Para as feiticeiras toltecas, útero “escraviza” mulher

Um dos mais intrigantes livros
que fala sobre a mulher e seu corpo foi publicado em 1993 pela editora Record,
no selo Nova Era. Fora de catálogo desde 98, a obra só é encontrada hoje em pouquíssimos
sebos.

“Sonhos Lúcidos” foi escrito pela alemã naturalizada norte-americana
Florinda Donner-Grau, antropóloga e seguidora de Carlos Castaneda (autor do
cult “A Erva do Diabo”).
Como ele, Florinda também foi “engolida” pelo grupo que estudava: os
feiticeiros e feiticeiras toltecas. Em vez de apenas estudar a cultura desse
grupo, para fins de mestrado, ambos acabaram se tornando parte dele.

Segundo o livro, os toltecas viveram numa região que vai do México setentrional
até o norte da América do Sul cerca de 7.000 anos atrás. O auge dessa
civilização teria ocorrido há cerca de 4.500 anos.
Quando os espanhóis chegaram, feiticeiros e feiticeiras foram massacrados em
nome de Cristo, como conta a história. A maioria dos registros desse grupo
tolteca foi exterminado.
Florinda, bem como Castaneda, que teria morrido em 98 (apesar de seu corpo ou
seus restos nunca terem sido encontrados, além de seu atestado de óbito ter
sido falsificado), foram iniciados neste conhecimento, por uma linhagem de
sobreviventes. E também se tornaram feiticeiros.

O útero

A base do conhecimento das feiticeiras era que a mulher foi
“escravizada” e “submetida cultural e emocionalmente” aos
homens, desde os tempos imemoriais, por causa de seu desconhecimento de
“funções mágicas” do útero.

Segundo elas, esse órgão é muito mais misterioso do que
qualquer mulher contemporânea possa imaginar. Gerar filhos seria apenas uma
dessas funções _e, afirmavam, bastante destrutiva para o que chamavam de
“totalidade do corpo energético” feminino.

Traduzindo: as feiticeiras não deveriam nunca ter filhos.
Mais: não deveriam nem sequer manter relações sexuais, uma vez que, com elas,
seus úteros seriam “contaminados” pela energia masculina _altamente
prejudicial para o seu propósito.

E que propósito seria esse?

Encantamentos, mágicas, o dom de se transformar em animais, a capacidade de
voar (fisicamente) ou de permanecer consciente durante os sonhos, bem como
ampliar o leque de percepções visuais e físicas (algo obtido hoje somente com o
uso de drogas) eram algumas das “mágicas” que essas mulheres
pré-colombianas tinham, segundo Florinda.
Uma das mestras da escritora chega a ironizar, no livro, a condição das
mulheres hoje diante das pressões culturais para que casem e tenham filhos.

“Todos os males da mulher foram reduzidos ao que ela
faz com seu útero”, dizia essa mestra (também chamada Florinda, e de quem
a autora herdou seu “nome tolteca”).

Essa mestra-feiticeira citava um sem-número de informações que, hoje, alguns
ginecologistas costumam dizer às suas pacientes nos consultórios, para
tranquilizá-las em seus problemas femininos tradicionais:

“Cólicas vão desaparecer quando você tiver filhos; seu
ciclo menstrual vai se regularizar; você vai dormir melhor; ficará mais
equilibrada; sua pele ficará mais bonita.”

“Fazer sexo e ter filhos se tornou uma espécie de
panacéia universal para todos os problemas da mulher”, dizia a
professora-feiticeira.

Nada mais errado, segundo ela. Para as feiticeiras, ao
reduzir seus problemas ao universo sexual, a mulher (com M maiúsculo) acabou
sendo encurralada e reduzida _energeticamente_ na Terra.

Como eram videntes, com capacidades visuais supostamente
superiores, essas feiticeiras presenciaram relações heterossexuais somente para
observar o que acontecia no “corpo energético” da mulher.

Florinda relata que as feiticeiras viram que, no momento do
sexo, os homens depositam na parede do útero da mulher uma pequena
“bolinha de luz”, que nunca mais sairia de lá.
Essa “bolinha” funcionaria, grosso modo, como uma espécie de parasita
se alimentando da energia mais poderosa da natureza: a uterina, único local
fora do cérebro onde é possível criar, numa interpretação mais profunda dessa
palavra.

Para essa energia masculina (a bolinha) deixar o corpo
feminino, diziam as feiticeiras, seria necessário cerca de sete anos de
abstinência sexual. No entanto, mesmo as mulheres mais decididas tenderiam a
perder essa “batalha”.

“Quando o sétimo ano vai chegando, as mulheres
geralmente estão subindo pelas paredes”, ironizava a mestra Florinda.

Resumindo sua visão: por verem o útero como um órgão
meramente reprodutivo, sem qualquer outra função, e por não se absterem de
sexo, as mulheres teriam sido condenadas à submissão cultural e física até o
final dos tempos.

Soa uma afirmação machista e derrotista, mas lembrem-se que
estamos falando de uma civilização remota, com mais de 7.000 anos, na qual não
havia acesso igualitário às informações entre homens e mulheres.

De qualquer forma, trata-se de uma visão parcial e sui generis de comportamento
e história pré-colombiana, que só pode ser detalhada com a leitura completa da
obra.

Procurada pela reportagem, a editora Record, no Rio,
informou à Folha Online que a empresa não tem mais interesse comercial em
relançar o livro “Sonhos Lúcidos”.RICARDO FELTRIN
(Editor de Cotidiano da Folha Online)

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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