Palavras de um pai ao filho

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Deus manda que os filhos ouçam os conselhos dos seus pais:

“Ouvi, meus filhos, os conselhos de vosso pai, segui-os de tal modo que sejais salvos” (Eclo 3, 2).

Há na Bíblia uma bela página que apresenta os conselhos de um velho pai (Tobit), antes de morrer, a seu filho jovem (Tobias). Vamos meditar nestas sábias palavras. É um exemplo para todos, pais e filhos:

“Ouve, meu filho, as palavras que te vou dizer, e faze que elas sejam em teu coração um sólido fundamento. Quando Deus tiver recebido a minha alma, darás sepultura ao meu corpo. Honrarás tua mãe todos os dias da tua vida, porque te deves lembrar de quantos perigos ela passou por tua causa (Quando te trazia em seu seio). Quando ela, par sua vez, tiver cessado de viver, tu a enterrarás junto de mim”.

“Quanto a ti, conversa sempre em teu coração o pensamento de Deus; guarda-te de consentir jamais no pecado e de negligenciar os preceitos do Senhor, nosso Deus. Pratica a justiça em todos os dias da tua vida, e nunca andes pelos caminhos da iniquidade. Porque os homens retos triunfam em todos os seus trabalhos, assim como as pessoas honestas”.

“Dá esmolas dos teus bens, e não te desvies de nenhum pobre, pois assim fazendo, Deus tampouco se desviará de ti. Sê misericordioso segundo as tuas posses. Se tiveres muito dá abundantemente; se tiveres pouco, dá desse pouco de bom coração. Assim acumularás uma boa recompensa para o dia da necessidade: porque a esmola livra do o pecado e da morte, e preserva a alma de cair nas trevas. A esmola será para todos os que a praticam um motivo de grande confiança diante do Deus Altíssimo”.

“Guarda-te meu filho de toda a fornicação: fora de tua mulher não autorizes jamais um comércio criminoso. Sobretudo, escolhe para ti uma mulher de tua tribo; não tomes uma mulher estranha à tua raça, porque somos filhos dos profetas (…)”.

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“Nunca permita que o orgulho domine o teu espírito ou tuas palavras, porque ele é a origem de todo o mal”.

“A todo o que fizer para ti um trabalho, paga o seu salário na mesma hora: que a paga do teu operário não fique um instante em teu poder”.

“Não bebas jamais vinho até a embriaguez e que esta nunca seja tua companheira de caminho. Reparte o teu pão com os famintos e cobre com as tuas próprias vestes os que estiverem nus. Dá esmola do que te sobra, e o que assim deres, não o lamentes”.

“Guarda-te de jamais fazer a outrem, o que não quererias que te fosse feito. Come o teu pão em companhia dos pobres e dos indigentes; cobre com as tuas próprias vestes os que estiverem desprovidos delas”.

“Busca sempre conselhos junto ao sábio. Bendize a Deus em todo o tempo, e pede-lhe que dirija os teus passos, de modo que os teus planos estejam sempre de acordo com a sua vontade. Porque não há homem que seja perspicaz: É só Deus quem lhe dá uma boa decisão. E o Senhor exalta a quem ele quer, humilha também até aos infernos a – quem ele quer. Logo, meu filho, lembra-te desses conselhos: que eles não se apaguem do teu coração”.

“Procura viver sem cuidados, meu filho. Levemos, é certo, uma vida pobre, mas se tememos a Deus, se evitamos todo o pecado e vivemos honestamente, grande será a nossa riqueza” (Tobias 4,1-23).

Talvez essas sejam as palavras mais sábias que um pai pode dizer a seu filho, e que o enche de belos ensinamentos segundo a vontade de Deus, pois estão de acordo com os seus Mandamentos.

Começa recomendando ao filho que, após a sua morte: “honrarás tua mãe todos os dias de tua vida”. Deus deu este mandamento a Moisés:

“Honra teu pai e tua mãe, como te mandou o Senhor, para que se prolonguem teus dias, e prosperes na terra que te deu o Senhor teu Deus”.

A maneira melhor de educar os nossos filhos será ensiná-los a obedecer os mandamentos da Lei de Deus. Ele que nos criou, é quem sabe como devemos viver para ser felizes.

Quando aquele jovem perguntou a Jesus o que devia fazer para ganhar a vida eterna, ouviu esta resposta:

“Conheces os mandamentos: não mates; não cometas adultério; não furtes; não digas falso testemunho; não cometas fraudes, honra pai e mãe (…)” (Mc 10,19).

Ao dar os Mandamentos a Moisés Deus lhe disse:

“(…) uso de misericórdia até a milésima geração com aqueles que me amam e guardam os meus mandamentos” (Dt 5,10).

“Ah, se tivessem sempre esse mesmo coração, para me temer e guardar os meus mandamentos! Seriam então felizes para sempre, eles e seus filhos” (Dt 5,29).

É impressionante notar com que insistência Deus exige do seu povo eleito a observância dos seus mandamentos, e manda que os pais os ensinem aos filhos:

“Quando teu filho te perguntar mais tarde: Que são esses manda- mentos, estas leis e estes preceitos que o Senhor, nosso Deus, vos prescreveu? Tu lhe responderás: (…). O Senhor ordenou-nos que observássemos todas essas leis e temêssemos o Senhor, nosso Deus, para sermos sempre felizes e para que nos conservasse a vida (…)” (Dt 6,20s).

“Os mandamentos que hoje te dou serão gravados no teu coração. Tu os inculcarás em teus filhos, e deles falarás seja sentado em tua casa, seja andando pelo caminho, ao te deitares e ao te levantares. Atá-lo-ás à tua mão como sinal, e os levarás como uma faixa frontal diante dos teus olhos. Tu os escreverás nos umbrais e nas portas da tua casa” (Dt 6,6-9).

É na vivência dos mandamentos que provamos a Deus o nosso amor por Ele, de verdade, não apenas por palavras. Jesus disse aos Apóstolos na última Ceia:

“Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (Jo 14,15).

Sabemos que Jesus não revogou os mandamentos de Deus, mas “levou-os à perfeição” (Mt 5,17). Ele é o legislador divino que no Sermão da Montanha nos dá a lei perfeita. Os capítulos 5,6 e 7, do Evangelho de São Mateus, contêm a “lei perfeita”, que os teólogos chamam de Carta Magna do Reino de Deus, ou sua Constituição. Esses três capítulos contêm certamente tudo que um pai deve ensinar a seus filhos.

Quando o Catecismo da Igreja fala dos Dez Mandamentos, diz que são as “Dez Palavras” (Decálogo) que Deus revelou a seu povo no monte sagrado (Ex 34,28; Dt 4,13; 10,4), escritas “com seu dedo” (Ex 31,18; Dt 5,22). São palavras de Deus de modo eminente, mais do que os outros preceitos escritos por Moisés (CIC, §2056).

As “Dez palavras” indicam as condições de uma vida liberta da escravidão do pecado e se constituem em um caminho de vida:

“Se amares teu Deus, se andares em seus caminhos, se observares os seus mandamentos, suas leis e seus costumes, viverás e multiplicarás” (Dt 30,16).

Os dez Mandamentos resumem a lei de Deus, e toda a Moral católica que os nossos filhos devem aprender:

“Tais foram as palavras que, em alta voz, o Senhor dirigiu a toda a assembleia no monte do meio do fogo, em meio a trevas, nuvens e escuridão. Sem nada acrescentar, escreveu-as sobre duas tábuas de pedras e as entregou a mim [Moisés]” (Dt 5,22).

Essas “duas pedras” são chamadas “O Testemunho” (Ex 25,16), pois contêm as cláusulas da Aliança entre Deus e o seu povo (Ex 31,18; 32,15; 34,19) e por isso foram colocadas “na Arca” (Ex 25,16;40,1-2).

O Catecismo afirma que:

“As ‘dez palavras’ (…) pertencem à revelação que Deus faz de si mesmo e da sua glória. O dom dos mandamentos é dom do próprio Deus e de sua santa vontade” (CIC, §2059).

Daí a importância enorme dos Mandamentos na vida da Igreja, e que ela recomenda aos pais que transmitam aos filhos. Se a sociedade vivesse-os, não precisaríamos de tantos códigos de direito, milhares de leis, exércitos, polícias, etc. Tudo isto existe porque os homens não querem viver “dez palavras” de Deus.

Os Mandamentos indicam o agir moral do homem segundo a vontade de Deus. Vivê-los é a resposta de amor que o homem dá a Deus, demonstração de sua submissão à Ele como filho fiel, culto de ação de graças e cooperação com o Seu plano para a humanidade.

Santo Ireneu (+202) assim se expressou, ao se referir aos Mandamentos:

“Pelo Decálogo, Deus preparou o homem para se tomar seu amigo e ter um só coração para com o próximo (…). Da mesma maneira, as palavras do Decálogo continuam válidas entre nós [cristãos]. Longe de serem abolidas, elas foram levadas à plenitude do próprio significado e desenvolvimento, pelo fato da vinda do Senhor na carne” (Contra as heresias 4,16; 3-4).

O Concílio de Trento (1545-1563) ensinou que os dez mandamentos obrigam os cristãos, e que o homem justificado está obrigado a observá-los. E o Concílio Vaticano II ensina que é “pela fé, pelo Batismo e pelo cumprimento dos mandamentos” que alcançamos a salvação (LG,24).

O Catecismo ensina que “o Decálogo forma um todo inseparável (…) que unifica a vida teologal e a vida social do homem” (CIC, §2069). “Iluminam os deveres essenciais” (CIC, §2070).

“Visto que exprimem os deveres fundamentais do homem para com Deus e para com o próximo, os dez mandamentos revelam, em seu conteúdo primordial, obrigações graves. São essencialmente imutáveis, e sua obrigação vale sempre e em toda parte. Ninguém pode dispensar-se deles. Os dez mandamentos estão gravados por Deus no coração do ser humano” (CIC, §2071).

Por tudo o que foi dito, vemos a importância de viver e de ensinar os mandamentos aos filhos. E a Igreja nos diz que:

“O que Deus manda, torna-o possível pela sua graça” (CIC, §2082). “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5). É pela força do Senhor que vivemos os seus mandamentos.

É por faltar a muitos a graça de Deus, que o mundo acha difícil e pesado viver suas leis. Na verdade estão enganados. Ao terminar de dar os seus mandamentos a seu povo, ele disse:

“O mandamento que hoje te dou não está acima de tuas forças, nem fora de teu alcance (…) esta palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração: e tu a podes cumprir” (Dt 30,11-14).

“Tom ai sobre vós o meu jugo e recebei minha doutrina (…). Porque meu jugo é suave e meu peso é leve” (Mt 11,28-29).

Quando o Catecismo da Igreja fala da educação dos filhos, destaca algo interessante:

“Os filhos, por sua vez, contribuem para o crescimento de seus pais em santidade (GS 48,§ 4)” (CIC, §2227).

Educando os filhos, os pais educam a si mesmos e crescem em santidade; que é o objetivo último de todos na família. Assim, a família se apresenta aos nossos olhos como uma escola de santificação para pais e filhos.

“Todos e cada um se darão generosamente e sem se cansarem o perdão mútuo exigido pelas ofensas, as rixas, as injustiças e os abandonos. Sugere-o a mútua afeição. Exige-o a caridade de Cristo” (CIC, §2227).

A Igreja tem no catálogo dos seus santos, muitos que foram pais e mães, e que nos deixaram belos ensinamentos sobre a família. Entre eles encontramos São Luiz, rei da França, que nasceu em 1214 e subiu ao trono da França aos 22 anos de idade.

Teve onze filhos a quem deu excelente educação. Distinguiu-se pelo seu espírito de penitência (mesmo sendo rei), de oração e de amor aos pobres. Realizou duas Cruzadas para libertar o sepulcro de Cristo, e morreu perto de Cartago em 1270. Deixou este belo testamento espiritual ao seu filho herdeiro do trono (Acta Sanctorum Augusti 5 [1868 ],546).

Testamento de São Luís, rei da França, a seu filho

Filho dileto, começo por querer ensinar-te a amar o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com todas as tuas forças; pois sem isto não há salvação.

Filho, deves evitar tudo quanto sabes desagradar a Deus, quer dizer, todo pecado mortal, de tal forma que prefiras ser atormentado por toda sorte de martírios a cometer um pecado mortal.

Ademais, se o Senhor permitir que te advenha alguma tribulação, deves suportá-la com serenidade e ação de graças. Considera suceder tal coisa em teu proveito e que talvez a tenhas merecido. Além disto, se o Senhor te conceder a prosperidade, tens de agradecer-lhe humildemente, tomando cuidado para que nesta circunstância não te tornes pior, por vanglória ou outro modo qualquer, porque não deves ir contra Deus ou ofendê-lo valendo-te dos seus dons.

Ouve com boa disposição e piedade o oficio da Igreja e enquanto estiveres no templo, cuides de não vagueares os olhos ao redor, de não falar sem necessidade; mas roga ao Senhor devotamente, quer pelos lábios, quer pela meditação do coração.

Guarda o coração compassivo para com os pobres, infelizes e aflitos, e quando puderes, auxilia-os e consola-os. Por todos os benefícios que te foram dados por Deus, rende-lhe graças para te tornares digno de receber maiores. Em relação a teus súditos, sê justo até o extremo da justiça, sem te desviares nem para a direita nem para a esquerda; põe-te sempre de preferência da parte do pobre mais do que do rico, até estares bem certo da verdade. Procura com empenho que todos os teus súditos sejam protegidos pela justiça e pela paz, principalmente as pessoas eclesiásticas e religiosas.

Sê dedicado e obediente à nossa mãe, a Igreja Romana, ao Sumo Pontífice como pai espiritual. Esforça-te por remover de teu país todo pecado, sobretudo o de blasfêmia e a heresia.

Ó filho muito amado, dou-te enfim toda a bênção que um pai pode dar ao filho; e toda a Trindade e todos os santos te guardem do mal. Que o Senhor te conceda a graça de fazer sua vontade de forma a ser servido e honrado por ti. E assim, depois desta vida, iremos juntos vê-lo, amá-lo e louvá-lo sem fim. Amém.

Prof. Felipe Aquino

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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