Santo Epifânio

Nasceu na Palestina, bispo de Salomina ( … )

CAMINHO REAL
(Haer. 59, c. 12s: P.G. 41, 1036s)
Há um ´caminho real´, que é a Igreja católica, e uma só senda da verdade. Toda heresia, pelo contrário, tendo deixado uma vez o caminho real, desviando´se para a direita ou a esquerda, e abandonada a si mesmo por algum tempo, cada vez mais se afunda em erros. Em todas elas notamos que a arrogância do erro perdeu a medida.
Eia, pois, servos de Deus e filhos da Igreja santa de Deus, que conheceis a regra segura da fé, não deixeis que vozes estranhas vos apartem dela nem que vos confundam as pretensões das erroneamente chamadas ciências (gnóses). Pois os caminhos de seus representantes são desagregadores e sua falsa ciência é precipício. Vangloriam´se de saber coisas grandes, mas na verdade não conhecem realmente sequer as pequenas. Pregam liberdade, enquanto eles próprios permanecem escravos do pecado.

SÃO PEDRO, PRÍNCIPE DOS APÓSTOLOS
(Haer. 59, c.8: P.G. 42)
Mesmo os que se acovardaram na perseguição, se fizerem penitência perfeita diante do Senhor, chorando em vestes de saco e sobre cinzas, poderão obter de Deus misericórdia. Nada sobra do mal quando há penitência. O Senhor dá acolhida aos que se convertem, como deu a Manassés, Filho de Ezequias, e também a Pedro príncipe dos apóstolos, que antes o renegara. Pedro, na verdade, ficou para nós como a pedra sólida sobre a qual se apóia a fé e sobre a qual está edificada a Igreja. Tendo confessado ser Cristo o Filho do Deus vivo, foi´lhe dado ouvir: ´Sobre esta pedra ´ a da sólida fé – edificarei a minha Igreja´ (Mt 16,18). Ele o confessara explicitamente como Filho verdadeiro, ao dizê – lo Filho do Deus vivo. E é o que também repetimos nós ao refutar as heresias.
O mesmo Pedro nos instruiu, igualmente, a respeito do Espírito Santo, quando disse a ananias: ´Como te tentou Satanás a ponto de mentiras ao Espírito Santo ? Não foi a homens que mentisse, mas a Deus!´ (At 5,3s). Com isso ensinava que o Espírito procede de Deus e não lhe é estranho.
Tornou´se enfim Pedro o alicerce firmíssimo e fundamento da Casa de Deus, quando, após negar a Cristo e cair em si, foi buscado pelo Senhor e por ele honrado com as palavras: ´apascenta as minhas ovelhas, apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas´ (Jo 21,15s). Dizendo isto, o Senhor nos estimulou à conversão, e também a que de novo se edificasse solidamente sobre Pedro aquela fé, a de que ninguém perde a vida e a salvação, neste mundo, quando faz penitência sincera e se corrige de seus pecados.

A DIFERENÇA ENTRE SACERDOTES E BISPOS
(Haer. 75, c. 3s: P.G. 42, 506s)
´Que preferência pode pretender o bispo sobre o presbítero?´ – pergunta o herege Aécio. E diz: ´Em nada se distingue deste. Ambos têm a mesma ordem, a mesma honra, a mesma dignidade. O bispo impõe a mão, mas o mesmo faz o presbítero. O bispo batiza, e também o presbítero. Tanto um como o outro celebram o culto divino; o bispo está sentado no trono, e também o presbítero´. Falando desta maneira. Aécio seduziu a muito que o consideravam seu chefe… No entanto, todos os que raciocinam compreendem claramente que seria suma ignorância afirmar que bispo e presbítero são a mesma coisa. Como seria possível? Pois aquela ordem (dos bispos) é a que gera padres; gera pais para a Igreja; esta, em troca (a dos presbíteros), não podendo gerar pais, gera mediante o renascimento do batismo, filhos, não pais ou mestres para a Igreja. E como haveria de ordenar sacerdotes, não tendo, como nçao têm, a faculdade para a administração da ordem sacerdotal?

É TRADIÇÃO APOSTÓLICA ORAR PELOS DEFUNTOS
(Haer. 75, c. 8: P.G. 42, 514s).
Sobre o rito de ler os nomes dos defuntos (no sacrifício) perguntamos: que há de mais útil? Que há de mais conveniente, de mais proveitoso e mais admirável que todos os presentes creiam viverem ainda os defuntos, não deixarem de existir, e sim existirem ao lado do Senhor? Com isso se professa uma doutrina piedosa: os que oram por seus irmãos defuntos abrigam a esperança (de que vivem), como se apenas casualmente estivessem longe. E sua oração ajuda aos defuntos, mesmo se por ela não fiquem apagadas todas as dívidas… A Igreja deve aguardar este costume, recebido como tradição dos Pais. Pois quem haveria de suprimir o mandato da mãe ou a lei do pai? Conforme o que diz Salomão: ´tu, filho meu, escuta as correções de teu pai, e não rejeites as advertências de tua mãe´. Com isto se ensina que o Pai, o Deus unigênito e o Espírito Santo, tanto por escrito como sem escritura, nos deram doutrinas, e que nossa Mãe, a Igreja, nos legou preceitos, os quais são indissolúveis e definitivos.

OS ÚLTIMOS TEMPOS DA VIRGEM MARIA
(P.G. 42, 714ss)
´Voltando-se o Senhor, viu o discípulo a quem amava´ e lhe disse, a respeito de Maria: ´Eis aí tua Mãe´; e então à Mãe: ´Eis aí teu filho´ (Jo 19,26).
Ora, se Maria tivesse filhos, ou se seu esposo ainda estivesse vivo, por que o Senhor a confiaria a João, ou João a ela? Mas e também por que não confiou a Pedro, a André, a Mateus, a Bartolomeu? Fê´lo a João, por causa de sua virgindade. A ele foi que disse: ´Eis aí tua mãe´.
Não sendo mãe corporal de João, o Senhor queria significar ser ela a mãe ou o princípio da virgindade: dela procedeu a Vida. Nesse intuito dirigiu´se a João, que era estranho, que não era parente, a fim de indicar que sua Mãe devia ser honrada. Dela, na verdade, o Senhor nascera quanto ao corpo: sua encarnação não fora aparente, mas real. E se ela não fosse verdadeiramente sua mãe, aquela de quem recebera a carne, e que o dera à luz, não se preocuparia tanto em recomendá´la como a sempre Virgem. Sendo sua Mãe, não admitia mancha alguma na sua honra e no admirável vaso de seu corpo.
Mas prossegue o Evangelho: ´e a partir daquele momento, o discípulo a levou consigo´.
Ora, se ela tivesse esposo, casa e filhos, iria para o que era seu, não para o alheio.
Temo, porém, que isso de que falamos venha a ser deturpado por alguns, no sentido de que pareça estimulá´los a manter as mulheres que dizem companheiras e diletas – coisa que inventaram com péssima intenção. Com efeito, ali (no caso de João e da Santíssima Virgem) tudo foi disposto por uma providência especial, que tornava a situação desligada das obrigações comuns que, conforme a lei de Deus, se devem observar. Aliás, depois daquele momento em que João a levou consigo, não permaneceu ela longamente em sua casa (2……).
Se alguém julgar que estamos laborando em erro, pode consultar a Sagrada Escritura, onde não achará a morte de Maria, nem se foi morta ou não, se foi sepultada ou não. E quando João partiu para a Ásia, em parte alguma está dito que tenha levado consigo a santa Virgem: sobre isso a Escritura silencia totalmente, o que penso ocorrer por causa da grandeza transcendente do prodígio, a fim de não induzir maior assombro às mentes. Temo falar nisso e procuro impor´me silêncio a este respeito. Porque não sei, na verdade, se se podem achar indicações, ainda que obscuras, sobre a incerta morte da santíssima e muito bem´aventurada Virgem. Pois de um lado temos a palavra, proferida sobre ela: ´uma espada transpassará tua alma, para que sejam revelados os pensamentos de muitos corações´ (Lc 2,35). De outro lado, todavia, lemos no Apocalipse de João (Ap 12), que o dragão avançou contra a mulher, quando dera à luz um varão; e foram dadas a ela asas de águia, de modo a ser transportada para o deserto, onde o dragão não a alcançasse. Isso pode Ter´se realizado nela. Embora eu não o afirme totalmente. Nem digo que tenha ficado imortal nem posso afirmar que tenha morrido. A Sagrada Escritura, transcendendo aqui a capacidade da mente humana, deixa a coisa na incerteza, em atenção ao Vaso exímio e excelente, da sorte que ninguém lhe atribua alguma sordidez própria da carne. Portanto, se ela morreu, não sabemos. E mesmo que tivesse sido sepultada, jamais teve mérito carnal: longe de nós essa blasfêmia ! (5….) Quem ousaria, em furor de loucura, impor esse opróbrio à santa Virgem, erguendo contra ela a voz, abrindo a boca para uma afirmação assim nefanda, ao invés de lhe entoar louvores? Quem iria desonrar assim o Vaso digno de toda honra?
Foi a ela que prefigurou Eva, ao receber o título, um tanto misterioso, de mãe dos vivente (Gn 3,20). Sim, porque o recebeu depois de ter escutado a palavra: ´tu és terra e à terra hás de tornar´, isto é, depois do pecado.
Numa consideração exterior e aparente, dir´se´ia que de Eva derivou a vida de todo o gênero humano, sobre a terra. Mas na verdade é de Maria que deriva a verdadeira vida para o mundo, é ela que dá à luz o Vivente, ela a Mãe dos viventes. Portanto, o título de ´mãe dos viventes´ queria indicar, na sobra e na figura, Maria.
Com efeito, não se aplica, porventura, às duas mulheres aquela palavra: ´quem deu a sabedoria à mulher, quem lhe deu a ciência de tecer? (Jo 18,36).
Eva, a primeira mulher sábia, teceu vestes visíveis para Adão, a quem despojara. Fôra condenada ao trabalho. Já que tinha sido responsável pela nudez dele, precisou confeccionar a veste que cobrisse essa nudez externa, que cobrisse o corpo exposto aos sentidos.
A Maria, porém, coube vestir o cordeiro e ovelha; com cujo esplendor e glória, como se fôra uma lã, foi confeccionada sabiamente para nós uma veste, na virtude de sua imortalidade.
Outra coisa, além disso, pode considerar´se em ambas – Eva e Maria – digna de admiração. Eva trouxe ao gênero humano uma causa de morte, por ela a morte entrou no orbe da terra; Maria trouxe uma causa de vida, por ela a Vida se estendeu a nós. Pois o Filho de Deus veio a este mundo, para que ´onde abundara o delito, superabundasse a graça´ (Rm 5,20). Onde a morte havia chegado, chegou a vida, para tomar seu lugar; e aquele mesmo que nasceu da mulher para ser nossa Vida haveria de expulsar a morte, introduzida pela mulher. Quando ainda virgem, no paraíso, Eva desagradou a Deus, por sua desobediência. Por isso mesmo, emanou da Virgem a obediência própria da graça, depois que se anunciou o advento do Verbo revestido de corpo, o advento da eterna Vida do Céu.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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