Rezar é por-se à disposição de Deus

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Entre os homens que não rezam, ou rezam pouco ou mal, há os que não creem na oração e pensam que outras ocupações os reclamam, mais urgentes e mais úteis; os que lhe atribuem um poder mágico e a “utilizam” para tentar obter a satisfação de seus desejos, mesmo os mais materiais, e há ainda os que bem que queriam rezar, mas pretendem não poder ou não saber fazê-lo.

Em todos esses casos, parece que o homem não situa a oração em seu verdadeiro nível, o de uma ação da fé. Apaixonado pela eficiência – e algumas vezes à sua revelia –pensa a oração em termos de rendimento humano, condena-se a não compreender, e ainda menos a não viver uma vida de autêntica oração. Entretanto, o mundo moderno tem uma imperiosa necessidade de que os homens de técnica sejam também homens de adoração, sem o que a técnica os aprisionará e acabará por esmagá-los.

Certamente você não diz: “não vale mais a pena que eu diga a minha mulher que a amo, porque ela já sabe disso há muito tempo”.

Nem tão pouco: é inútil que eu fale a Deus, ele sabe que o amo.

Certamente também você não costuma dizer: “não tenho mais tempo de ficar com minha esposa, de fazer-lhe carinhos, de beijá-la, mas que importa, é por ela que trabalho”.

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Assim, também não diga: não tenho nenhum minuto livre para rezar, mas não tem importância, ofereço meu trabalho, ele já é uma oração.

O amor reclama atos desinteressados, gratuitos. Se você ama, deve encontrar tempo para amar.

Rezar é parar. Dar tempo a Deus, cada dia, cada semana.

No mundo moderno, o domingo tornou-se o dia que cada um usa como quer, o dia que nos pertence. Todos se esquecem que ele é o dia reservado a Deus.

A noiva que recebe cada vez com menos frequência cartas do seu noivo, bem sabe que seu amor está em perigo.

Se você não se “corresponde” mais com Deus, seu amor está em perigo.

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Se você não reza mais, não reconhecerá nem ouvirá mais Jesus Cristo falar com você em sua vida, pois, para vê-lo e compreendê-lo, é preciso olhá-lo e ouvi-lo em encontros diários.

Rezar é antes de mais nada, voltar-se para Deus. Se você não rezar mais, você se voltará para você mesmo.

Rezar é unir-se a Deus. Se você não reza mais, permanecerá só, e como para o homem e necessário um Deus, você se escolherá a si mesmo como deus.

Se você vive longe de Deus, progressivamente concluirá: vivo bem sem Ele.

Se você vive sem Ele, lentamente o esquecerá.

E se você o esquecer, acabará por crer que Ele não existe.

Aquele que procura sempre obter alguma coisa do ser amado, não é um enamorado, mas um comerciante.

Muitas vezes, sua oração não é senão um comércio com Deus… você quer que ela dê lucro…

Frequentemente, rezar, para você, é pedir. Ora, rezar, antes de tudo, é apresentar-se desinteressadamente diante de Deus: “Pai Nosso, que estais no céu, santificado seja o vosso nome…”

Outras vezes, para você, rezar é receber. Ora, rezar é também oferecer. Oferecer a vida do Mundo, oferecer a própria vida, oferecer-se.

Na oração, se você não procurar obter “alguma coisa”, ao menos você faz questão de registrar alguma satisfação sensível. E, muitas vezes, decepcionado, você abandona seu trabalho: “não vejo resultado algum”, “tenho a impressão de estar falando sozinho”, “não estou sentindo nada”.

Salvo graça especial, você não pode, mesmo, sentir nada na oração. Toda emoção vem dos sentidos. Ora, rezar é pôr-se em presença, em contato com Alguém que não é “sensível”.

Você não poderá rezar com autenticidade, enquanto esperar satisfações sensíveis na oração.

Rezar, muitas vezes é aceitar se aborrecer diante de Deus.

Quando você estiver caindo de cansaço, cheio de responsabilidade e de preocupações, sobrecarregado de trabalho, atrapalhado por um horário incômodo, solicitado de todos os lados pelos outros, obrigue-se a parar e abandonar-se totalmente diante de Deus, aceitar inteiramente a ineficiência humana diante dele, “perder seu tempo” gratuitamente em sua presença.

Isso é realizar um ato de fé, de abandono e de amor, a base da oração.

É preciso querer rezar, e querer rezar já é rezar.

Procure estar na presença de Deus, tente ainda mais, tente durante todo o tempo que você resolveu dar à oração, e não diga nunca: “Não posso rezar”, “não sei rezar”, porque a decisão de recomeçar já é rezar.

De sua parte, a oração vale sobretudo pelo esforço que ela exige de você. Do lado de Deus, pela ação do Espírito em você.

Não sonhe com condições excepcionais para a oração. Não diga: “Se eu tivesse tempo”, “Se eu tivesse sossego”, “Se eu pudesse me isolar!”

Evidentemente, é preciso que você procure as melhores condições exteriores, mas, mesmo que você estivesse no deserto mais absoluto, no íntimo do silêncio mais profundo, o principal obstáculo permaneceria: você mesmo, e o mundo de ideias, de imagens, de sensações, de paixões,… que está dentro de você.

Você se distrai quando reza? O contrário é que seria excepcional. Por que obstinar-se em afugentar as suas distrações? Elas voltarão. Em vez disso, olhe-as de frente, quaisquer que elas sejam: graves preocupações, futilidades ou vulgaridades, ofereça-as a Deus em um gesto de louvor ou de perdão.

Não importam sua situação ou sua condição presente. Deus esperava você. Nunca ninguém está excluído da oração.

Que diria você de um amor cuja expressão dependesse: da facilidade da digestão, do estado de sua sensibilidade, dos múltiplos êxitos ou fracassos humanos que pontilham a vida?

Que sua oração não dependa de suas disposições de momento, mas seja regular.

Deus está sempre presente, ama-o sempre e sempre espera você.

Experimente propor a vários artistas a execução da mesma obra, e as realizações serão bem diferentes.

Observe vários casais, e as expressões de seu amor serão múltiplas.

Assim, as formas de oração variam segundo a cultura, idade, e temperamento. Não despreze nenhuma delas, todas são válidas como meios, mas não esqueça nunca o seu fim comum.

Você peca com todo o seu ser.

Você ama com todo o seu ser.

O certo é que você reze com todo o ser.

Faça rezar seu corpo, sua alma, mas respeite em si a hierarquia dos valores e não dissocie o gesto do espírito.

Os filhos de uma mesma família não podem dar maior prazer aos pais, do que quando se reúnem para homenageá-los.

A oração comunitária é a oração litúrgica (oração pública da Igreja) não são um modo facultativo, mas a expressão normal dos filhos de Deus, vivendo em conjunto o mesmo destino de amor.

Para exprimir o amor, à medida que ele vai se aprofundando, há cada vez menos necessidade de gestos e de palavras e cada vez mais necessidade de silêncio.

Sua oração também se simplificará. Você não rezará menos profundamente se não tiver vontade de falar; ao contrário, você rezará mais, se tiver mais vontade de contemplar simplesmente e de amar silenciosamente.

Muitas vezes você se queixa de não ser atendido, e isso porque inverte os papéis. Você pede a Deus: que ele faça a sua vontade, que ele execute o seu plano, que se ponha ao seu serviço.

Rezar é exatamente o contrário. É pedir a Deus: que se faça a vontade dele, que seja executado o plano dele, que cada um de nós se ponha a seu serviço.

Não se trata de você fazer Deus mudar, de mandar em Deus, mas de você mudar, de se pôr sob sua dependência, sob sua moção.

Se você quiser ouvir música no rádio, é necessário que ele esteja ligado e sintonizado na estação certa.

Se você quiser pôr-se em contato com Deus, é preciso primeiro rezar, isto é, sintonizar com ele e permitir-lhe que lhe transmita sua graça e seu amor.

Nada é belo demais para se oferecer àqueles que amamos. Porque seu amor é infinito, o Pai não pode limitar seu presente às coisas da terra. Ele só dá o Infinito, é a Si mesmo que ele dá.

E é por isso que você não pode pedir a Deus: ganhar na loteria, passar nos exames, conseguir um aumento de salário…senão com a condição de acrescentar: “Se achardes, Senhor, que assim eu amarei mais, a Vós, e a meus irmãos os homens”.

Tenha confiança. Confie sempre. Você sabe que o Pai não pode deixar de querer o seu bem. E também que, se não for bom para você que ele satisfaça o seu desejo, seu amor responderá, mas de modo diferente.

Assista também: A Prática da oração

Como rezar bem? (Lc 11,1-13)

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Deus precisa da sua oração, E ele só pode dar se você lhe pedir, pois ele respeita infinitamente a sua liberdade.

É Ele que, sem cessar, silenciosamente suplica a você. Atenda ao seu Amor.

Você pode fazer crescer o amor humano sobre esta terra.

Você pode mudar o Mundo, transformá-lo profundamente, mas nada poderá fazer se não rezar, porque rezar: é deixar a Vontade de Deus instalar-se progressivamente em você, em lugar da sua; é deixar o Amor de Deus invadir você, em lugar do seu amor-próprio, é, por você, introduzir o plano do Pai e seu Amor todo poderoso, entre os homens.

Rezar sincera e fielmente, é assegurar infalivelmente o seu sucesso e o bom termo do Mundo!

Retirado do livro: “Construir o Homem e o Mundo”. Michel Quoist. Ed. Cléofas.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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