São José: Patrono da Igreja

O
Papa Pio IX, no dia 8 de dezembro de 1870, declarou o glorioso São José, Padroeiro
da Igreja Católica.  Este mesmo Papa, em
08/12/1854, já tinha proclamado solenemente o dogma da Imaculada Conceição de
Nossa Senhora.

Através
de Decreto da Congregação dos Sagrados Ritos, o Papa atendeu à solicitação do
episcopado do mundo todo, que estava então reunido no Concílio Vaticano I (
08/12/1869 a 20/10/1870), os quais rogaram ao Santo Padre que se dignasse
constituir São José Padroeiro da Igreja Católica.

Assim
se expressou a Sagrada Congregação dos Ritos:

“Assim
como Deus constituira o antigo José, filho do antigo patriarca Jacó, para
presidir em toda a terra do Egito, a fim de conservar o trigo para os povos;
assim, chegada a plenitude dos tempos, estando para enviar à terra o seu
Unigênito Filho para redenção  do mundo,
escolheu outro José, de quem o primeiro era figura; constituiu-o Senhor e
Príncipe de sua casa e de sua possessão, e elegeu-o custódio de seus principais
tesouros.

José
teve, de fato, por esposa a Imaculada Virgem Maria, da qual por virtude do
Espírito Santo, nasceu Nosso Senhor Jesus Cristo, que, junto aos homens,  se dignou 
ser julgado filho  de José, e lhe
foi submisso. E José, não só viu Aquele que tantos reis e profetas desejaram
ver, mas conversou com Ele, estreitou-O 
ao peito  com  paternal 
afeto, beijou-O; e, além disso, com extremoso cuidado, alimentou Aquele
que devia ser nutrição espiritual e alimento de vida eterna para o povo fiel.

Por
esta excelsa dignidade, concedida por Deus a seu fidelíssimo Servo, a Igreja,
após a Virgem Santíssima, sua Esposa, teve sempre em  grande honra e cumulou de louvores o  Beatíssimo 
José, e  nas  angústias lhe implorou a intercessão.  Ora, estando a Igreja, nestes tristíssimos
tempos,  perseguida em toda parte por
inimigos e opressão por tão  graves
calamidades, a ponto de julgarem os ímpios que as portas do abismo prevaleceram
contra Ela, os Bispos de todo o mundo católico, em seu nome e no dos fiéis
confiados a seus cuidados, rogaram ao Sumo Pontífice que se dignasse constituir
São José Padroeiro da Igreja Católica.

Tendo
pois eles, no Sagrado Concílio Ecumênico Vaticano I, renovado com maior
insistência os mesmos pedidos e desejos, o Santo Padre Pio IX, comovido com a
presente e lutuosa condição dos tempos, querendo de modo especial  colocar-se 
a  si mesmo e aos fiéis sob o
poderosíssimo  Patrocínio  do Santo Patriarca José e satisfazer os
desejos dos Bispos, declarou-o solenemente Padroeiro da Igreja Católica.

Elevou
a sua festa, que caí a 19  de  março 
a rito duplo de primeira classe. E, além disso ordenou que esta
declaração, feita com o presente decreto da Sagrada Congregação dos Ritos,
fosse publicado no dia consagrado à Imaculada Virgem Mãe de Deus, Esposa do
castíssimo José”.

Eram,
como sempre, tempos difíceis para a Igreja. O Papa convocara o Concílio
Vaticano I para enfrentar o brado da Revolução Francesa (1789) contra a fé, no
endeusamento da razão e do nacionalismo. O século XIX começou marcado pelo materialismo
racionalista e pelo ateísmo, fora da Igreja; dentro dela as tendências
conciliaristas e de separatismo, que enfraqueciam a autoridade do Papa e a  unidade da Igreja. Mais uma vez a Barca de
Pedro era ameaçada pelas ondas do século. Então a Igreja recomendou-se ao “Pai”
terreno do Senhor. Aquele que cuidara tão bem da Cabeça da Igreja, ainda
Menino, cuidaria também de todo o seu Corpo Místico.

Trinta
anos depois, o Papa Leão XIII, no dia 15/8/1899, assinava a Encíclica “Quanquam
Pluries” sobre São José, nos tempos difíceis da virada do século.

Ouçamos
o Papa:

“Nos
tempos calamitosos, especialmente quando o poder das trevas parece tudo usar em
prejuízo da cristandade, a Igreja costuma 
sempre invocar súplice a Deus, autor e vingador seu, com maior fervor e
perseverança, interpondo também a mediação do Santo, em cujo patrocínio mais
confia  para encontrar socorro, entre os
quais se acha em primeiro lugar a Augusta Virgem Mãe de Deus”.

“Ora,
bem sabeis Veneráveis Irmãos que os tempos presentes  não 
são menos  desastrosos  do 
que  tantos  outros, e tristíssimos,  atravessados 
pela  cristandade.  De 
fato,  vemos perecer em muitos o
princípio de todas as virtudes cristãs, de fé, extinguir-se a caridade,
depravar-se nas idéias e costumes a nova geração, perfeitamente hostilizar-se
por toda a parte a Igreja  de  Jesus Cristo, 
atacar-se  atrozmente o Pontificado,
e com audácia cada vez mais imprudente arrancarem – se os próprios fundamentos
da religião”.

“Nós
propomos… para tornar Deus mais favorável às nossas preces  e 
para  que  Ele, recebendo as súplicas de mais
intercessores, dê mais pronto e amplo socorro à sua Igreja, julgamos sumamente
conveniente que o povo cristão se habitue a invocar com singular devoção e
confiança, juntamente com a Virgem Mãe de Deus, o seu castíssimo esposo São
José: temos motivos particulares para crer que seja isto aceito e agradável à
própria Virgem. E, a respeito desse 
assunto,  do  qual pela primeira vez tratamos em  público, bem conhecemos  que 
a  piedade  do povo cristão não  só 
é  favorável,  mas 
tem  progredido  também por iniciativa  própria; pois 
vemos já gradativamente promovido e estendido o culto de São José por
zelo dos Romanos Pontífices, nas 
épocas  anteriores, universalmente
aumentado e com indubitável incremento nestes últimos tempos, em especial  depois 
que Pio IX, nosso antecessor de feliz memória, declarou às súplicas de
muitos bispos, Padroeiro da Igreja Católica o Santíssimo Patriarca. Não
obstante, por ser muito necessário 
que  seu  culto 
lance  raízes nas instituições
católicas  e nos costumes, queremos que o
povo cristão receba, antes  de tudo,
de  nossa voz e autoridade novo
estímulo”.

Vemos
assim que, nas horas mais difíceis de sua caminhada a Igreja sempre recorre à
Sua Mãe Santíssima, que nunca a desamparou; e, em seguida ao seu esposo
castíssimo São José.

E
Leão XIII explica as razões da grandeza de São José por “ser ele esposo de
Maria e pai adotivo de Jesus”.

“Daí  derivou toda a sua grandeza, graça, santidade
e glória. É certo que a dignidade  de Mãe
de Deus se eleva tão alto que nada existe de mais sublime. Mas, porque entre a
bem-aventurada Virgem e  José
estreitou-se o laço conjugal, não é possível duvidar que da altíssima
dignidade, pela qual a Mãe de Deus é imensamente superior a todas as criaturas,
ele se aproximou  mais que qualquer
outro. Pois o  conúbio é a máxima
sociedade e amizade, à qual se une a comunhão dos  bens. Por essa razão, se Deus deu à Virgem,
como esposo, José, Ele o deu não só para companheiro de vida, testemunha  da virgindade e tutor da honestidade, mas
também para que participasse, por meio do vínculo conjugal, de sua excelsa
grandeza”.

“Assim
ele sobressai entre todos pela augusta dignidade, porque foi, por divina
disposição, Custódio, e aos olhos dos homens, pai do Filho de Deus. Donde se
seguia que o Verbo  de  Deus modestamente  se 
sujeitava   a José, obedecia-lhe,
prestava-lhe honra e reverências devidas pelos filhos a seus pais”.

E
o Papa destaca a missão que Deus confiou a José:

“Ora,
a  casa 
divina  que José, quase com pátrio
poder, governava, era o berço da Igreja nascente.

A
Virgem Santíssima, por ser Mãe de Jesus Cristo, e também Mãe de todos os
cristãos, por Ela  gerados em meio às
atrocíssimas penas do Redentor no Calvário; como Jesus Cristo é, de certo modo
o primogênito dos cristãos, seus irmãos por adoção e redenção.

Daí
resulta ser confiada, de modo especial, ao Beatíssimo Patriarca a multidão dos
cristãos, da qual se compõe a Igreja, isto é, 
a  inúmera  família 
espalhada por todo o mundo e sobre o qual tem, como esposo da Virgem e
pai adotivo de Jesus Cristo, uma 
autoridade paterna.  É pois
conveniente e sumamente  digno  para o 
bem-aventurado  José que, assim
como costumava proteger santamente em todo o evento a família de Nazaré, agora
assista e defenda, com seu celeste patrocínio, a Igreja de Cristo”.

O
Papa Leão XIII fez questão de compor uma Oração a São José pela Santa Igreja, a
seguir transcrita.

Oração a São José

“A
vós, São José, recorremos em nossa tribulação 
e, depois de ter implorado o auxílio de Vossa Santíssima Esposa, cheios
de confiança solicitamos o vosso patrocínio.

Por
esse laço sagrado de caridade, que os uniu à Virgem Imaculada, Mãe de Deus,
pelo amor paternal que tivestes ao Menino Jesus, ardentemente vos suplicamos
que lanceis um olhar benigno  para  a 
herança que Jesus conquistou com seu sangue,e nos socorrais em nossas
necessidades com o vosso auxílio e poder.

Protegei,
ó Guarda providente da Divina Família, a raça eleita de Jesus Cristo.

Afastai
para longe de nós,  ó Pai amantíssimo, a
peste do erro e do vício.

Assisti-nos
do alto do céu, ó nosso fortíssimo sustentáculo, na luta contra o poder das
trevas; assim como outrora salvastes da morte a vida do Menino Jesus, assim
também defendei agora a Santa Igreja de Deus contra as ciladas  de 
seus inimigos e contra toda adversidade.

Amparai
a cada um de nós com o vosso constante patrocínio, a fim de que, a vosso
exemplo, e sustentados com vosso auxílio, possamos viver virtuosamente, morrer
piedosamente e obter no céu a eterna bem-aventurança. Assim seja.

Em
25/07/1920, no 50º aniversário da proclamação do Patriarca São José como
Padroeiro da Igreja Universal, por Pio IX, em 1870, o Papa Bento XV ratificou a
necessidade da devoção a São José.  Assim
se expressou Bento XV:

“Se
considerarmos as hodiernas calamidades que afligem o gênero humano, torna-se
mais evidente ainda a oportunidade de intensificar o tal culto [ a São José] e
difundí-lo ainda mais entre o povo cristão”.

“Nós,
com grande solicitude, lhes  propomos de
modo particular São José,  que o sigam
como guia especial e o honrem como celeste Padroeiro”.

“Assim
florescendo a devoção dos fiéis a São José, aumentará também, como necessária
consequência, o culto à Sagrada Família de Nazaré, da qual foi o augusto Chefe,
jorrando  estas duas devoções
espontaneamente uma da outra. Por São José 
vamos  diretamente a Maria, e por
Maria à fonte de toda a santidade, Jesus Cristo, que consagrou as virtudes
domésticas com a sua obediência a São José e Maria”.

“Nós
portanto, cheios de confiança no patrocínio d’Aquele, a cuja providente
vigilância Deus se comprazeu em confiar a custódia do seu Unigênito Encarnado e
da Virgem Santíssima, vivamente exortamos a todos os Bispos do orbe católico,
para que, em tempos tão  tormentosos  para 
a  Igreja, induzam os fiéis a
implorar com maior empenho, o poderoso auxílio de São José.  E sendo várias as formas aprovadas por esta
Sé Apostólica para venerar o Santo Patriarca, especialmente em todas as
quartas-feiras do ano e do mês inteiro que lhe é consagrado [ março],  queremos que, à instância de cada Bispo,
todas estas devoções sejam praticadas em toda diocese, na medida do possível.

Mas
de modo particular,  por ser Ele
merecidamente considerado como o mais eficaz Protetor dos moribundos, tendo
expirado com a assistência de Jesus e de Maria, os Pastores terão o cuidado de
inculcar e favorecer, com todo o prestígio de sua autoridade, as Pias
Associações instituídas para rogar a São José em favor dos moribundos, como a
da “Boa Morte”, do “Trânsito de São José pelos agonizantes de cada dia”.”

Vemos
assim como a Igreja tem em alta conta a proteção intercessora de São José.  Hoje a Igreja vive os mesmos tempos difíceis
que levaram Pio IX, Leão XIII e Bento XV a invocarem São José com tanta
confiança e necessidade.  Mais do que
antes a fé está ameaçada pelo racionalismo, relativismo moral e religioso,
permissividade sexual, proliferação das seitas, falsas religiões –
especialmente as de origem oriental e a Nova Era . Novamente é preciso invocar
o Patrono da Igreja Universal.

Em
uma aparição a Santa Margarida de Cortona, disse Jesus:

“Filha,
se desejas fazer-me algo agradável, rogo-te não deixeis passar um dia sem
render algum tributo de louvor e de bênção ao meu Pai adotivo São José, porque
me é caríssimo”.

Santo
Afonso de Ligório garantia que todo dom ou privilégio que Deus concedeu a outro
Santo também o concedeu a São José.

São
Francisco de Sales diz que “São José ultrapassou, na pureza, os Anjos da
mais alta hierarquia”.

São
Jerônimo diz que :

“José
mereceu o nome de “Justo”, porque possuia de modo perfeito todas as virtudes”.

De
fato, podemos concluir que, se José foi escolhido para Esposo de Maria, a mais
santa de todas as mulheres, é porque ele era o mais santo de todos os homens.  Se houvesse alguém mais santo que José,
certamente seria este escolhido por Jesus para Esposo de Sua Mãe Maria.

São
Bernardo diz de São José:

“De
sua vocação, considerai a multiplicidade, a excelência, a sublimidade dos dons
sobrenaturais com que foi enriquecido por Deus”.

Os
Santos Padres e Doutores da Igreja concordam em dizer que São José foi
escolhido para esposo de Maria pelo próprio Deus.

O
Papa Pio IX, antes mesmo de proclamar S. José Patrono da Igreja, já dizia :

“É
racional colocar o Corpo Místico do Salvador, a Igreja, sob a poderosa proteção
dAquele que velou sobre Jesus e Maria. 
Os sustentáculos da Igreja nascente, José e Maria, retomem nos corações
o lugar que jamais deveriam ter perdidos, e o mundo será salvo outra vez”.

Se
na terra São José foi o protetor do próprio Menino-Deus, deve ser agora o
Patrono (protetor, defensor, guarda)  do
seu Corpo Místico, a Igreja.

É
eloquente o testemunho de Santa Teresa de Ávila, doutora da Igreja, devotíssima
de São José.  No “Livro da Vida”, sua
autobiografia, ela escreveu :

“Tomei
por advogado e senhor ao glorioso São José e muito me encomendei a ele.
Claramente vi que dessa necessidade, como de outras maiores referentes à honra
e à perda da alma, esse pai e senhor meu salvou-me com maior lucro do que eu
lhe sabia pedir. Não me recordo de lhe haver, até agora, suplicado graça que
tenha deixado de obter. Coisa admirável são os grandes favores que Deus me tem
feito por intermédio desse bem-aventurado santo, e os perigos de que me tem
livrado, tanto do corpo como da alma.  A
outros santos parece o Senhor ter dado graça para socorrer numa determinada
necessidade. Ao glorioso São José tenho experiência de que socorre em todas. O Senhor
quer dar a entender com isso como lhe foi submisso na terra, onde São José,
como  pai 
adotivo,  o  podia mandar, 
assim  no céu atende a todos os
seus pedidos. Por experiência, o mesmo viram 
outras pessoas  a quem eu
aconselhava encomendar-se a ele.  A
todos  quisera  persuadir 
que  fossem devotos desse glorioso
santo, pela experiência que tenho de quantos bens alcança de Deus…De alguns
anos para cá, no dia de sua festa, sempre 
lhe  peço  algum favor especial. Nunca deixei de ser
atendida”.

Este
testemunho de uma grande Santa Doutora da Igreja dispensa comentários, e precisa
ser lido e relido como muita atenção. Próximo de Jesus e de Maria, São José é
Estrela de primeira grandeza no Céu e intercede pela Igreja sem cessar, assim
como, na terra, velava sem se descuidar, do Filho de Deus a ele confiado. Nos
recomendemos todos a ele, todos os dias.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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