Os brasileiros querem varrer a corrupção

Protesto contra a corrupção no Rio de Janeiro – Homem se prende em cruz, durante protesto contra corrupção. A manifestação é organizada pela ONG Rio de Paz. Na última segunda-feira (19), o grupo fincou 594 vassouras pintadas de verde e amarelo nas areias da praia de Copacabana, na zona sul do Rio Mais Sergio Moraes /ReutersUma onda de indignação vem tomando conta do Brasil. No dia 7 de setembro, dia da independência do país, 30 mil manifestantes vestidos de preto e usando narizes de palhaço protestaram, bem-humorados, pelas ruas de Brasília, a capital. Neste fim de semana, a praia de Copacabana, no sul do Rio de Janeiro, foi coberta por quase 600 vassouras verde e amarelas, representando os membros do Parlamento. Tudo isso sob uma imensa faixa com a mensagem “Congresso Nacional, ajude a varrer a corrupção do Brasil”.

Na terça-feira (20), dezenas de milhares de pessoas devem ainda se reunir no centro histórico da “cidade maravilhosa”. Um apelo foi lançado, no Facebook, por um grupo de moradores que criou a página “Todos juntos contra a corrupção”.

“A corrupção é um esporte nacional que corrói todas as esferas da sociedade”, se enfurece Cristiane Ribeiro, 37, uma das organizadoras da manifestação. Dinâmica e “indignada”, ela repete que “a iniciativa, que não tem caráter partidário, visa despertar a consciência dos eleitores, pois foi com nossos votos que os corruptos foram eleitos”. “Vamos gritar em alto e bom som aquilo que queremos: o fim do roubo e da impunidade”, explica Fabrício Leitão, cineasta de 30 anos que irá protestar em família.

As redes sociais na linha de frente
Fernando Antônio Azevedo, pesquisador em comunicação política, acredita que “na luta pela ética, o povo brasileiro, um dos mais presentes na Web, agora utiliza uma arma temível. Os jornais online, os blogs, as redes sociais são ferramentas que democratizam a informação. Elas facilitam sua circulação e a tornam instantânea e simultânea. Os cidadãos exprimem e compartilham suas opiniões, o que favorece a ação e tende a aumentar a transparência do Estado. E a revolta popular continua, pois o governo não instaurou uma política sistemática de combate à corrupção”.

Ao longo dos três últimos meses, quatro ministros foram obrigados a deixar o governo por desvios de verba. O mais recente foi Pedro Novais, ministro do Turismo. Ele passou a ser investigado desde a interpelação, em meados de agosto, de mais de trinta funcionários de seu ministério, todos acusados de terem desviado milhões destinados ao treinamento de taxistas e de garçons. Agarrando-se ao seu posto por semanas, ele recebeu o golpe de misericórdia há alguns dias, quando a imprensa revelou que o motorista de sua esposa era pago pelo Parlamento.

Essa série de escândalos começou em junho, quando Antonio Palocci, ministro da Casa Civil – equivalente ao primeiro-ministro – , perdeu seu posto após acusações de tráfico de influência. No mês seguinte, foi a vez do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, de ser acusado. Ele se envolveu em um grande escândalo de superfaturamento e de desvio de dinheiro, sendo que seu ministério é o principal beneficiário dos fundos destinados a um amplo programa de construção de infraestrutura. No momento de sua demissão, o Partido Republicano, do qual é líder, deixou a coalizão governamental.

Dilma Rousseff promete tolerância zero
Vendo-se em uma situação difícil, a presidente da República Dilma Rousseff convocou a imprensa. Ela prometeu tolerância zero diante da corrupção. “A presidente reagiu com vivacidade e rigor. Os ministros acusados tiveram de responder por seus atos diante do Congresso e as demissões ocorreram rapidamente. Dilma Rousseff sairá dessa crise fortalecida, pois está consolidando sua reputação de mulher ética. Ela se diferencia de Lula, que tinha uma atitude considerada complacente frente à corrupção”, acredita Maria do Socorro, cientista política especializada em corrupção. “Além disso, Dilma Rousseff vem ganhando a confiança de setores tradicionalmente contrários ao seu partido, o Partido dos Trabalhadores (PT), como a parte conservadora da classe média”.

Por enquanto, o voluntarismo da presidente foi saudado pela mídia, e sua popularidade permanece elevada. Mas dentro de seu partido, alguns temem que a “faxina” seja contraproducente e associe irremediavelmente o PT à corrupção generalizada. “Lula sempre defendeu os membros corruptos de seu governo. Dilma Rousseff estava indo pelo mesmo caminho, mas afinal ela cedeu à opinião pública e tentou se associar ao movimento de indignação, tomando-o para si. Suas declarações não passam de golpe publicitário. E, ao contrário do cenário imaginado por seus assessores de comunicação, ela deu um tiro no pé e perdeu o controle da situação”, acredita o analista político Paulo G.M. de Moura.

De fato, a debandada continuou: em agosto, Nelson Jobim, ministro da Defesa, declarou ter votado no adversário de Rousseff nas eleições presidenciais e se demitiu. Duas semanas depois, o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, caiu por tráfico de influência.

Entre 17 e 30 bilhões de euros por ano
“No Brasil, a corrupção é um mal histórico que vem desde a época colonial. O chefe do Estado nomeia 25 mil postos, dos quais cerca de 1.600 possuem acesso direto ao dinheiro público. Ora, para satisfazer os diferentes partidos da coalizão governamental, muitos deles são atribuídos, de maneira complacente, a caciques que não possuem as competências necessárias”, observa o pesquisador Fernando Antônio Azevedo. “Poder, prestígio e ganhos materiais são os temas recorrentes de grande parte da classe política brasileira”, diz ainda a socióloga Maria A. Lemenhe.

Segundo um estudo da Fundação das Indústrias do Estado de São Paulo, a corrupção custa a cada ano entre 17 e 30 bilhões de euros (R$ 42 bilhões a R$ 74 bilhões), comprometendo o crescimento, a competitividade e a eficácia das ajudas públicas à população. “Com as obras faraônicas previstas para a Copa do Mundo em 2014 e os Jogos Olímpicos dois anos depois, as oportunidades de desvios de verba aumentam”, avisa Paulo G. M. de Moura. Maria do Socorro, no entanto, se mostra otimista: “A sociedade civil, assim como muitas instituições internacionais, está de olho no Estado brasileiro. É uma chance histórica de mudar a mentalidade da classe política”.

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Tradução: Lana Lim

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/lemonde/2011/09/21/os-brasileiros-querem-varrer-a-corrupcao.jhtm


Le Monde, 21/9/2011 – Anne-Gaëlle Rico
Do Rio de Janeiro

 

 

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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