Para que Cassinos?

Volta e meia nossa imprensa
traz comentários, “cartas do leitor”, “estudos”, procurando
demonstrar vantagens para os indivíduos e as comunidades (municípios, estados,
país) com a permissão dos cassinos no Brasil.

Já tivemos essa desgraça
funcionando por aqui. Gostaria de saber quais foram os motivos que levaram
nosso Governo, na época do Governo Dutra, a proibir os cassinos. Certamente,
não será porque tudo ia bem…

Por ocasião da Assembleia do
episcopado nacional em fins de abril do corrente (1998), os Bispos brasileiros
enviaram uma carta aos membros do Senado sobre o Projeto “Leis dos
Cassinos”, a propósito, aliás, da aprovação pela Comissão de Constituição
e Justiça do próprio Senado, em março último.

A defesa desse projeto
baseia-se nos “frutos” que a implantação de cassinos trará: riquezas
e mais riquezas que o jogo propiciará aos jogadores, aumento do número de
empregos, incentivo ao turismo principalmente do exterior…

A propósito, o Senador José
Serra, atual Ministro da Saúde, publicou na “Folha de São Paulo” de
29 de março do corrente (1998) interessante e contundente estudo sobre o título
“O jogo errado” que valeria a pena ser lido por todos os defensores
do projeto de lei. Impossível reeditá-lo no espaço desta coluna.

Com a devida vênia, vamos
pinçar daí algumas informações:

O Senador vai buscar dados
significativos no exemplo norte-americano:

Cada viciado no jogo traz
prejuízos para os cofres públicos. No Estado de Wisconsin, a divida média dos
jogadores compulsivos é de 35 mil dólares.

Cada viciado custa entre dez
e trinta mil dólares em tratamentos, internações e gastos com os sistemas
judiciário e penitenciário. E a produtividade dessas pessoas e a perda de horas
de trabalho? Cada um perde três mil dólares por ano.

Em 1995, afirma o artigo de
Serra, o Estado despendeu cerca de 120 milhões de dólares por causa dos
jogadores. 60% deles já pensaram em suicídio por causa do jogo, sendo que 20%
deles efetivamente pensaram em se matar.

O citado artigo analisa a
situação de outros Estados. Incrível constatar como os prejuízos são enormes em
toda a parte. Em Nevada, onde está o conhecidíssimo Las Vegas, “há o dobro
de casos de suicídio em comparação com o restante do país. Nesse Estado os
índices de abuso e negligência com crianças são os maiores do país e em nenhum
outro Estado americano há tantas mortes por quilômetro dirigido. Sendo o Estado
onde existem mais cassinos, e há mais tempo, nos Estados Unidos, é impossível
deixar de fazer a correlação entre esse fato e aquelas mazelas”.

Um estudo feito em 1990 em
Margland revela que o jogo trouxe um prejuízo de 1,5 bilhões no Estado pela
falta de pagamento dos impostos!

A introdução dos cassinos
fez crescer a criminalidade. “Segundo o Instituto Americano de Seguros nos
Estados Unidos 40% dos crimes de “colarinho branco” têm raízes no
jogo”. Até o comércio local leva prejuízos: o dinheiro é torrado no
cassino, onde também se explora comida e bebida em abundância. Por
isso, casas comerciais fecham as portas…

O que dizer, então, sobre os
prejuízos morais comprovados nas pessoas (ideia do ganho fácil, ambiente de
prostituição, tráfico de droga…), nas crianças e jovens, nas famílias (o mau
exemplo dos pais jogadores, as ausências do lar, o abandono dos filhos…?) A
família, por tantos outros fatores condenáveis, já está como está… Queremos
aumentar as fontes de desajustes, de dissoluções dos lares?

Não sei se não é o caso de
denunciar, como cassinos disfarçados, também tantas loterias (bancadas,
inclusive pelo Estado), bingos “oficializados” e
“sorteios”, aos montes, pela televisão. Com a agravante: levam muitos
pobres a jogarem o que lhes fará falta à mesa… e aos filhos em crescimento…

Em que País vivemos?

É de se lembrar: “pelos
frutos se conhece a árvore”.

– Para que cassinos?

– Para aumentar as
desgraças!
por: D. David Picão (bispo diocesano de Santos/SP)

 

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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