Os Florais de Bach – EB

Em síntese: Os Florais de Bach representam uma corrente da medicina que explora o valor terapêutico da essência das flores; como tal, é moralmente lícita, devendo ser avaliada segundo critérios médicos. Ocorre, porém, que os Florais estão sendo atualmente apregoados dentro de uma visão holística ou panteísta correspondente às concepções de Nova Era. Daí a necessidade de que o cristão distinga a terapia e a cosmovisão dos Florais de Bach e não se deixe envolver por esta última.

Os Florais de Bach são uma corrente terapêutica baseada na seguinte concepção: a medicina convencional, inspirada nas descobertas do sábio francês Louis Pasteur, tenciona extirpar o gérmen da doença mediante medicamentos para “combater a infecção” ou “batalhar contra o câncer”. O homem seria um mecanismo cibernético passível de ser acionado por remédios. Esta teoria tem dado resultados, mas ainda há doenças incuráveis, como o câncer, a artrite, as moléstias cardiovasculares (…).

À concepção tradicional de medicina opõe-se outra, inspirada pelo Dr. Claude Bernard: este enfatizou a importância do ambiente interior da pessoa e seu grau de receptividade à doença; introduziu o conceito de resistência à doença ou de sistema imunológico.

É nesse contexto de estimulação geral à saúde que se entende a contribuição das essências florais. Não são um substitutivo da medicina moderna, mas têm a finalidade de preparar a terra onde cresce a boa saúde, enriquecer o solo profundo da vida humana para que a vitalidade possa criar raízes e florescer.

As origens da corrente dos Florais estão na década de 1930, quando o Dr. Edward Bach observou o papel dasemoções e atitudes na doença – o que o levou a conceber o sistema dos Florais ditos “de Bach”. Sobreveio a segunda guerra mundial, que provocou terríveis traumas sociais; a medicina então tomou mais consciência de que toda doença é psicossomática; muitas delas têm causas emocionais e não físicas, embora possam ter efeitos físicos. Esta verificação deu grande impulso às tentativas de sanar as emoções da população mediante o recurso aos Florais ou à essência das flores.

Um Livro Significativo

Entendidos como atrás foi exposto, os Florais de Bach são um procedimento médico que não sofre restrições por parte da Moral católica. Ocorre, porém, que está sendo associado a uma filosofia panteísta por certas escolas, como se depreende do livro Repertório das Essências Florais da autoria de Patricia Kaminski e Richard Katz (Ed. Triom, São Paulo, 2ª edição 2001). A antropologia proposta por estes doisautores não é aceitável ao cristão, pois professam o holismo que vê a realidade como um todo (holon) sem levar na devida conta as diferenças entre Deus, o mundo irracional e o homem.

Sob o título de “Visão Holística” são propostos os seguintes conceitos:

Corpo Humano

“Embora haja muitos sistemas de anatomia sutil, neste Repertório referimo-nos a uma fundamental divisão quádrupla do ser humano, que tem origem em várias tradições da sabedoria e da cura metafísicas, e que é resumida sucintamente nos escritos do moderno cientista espiritual, Dr. Rudolf Steiner.

Essa classificação quádrupla refere-se a: 1) o corpo físico – a estrutura bioquímica e mecânica do corpo; 2) o corpo elétrico – o envoltório vital que circunda imediatamente o corpo físico e que está intimamente conectado com as forças vitais da Natureza; 3) o corpo astral – a sede da alma e o repositório dos desejos, emoções e sentimentos humanos, especialmente correlacionado com o mundo dos astros e outras influências cósmicas; e 4) o Self ou Eu Espiritual – a essência ou identidade espiritual verdadeira de cada ser humano. Esses quatro corpos também podem ser vistos como se estivessem contidos em duas polaridades fundamentais do ser humano: o pólo da vida (o físico-elétrico) e o pólo da consciência (o anímico-espiritual). Já analisamos os corpos físico e elétrico; passamos agora ao pólo da consciência do ser humano.” (p. 14).

Rudolf Steiner é o fundador da Antroposofia, que é evidentemente panteísta..

A respeito do Eu lê-se à p. 15:

“O aspecto supremo do ser humano no sistema quádruplo é o ego espiritual ou Self, também conhecido como a presença do Eu ou a centelha de divindade que habita no indivíduo, que leva o ser humano à liberdade de dar forma ao seu destino e desenvolver  as forças morais da consciência assim como a consciência de si. Esse Eu, ou presença auto-reflexiva, distingue os seres humanos dos três outros reinos da Natureza – os animais, as plantas e os minerais.

O Eu Espiritual é aquele aspecto divino do nosso ser que age através da matriz do corpo e da alma, buscando a encarnação na matéria a fim de evoluir. Ele representa uma identidade individual que não pode ser plenamente definida por fatores demográficos ou hereditários, mas que se manifesta em nosso caráter e destino pessoal. Assim como é única a estrutura cristalina de cada floco de neve que cai do céu sobre a Terra, também a diamantina divindade que pertence a cada alma humana é uma expressão sublime de espiritualidade individual”.

Sobre a alma humana está dito às pp. 17s:

“A alma está assim fortemente conectada ao corpo astral, morada das nossas emoções, do nosso gostar e não gostar, das nossas experiências. Contudo, seria uma simplificação exagerada dizer que a alma é o corpo astral, pois ela também busca um relacionamento com o mundo físico, com a Natureza e com a sociedade humana.

Como pode a alma nascer do mundo espiritual e, ainda assim, expressar-se através do corpo físico? Qual o mistério contido nesse paradoxo? Onde exatamente podemos achar a alma? O poeta alemão Novalis disse, “A sede da alma é ali onde o mundo interior e o mundo exterior se encontram. Onde eles se sobrepõem; a alma está em cada um dos pontos da sobreposição”. A palavra grega psyche significa tanto “alma” como “borboleta”. Essa imagem sugere que a alma é capaz de transmutação, metamorfose, desde a lagarta presa à terra, passando pela crisálida encasulada, até chegar finalmente às asas celestiais libertas. A alma é assim um intermediário entre o interior e o exterior; entre o corpo (encarnação na matéria) e o espírito (expansão ilimitada do Eu), entre a vida e a consciência.

Essa natureza dinâmica e fluída da alma é essencial. Se confundimos alma e espírito, como fizeram muitos teólogos do passado, então a alma torna-se uma abstração desincorporada, separada da pulsação da vida. Se reduzimos a alma a um mecanismo físico, como faz a ciência materialista moderna, então negamos seus atributos transcendentes e misteriosos e promovemos a macabra visão de um mundo sem cor habitado apenas por criaturas mecânicas”.

E à p. 19:

“infelizmente, Jung estava certo apenas pela metade em sua avaliação de alquimia. Seus insights levaram a uma nova sabedoria sobre a vida da alma humana, mas sem uma conexão direta com a alma da natureza”.

Nos dois últimos textos acima note-se a palavra Natureza com N maiúsculo; além do quê à p. 19 se lê “alma da natureza” como se a natureza toda ou o cosmos fosse um grande vivente.

A antropologia católica distingue no ser humano dois componentes apenas: o corpo material e a alma espiritual. Esta é responsável por todas as funções vegetativas, sensitivas e intelectivas do ser humano, na qualidade de princípio vital. As emoções e afetos têm sede na sensibilidade do corpo humano, sensibilidade animada pela mesma alma que é sede das faculdades espirituais ou do intelecto e da vontade.

Observação final

Embora professem o holismo panteísta, os autores da obra Repertório (…) reconhecem que a aplicação dos Florais de Bach é independente dessa concepção filosófica e pode ocorrer dentro de uma visão diferente do ser humano. Aliás, é o que se dá também com a Ioga, a psicanálise e outros procedimentos terapêuticos: têm origem em berço não cristão, associados à filosofia do fundador; como tais, são propostos ao público, que os tem como inconvenientes a um cristão. Com o tempo, porém, evidencia-se que se pode distinguir o procedimento médico, baseado em princípios científicos, da cosmovisão professada pelo autor originário do procedimento.

Tais são as palavras de Patrícia Kaminski e Richard Katz na Apresentação do livro (p. XII):

“O Repertório das Essências Florais foi elaborado com a intenção de ser facilmente acessado por aqueles que desejam trabalhar com ele de variadas maneiras. Embora, ao longo do Repertório, sejam feitas referências a vários conceitos filosóficos e metafísicos, não é uma precondição que o leitor acredite num determinado ensinamento cultural ou espiritual para obter benefício das essências florais. O mais importante é que cada pessoa considere os méritos desta modalidade terapêutica e aplique as crenças ou conceitos que vivem dentro de seu coração e sua mente. Independentemente da visão filosófica de uma pessoa, o Repertório pode sempre ser usado de um modo muito básico e direto, se ele simplesmente tornar-se sensível à vida dos sentimentos da alma humana e aprender as qualidades das flores que refletem as condições da alma. Esperamos sinceramente que o Repertório venha a ser uma ferramenta para a verdadeira cura da alma e para buscas e descobertas adicionais por parte do leitor”.

Portanto ao cristão não é ilícito aplicar os Florais de Bach, contanto que guarde a sua filosofia religiosa, acautelando-se contra insinuações contrárias.

Revista: “PERGUNTE  E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Nº 484 – Ano 2002 – p. 424

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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