Papa Francisco no Canadá: Discurso à delegação de indígenas no Quebec

Segundo o ACI Digital (29/07/2022), o papa Francisco se reuniu na sexta (29) com um delegação de indígenas em Quebec. A seguir, a íntegra do discurso do papa:

Queridos irmãos e irmãs!

Saúdo-vos cordialmente e agradeço por vos terdes deslocado até aqui, vindos de vários lugares. A vastidão desta terra faz pensar na imensidade do caminho de cura e reconciliação, que estamos a percorrer juntos. De facto, a frase que nos acompanha desde março, desde quando me foram visitar a Roma os delegados indígenas, e que carateriza os momentos da minha visita aqui é Caminhar Juntos: Walking Together / Marcher Ensemble.

Vim ao Canadá como amigo para vos encontrar, para ver, ouvir, aprender e apreciar como vivem as populações indígenas deste país. Não vim como turista. Vim como irmão, para descobrir em primeira mão os frutos bons e maus produzidos pelos membros da família católica local, no decurso dos anos. Vim com espírito penitencial, para vos manifestar o pesar que sinto no coração pelo mal que não poucos católicos vos causaram apoiando políticas opressivas e injustas aplicadas a vós.

Vim como peregrino, com as minhas limitadas possibilidades físicas, para dar novos passos em frente com vocês e para vocês: para que se prossiga na busca da verdade, progrida na promoção de percursos de cura e reconciliação, para que se continue para diante semeando esperança para as futuras gerações de indígenas e não indígenas que desejam viver juntos, fraternalmente, em harmonia.

Mas, já próximo da conclusão desta intensa peregrinação, quero dizer-vos que, se já vinha animado por estes desejos, volto para casa muito mais enriquecido, porque levo no coração o tesouro incomparável feito de pessoas e populações que me marcaram; tesouro de rostos, sorrisos e palavras que permanecem no meu íntimo; de histórias e lugares que não poderei esquecer; de sons, cores e emoções que vibram intensamente dentro de mim. Verdadeiramente posso afirmar que, enquanto vos visitava, as vossas realidades, as realidades indígenas desta terra, visitaram o meu íntimo: entraram em mim e sempre me acompanharão. Ouso dizer – se mo permitis – que de certo modo, agora, também eu me sinto parte da vossa família e disso me sinto honrado.

A recordação da festa de Santa Ana, vivida juntamente com diferentes gerações e tantas famílias indígenas, permanecerá indelével no meu coração. Num mundo que muitas vezes, infelizmente, é individualista, quão precioso é este sentido de família e comunidade tão genuíno entre vós!

E como é importante cultivar bem o vínculo entre os jovens e os idosos, e manter uma relação sadia e harmoniosa com toda a criação!

Queridos amigos, desejo confiar ao Senhor tudo o que vivemos nestes dias e a prossecução do caminho que nos espera à cuidadosa solicitude de quem sabe guardar o que conta na vida.

Penso nas mulheres, particularmente em três delas. Primeiro, em Santa Ana, cuja ternura e proteção pude sentir ao venerá-la juntamente com um povo de Deus que reconhece e honra as avós.

Em segundo lugar, penso na Santa Mãe de Deus: nenhuma criatura merece mais do que Ela ser definida peregrina, porque sempre – também hoje, mesmo agora – está a caminho: a caminho entre Céu e terra, para cuidar de nós por conta de Deus e para nos conduzir pela mão ao seu Filho.

Finalmente, com frequência nestes dias, a minha oração e o meu pensamento detiveram-se numa terceira mulher que nos acompanhou com a sua suave presença e cujos restos mortais se conservam não muito longe daqui: refiro-me a Santa Catarina Tekakwitha. Veneramo-la pela sua vida santa, mas não poderemos pensar que a sua santidade de vida, caraterizada por uma dedicação exemplar à oração e ao trabalho, bem como pela capacidade de suportar com paciência e mansidão tantas provações, tenha sido possível também por certos traços nobres e virtuosos herdados da sua comunidade e do ambiente indígena onde cresceu?

Estas mulheres podem ajudar a unir, voltar a tecer uma reconciliação que garanta os direitos dos mais vulneráveis e saiba olhar a história sem rancores nem esquecimentos. Duas delas, a Santíssima Virgem Maria e Santa Catarina, receberam de Deus um projeto de vida e, sem interpelar homem algum, deram o seu «sim» com coragem.

Estas mulheres teriam podido responder mal a todos aqueles que se opunham àquele projeto, ou então permanecer submissas às normas patriarcais de então e resignar-se, sem lutar pelos sonhos que o próprio Deus imprimira nas suas almas.

Mas não tomaram essa decisão, antes, abriram o caminho com mansidão e firmeza, com palavras proféticas e gestos decisivos, e cumpriram aquilo a que tinham sido chamadas. Que Elas abençoem o nosso caminho comum, intercedam por nós e por esta grande obra de cura e reconciliação tão agradável a Deus. De coração vos abençoo. E peço-vos, por favor, que continueis a rezar por mim. Obrigado!

Fonte: https://www.acidigital.com/noticias/papa-francisco-no-canada-discurso-a-delegacao-de-indigenas-no-quebec-41990

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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