São João da Cruz

O ROUXINOL
DO CARMELO

a)
CRONOLOGIA

1542: Nasce en Fontiveros (Ávila), talvez no
dia  24 de junho, filho do casal  Gonzalo de Yepes e Catalina Alvarez.

1548: Vai residir em  Arévalo.

1551: Muda com a família para  Medina del Campo.

1559-63: Cursa humanidades com os
Jesuítas  de Medina.

1563: Veste o 
hábito carmelitano, recebendo o nome de Fr. Juan de San Matias, em
Medina del Campo.

1564-68:Professa os votos e  estuda em Salamanca na Universidade e no  Colégio de San Andrés.

1567: Ordena-se sacerdote  e celebra sua 
Primeira Missa em Medina.

1567: Em setembro se encontra com a Santa Madre
Teresa, que lhe fala sobre o projeto da Reforma da Ordem, também entre os
religiosos.

1568.28.11:Em 
Duruelo começa a  Reforma com o
Pe.  Antonio de Jesús Heredia.

1568-71:Mestre dos noviços  em Duruelo, Mancera e Pastrana.

1569: Abre-se o 
convento de Pastrana e o  Santo
vai para lá, a fim de suavizar a excessiva dureza de sua vida.

1570: A comunidade de Duruelo se transfere para
Mancera

1571: Abril. 
Nomeado Reitor do Colégio de Alcalá.

1572-77:Confessor e Vigário na Encarnação, em
Ávila.

1577:Na noite de 3 para 4 de dezembro é levado
para o cárcere de Toledo, onde ficará até 15 de agosto de 1578.

Outubro. Prior de Calvano (Jaén).

1579: Reitor do colégio de Baeza.

1581: Março. No Capítulo de Alcalá é nomeado
terceiro  Definidor, Provincial e Prior
de Granada.

1583: Maio. Reeleito Prior de Granada.

1585: Maio. Em Lisboa foi  eleito segundo Definidor e em  outubro o nomeiam Vigário Provincial de
Andaluzia.

1586: Faz  a
fundação dos padres em Córdoba, Manchuela 
e  Caravaca.

1587: No 
Capítulo de Valladolid o nomeiam pela terceira vez  Prior de Granada.

1588: Junho. No Primeiro Capítulo Geral celebrado
em  Madrid é nomeado Primeiro Definidor
Geral, Prior de Segóvia e Terceiro Conselheiro de consulta.

1591: Junho. Assiste ao Capítulo Geral em Madri e
terminam todos os seus cargos.

1591.14.12: Morre 
em Ubeda (Jaén), à meia-noite, aos 
49 anos.

1593: Maio. Seu corpo é trasladado para Segóvia.

1618: Primeira edição  de suas obras em Alcalá.

1675.25.1: Beatificado por Clemente X.

1726.27.12: Canonizado por Bento XIII.

1926.24.8: Declarado Doutor Místico da Igreja por
Pio Xl.

1952.21.3:Proclamado patrono dos  poetas espanhóis.

B) RETRATO
DO SANTO

Parece que
não  se conserva nenhum  retrato 
pessoal,  feito a pincel, nenhum
desenho.

Mas se
conservam maravilhosas descrições de muitos que conviveram com ele e
apresentaram depoimentos para o seu processo de beatificação.

Certamente
a mais bela e completa descrição foi-nos deixada pelo Pe. Eliseu dos Mártires,
que conviveu com o santo no Colégio de Baeza. Ele nos diz:

“Tinha
estatura média, dono de rosto sério e venerável, um pouco moreno e de boa
fisionomia; bom no trato e de boa conversação, agradável, homem muito
espiritual que trazia muito proveito para os que o ouviam e com ele se
comunicavam. E isto o fez tão de modo tão especial e singular, que todos que o
procuravam, homens e mulheres, saiam espiritualizados, piedosos e cheios de
virtudes.”

Viveu
intensamente  a oração como trato com
Deus. Todas as questões que lhe eram apresentadas sobre estas questões eram
respondidas com alta sabedoria, deixando àqueles que o consultavam muitos
satisfeitos. 

Foi amigo
da vida em recolhimento e do pouco falar. Seu riso não era muito freqüente. Era
uma pessoa compenetrada.

Quando
Superior, o que foi muitas vezes, quando precisava repreender, o fazia com doce
severidade, exortando com amor paternal, movido por admirável serenidade e seriedade.

 

C)
PINCELADAS DE SANTA TERESA

O padre
Frei João da Cruz é uma das almas mais puras que Deus tem em sua Igreja. Nosso
Senhor lhe infundiu grandes riquezas da sabedoria celeste. 

Ainda
criança, tornou-se grande aos olhos de Deus. Não há frade que não fale bem
dele, porque toda sua  vida foi de grande
penitência. Muito me animou a virtude e o espírito que o Senhor lhe deu. Tem
uma vida farta em oração e um bom entendimento das coisas de Deus.

Todos têm
Frei João da Cruz como santo. 

“Os
ossos daquele pequeno corpo farão milagres. 

D) SUAS
OBRAS

Poucos
falaram dos mistérios sublimes de Deus na alma e da alma em Deus como este
angelical Carmelita de Fontiveros.

Sua prosa e
sua poesia são divinas e, como muito bem disse Menéndez y Pelayo, “não se
podem avaliar com critérios literários, porque o espírito de Deus embelezou-lhe
tudo”.

I. OBRAS
MAIORES:

1. Subida
ao Monte Carmelo: É  sua obra
fundamental. É quase uma única obra com a Noite Escura, começada no Calvário de
Jaén, em 1578, e depois continuada em Baeza e Granada.

2. Noite
Escura da  alma:

A) Livro
primeiro,  Noite passiva do sentido;
consta de 14 cap.

B) Livro
segundo: Noite passiva do espírito, consta de 25 cap.

3. Cântico
Espiritual. É a mais bela obra do santo. 30 estrofes foram escritas no cárcere.
Trata da união com Deus. Consta de 40 estrofes e se divide em três partes.

4. Chama
Viva de Amor. Escrita em Granada entre 
1585 e 1587, em quinze dias. É o livro mais ardente de todos. Consta de
quatro canções com seis versos cada uma.

II. OBRAS
MENORES:

1. Avisos:
Conselhos que dava às  monjas de Beas,
quando era seu Confessor.

2. Cautelas:
Escreveu-as  para as mesmas monjas.

3.Quatro
conselhos  a um religioso.

4. Cartas:
Conservam-se apenas  32 cartas. Devido ao
processo que abriram contra ele, muitas cartas foram destruídas.

5. Poesias:
As principais são as que aparecem nos grandes tratados: Noite Escura, Cântico
Espiritual e Chama.

É sem
dúvida o que melhor se escreveu em espanhol.

 6. DITOS DE LUZ E AMOR: Frases de direção para
suas carmelitas, que o Santo escrevia ocasionalmente.

A obra
sanjuanista – escreveu um ilustre teresianista – se divide em duas partes: “A
ensinar os métodos para se conseguir o vazio dos sentidos e as potências da
alma mediante engenhosas purificações ativas e passivas se ordenam os dois
primeiros tratados de profunda doutrina espiritual e forte  consistência: 
A Subida e a Noite.

Ninguém
cantou melhor os amores divinos que o rouxinol do Carmelo. Algumas poesias
imediatamente inflamam a alma no mesmo amor em que Deus se abrasa. Sobre seu
inspirado lirismo, sobrevoa seu profundo sentido místico.

E) Sua
espiritualidade

Impossível
sintetizar o maravilhoso magistério vivo e ensinado pelo Doutor Místico em tão
breves linhas. O Doutor é a máxima figura mística do Carmelo. À vida ele une a
doutrina e a ciência. A santa vida e a ciência sagrada ou a teologia mística
são uma só realidade, como o provam suas magníficas obras. Pio XI, que lhe deu
o título de Doutor Místico da Igreja, batizou suas obras como “Código e escola
da alma fiel que se propõe a empreender uma vida mais perfeita”.  Aqui seguem algumas observações sobre sua
rica espiritualidade:

O Santo, em
seus escritos, tem sempre presente o fim da vida espiritual, ou seja, Deus,
levar as almas a Deus. E subjetivamente uni-las a ele por amor, quer dizer,
deseja levar a transformação perfeita em Deus por amor o quanto é possível
nesta vida seguindo-se a Jesus Cristo.

Em sua
admirável obra recorda a seus leitores freqüentemente o cume daquele montanha e
deseja que todos a subam. Ela é  a
sublime perfeição à qual os encaminha com suas palavras e exemplos
convincentes.

Seu
raciocínio demonstra que esta subida é necessária porque é um meio
indispensável para se despojar de todas as outras coisas, obstáculos para a
suprema transformação da alma em Deus.

João da
Cruz era um profundo conhecedor do coração humano. Por isso, “como o amor de
Deus e o amor da criatura são opostos, é preciso ir limpando a alma do amor das
criaturas para que a graça a invista e encha de amor divino”.

E tanto
maior será este investimento e plenitude, quanto maior for o vazio da criatura
que acha na alma: “Olvido do que é criado, memória do criador, atenção ao
interior, e estás amando o Amado”.

Ao ensino
os métodos para conseguir este vazio nos sentidos e potências da alma mediante
engenhosas purificações ativas e passivas se ordenam os tratados “Subida ao
Monte Carmelo” e “Noite Escura da Alma”, ambos de profunda doutrina espiritual
e de forte liame lógico

No Cântico
Espiritual e na Chama Viva do Amor, entre metáforas e comparações esplêndidas,
tomadas da natureza, vai-se descortinando pouco a pouco as excelências do amor
divino nas almas desde os graus inferiores aos mais altos do esposamento e
matrimônio espiritual.

Em síntese,
pode-se dizer que a grande originalidade do magistério espiritual sanjuanista e
o segredo de sua vitalidade encontra-se precisamente na íntima relação entre
abnegação e união na vida sobrenatural e, para usar sua terminologia clássica,
entre o nada o tudo, que se fundem um no outro.

São João da
Cruz, o Doutor Místico, influenciou grandemente a espiritualidade cristã.
Alimentou, quando vivo, através de sua direção espiritual e depois de falecido
com seus escritos imortais.

Especialmente
depois que foi declarado Doutor da Igreja Universal em 1926, suas obras são
lidas e citadas por todos os autores espirituais.

Inclusive
nossos irmãos da Igreja Anglicana, da Comunidade de Taizé e da Igreja Ortodoxa
confessam sua predileção pelo carmelita de Fontiveros.

Literatos,
poetas, cientistas e até não-crentes ficam admirados ante a profundidade e a
beleza que brotam dos escritos sanjuanistas.

Sua
mensagem

que
descubramos o tesouro da cruz.

que a
oração e o silêncio nos levem a descobrir a Deus. 

que sejamos
dóceis às inspirações do alto. 

que
saibamos perdoar a todos que nos ofendem.

 

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From Los
Santos Carmelitas by P. Rafael María López-Melús

 

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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