. As duas
dimensões da união conjugal, a dimensão unitiva e a dimensão procriativa, não
podem ser separadas artificialmente sem ofender a verdade íntima do próprio
acto conjugal ».29

É
necessário também apresentar aos jovens as consequências, cada vez mais graves,
que derivam da separação entre a sexualidade e a procriação quando se chega a
praticar a esterilização e o aborto, ou a seguir a prática da sexualidade mesmo
dissociada do amor conjugal, antes e fora do matrimónio.

Deste
momento educativo que se coloca no desígnio de Deus, na própria estrutura da
sexualidade, na natureza íntima do matrimónio e da família, depende grande
parte da ordem moral e da harmonia conjugal da família e, por isso, dele
depende também o verdadeiro bem da sociedade.

33. Os pais
que exercem o seu direito e dever de formar os filhos para a castidade podem
estar certos de os ajudar na formação de famílias estáveis e unidas antecipando
assim, na medida do possível, as alegrias do Paraíso: « Donde me será dado
expor a felicidade do matrimónio unido pela Igreja, confirmado pela oblação
eucarística, selado pela bênção, que os anjos anunciam e o Pai ratifica?… Os
dois esposos são como irmãos e servem conjuntamente sem divisão quanto ao
espírito, quanto à carne… Neles Cristo se alegra e lhes envia a sua paz; onde
estão dois, aí se encontra Ele também, e onde Ele está já não pode estar o mal
».30

2. A vocação à virgindade e ao celibato

34. A Revelação cristã apresenta as duas
vocações ao amor: o matrimónio e a virgindade. Não é raro que, em algumas
sociedades hodiernas estejam em crise não só o matrimónio e a família, mas
também as vocações ao sacerdócio e à vida religiosa. As duas situações são
inseparáveis: « Quando não se tem apreço pelo matrimónio, não tem lugar a
virgindade consagrada; quando a sexualidade humana não é considerada um grande
valor dado pelo Criador, perde significado a renúncia pelo Reino dos Céus ».31

À
desagregação da família segue-se a falta de vocações; por outro lado, onde os
pais são generosos para acolher a vida, é mais fácil que o sejam também os
filhos quando se trata de a oferecer a Deus: « É preciso que as famílias voltem
a exprimir amor generoso pela vida e se ponham ao seu serviço antes de mais
acolhendo, com sentido de responsabilidade não desligado de serena confiança,
os filhos que o Senhor quiser dar »; e completem este acolhimento não só « com
uma contínua acção educativa, mas também com o devido empenho em ajudar
sobretudo os adolescentes e os jovens a colher a dimensão vocacional de toda a
existência, dentro do plano de Deus… A vida humana adquire plenitude quando
se torna dom de si: um dom que se pode exprimir no matrimónio, na virgindade
consagrada, na dedicação ao próximo por um ideal, na escolha do sacerdócio
ministerial. Os pais servirão verdadeiramente a vida dos seus filhos, se os
ajudarem a fazer da própria existência um dom, respeitando as suas escolhas
maduras e promovendo com alegria cada vocação, mesmo a vocação religiosa e
sacerdotal ».32

Por esta
razão, quando trata da educação sexual na Familiaris Consortio, o Papa João
Paulo II afirma: « Os pais cristãos reservarão uma particular atenção e
cuidado, discernindo os sinais da chamada de Deus, para a educação para a
virgindade, como forma suprema daquele dom de si que constitui o sentido
próprio da sexualidade humana ».33

Os pais e
as vocações sacerdotais e religiosas

35. Os pais
devem por isso alegrar-se se vêem em algum dos filhos os sinais da chamada de
Deus à vocação mais alta da virgindade ou do celibato por amor do Reino dos
Céus. Deverão então adaptar a formação para o amor casto às necessidades
daqueles filhos, encorajando-os no seu caminho até ao momento da entrada no
seminário ou na casa de formação, ou então até ao amadurecimento desta
específica vocação ao dom de si com coração indiviso. Deverão respeitar e
apreciar a liberdade de cada um dos filhos, enc

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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