Oração diante do Santíssimo Sacramento

Vossas são estas palavras, oh, Jesus, verdade eterna, ainda que não foram ditas em um mesmo tempo, nem escritas em um mesmo lugar. E, pois, são vossas e verdadeiras, devo recebê-las todas com gratidão e fé viva.

São vossas, pois, vós as dissestes; e também são minhas, porque as dissestes para minha salvação. Com alegria as recebo de vossa boca, para que sejam mais profundamente gravadas em meu coração.

Animam-me palavras de tanta piedade, cheias de doçura e de amor; mas por outra parte meus próprios pecados me atemorizam e minha consciência impura me afasta de tão altos mistérios.

A doçura de vossas palavras me convida a recebê-los, mas a multidão de meus pecados me afasta deles.

Ordenais-me que me chegue para vós com grande confiança, se quero ter parte convosco; e que receba o alimento da imortalidade, se desejo alcançar vida e glória para sempre. “Vinde, dizeis, vinde a mim todos os que sofreis e que estais oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mt 11,2),

Como são doces e amáveis aos ouvidos do pecador estas palavras pelas quais vós, Deus e Senhor meu, convidais ao pobre e ao mendigo à comunhão de vosso santíssimo corpo!

Mas quem sou eu, Senhor, para ousar chegar-me a vós? “Vejo que os céus dos céus não podem conter-vos” e dizeis: “Vinde todos a mim” (1 Rs 8,27).

De onde vem esta tão piedosa bondade, este tão amoroso convite? Como ousarei ir a vós, eu que não sinto em mim nenhum bem que possa dar-me alguma confiança?

Como vos hospedarei em minha morada, eu que tantas vezes ofendi vossa benigníssima presença? Os anjos e arcanjos vos adoram tremendo; os santos e justos penetram-se de temor, e vós dizeis: “Vinde todos a mim!”.

Quem acreditaria nisto se vós, Senhor, não o dissésseis? Quem se atreveria a chegar a vós, se vós mesmo não o mandásseis?

Noé, homem justo, trabalhou cem anos em fabricar uma arca para salvar-se nela com poucas pessoas: pois como poderei eu em uma hora preparar-me para receber dignamente ao Criador do mundo?

Moisés, vosso grande servo e especial amigo, fez uma arca de madeira incorruptível, e a guarneceu de ouro puríssimo para nela pôr as tábuas da lei; e eu, vil criatura, ousarei receber tão facilmente a vós, legislador supremo e autor da vida?

Salomão, o mais sábio dos reis de Israel, gastou sete anos em levantar um templo magnífico à glória de vosso nome; celebrou, por espaço de oito dias, a festa de sua dedicação; ofereceu mil hóstias pacíficas; e ao som de trombetas, no meio de santo júbilo, colocou solenemente a arca da Aliança no lugar santo que lhe fora preparado.

E eu, infeliz e o mais pobre dos homens, como vos introduzirei em minha morada, eu que sei apenas empregar devotamente meia hora? E oxalá que alguma vez empregasse como devia menos tempo ainda.

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Oh, Deus meu, que não fizeram aqueles santos varões para agradar-vos? Mas ai de mim! Como é pouco o que eu faço! Que breve tempo gasto em preparar-me para a santa comunhão.

Raras vezes estou de todo recolhido ou raríssimas vezes me vejo livre de toda a distração.

E na verdade, em vossa saudável e divina presença não deveria ocorrer-me pensamento algum profano, nem ocupar-me a lembrança de criatura alguma: porque não vou hospedar a um anjo, senão ao Senhor dos anjos.

Além disso, que distância infinita entre a Arca do Testamento com o que ela encerrava e vosso puríssimo corpo com suas indescritíveis virtudes! Entre aqueles sacrifícios da lei antiga, figura dos vindouros e o sacrifício verdadeiro de vosso corpo, complemento de todos os sacrifícios antigos!

Por que não me inflamo mais em vossa adorável presença? Por que não me preparo com maior cuidado para participar de vossos santos mistérios, ao ver que aqueles antigos patriarcas e santos profetas, reis e príncipes, com todo o seu povo, mostraram tanta devoção ao culto divino?

O devotíssimo rei Davi manifestou seus transportes de júbilo dançando diante da Arca santa, lembrando-se dos benefícios concedidos outrora a seus pais. Fez diversos instrumentos de música, compôs salmos e ordenou que cantassem com alegria, e, animado do Espírito Santo muitas vezes ele mesmo os cantou ao som da sua harpa; ensinou aos filhos de Israel a louvar a Deus de todo o coração, e bendizê-lo e celebrá-lo todos os dias com afinadas vozes.

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Pois se tanta era então e devoção e o fervor em louvar a Deus diante da Arca do Testamento, quanta reverência e devoção não devo eu ter e todo o povo cristão em presença do augustíssimo sacramento e ao receber o santíssimo corpo de Cristo?

Muitos correm a diversos lugares para visitar as relíquias dos santos e se maravilham de ouvirem contar as ações de sua vida; admiram a grandeza e a magnificência dos templos edificados em sua honra e beijam seus ossos sagrados envoltos em ouro e seda. E vós estais aqui presente, diante de mim, no altar, oh, Deus meu, vós, o Santo dos santos, o Criador dos homens, o Rei dos anjos.

Muitas vezes os homens vão às igrejas levados da curiosidade e da novidade das coisas que ainda não viram; e assim é que tiram pouquíssimo fruto de emenda, principalmente quando nelas entram sem devoção e andam com leviandade de’ uma parte para a outra, sem contrição verdadeira.

Mas aqui, no Sacramento do Altar, estais todo presente, meu Jesus, como Deus e homem: e todas as vezes que vos recebemos digna e devotamente, nos encheis de graças que nos fazem eternamente felizes.

E a este banquete sagrado não nos traz nenhuma leviandade, nem curiosidade ou atrativo dos sentidos; senão a fé viva, a esperança devota e a caridade sincera.

Oh! Deus invisível, Criador do mundo, como sois admirável em tudo que obrais a nosso favor! Com que bondade, com que ternura velais por vossos escolhidos, vos dais a eles por alimento em vosso Sacramento de amor!

Isto na verdade transcende nosso entendimento! Isto especialmente cativa os corações devotos e abrasa os seus afetos. Porque vossos fiéis servos ocupados toda a vida a emendar-se, recebem frequentemente neste augusto Sacramento grande graça de devoção e forte amor de virtude.

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Oh! Graça admirável e oculta deste Sacramento, só conhecida dos fiéis servos de Jesus Cristo! Porque os servos infiéis e escravos do pecado não lhe podem sentir a influência.

Este Sacramento infunde em nossa alma a graça do Espírito Santo, recebera-lhe as forças perdidas e restitui-lhe a formosura que a feiura do pecado lhe tinha roubado.

Tal é algumas vezes o poder desta graça e o fervor que ela inspira, que não só a alma, senão ainda o corpo fraco sente ter recebido maiores forças.

Por isso devemos sentir e chorar amargamente nossa fraqueza e negligência, vendo o pouco fervor com que recebemos a Jesus Cristo, que é toda a esperança e que faz todo o merecimento dos seus escolhidos. Porque ele é nossa santificação e nosso resgate; ele é a consolação dos viajantes na terra e o gozo eterno dos santos no céu.

Quanto não é, pois, para chorar ver o pouco caso que muitos fazem deste sagrado mistério, que é a alegria do céu e a salvação do mundo?

Oh, cegueira! Oh, dureza do coração humano, que tão pouco atende a tão indescritível dom, e pelo frequente uso de o receber faz dele menos apreç o!

Se este sacratíssimo Sacramento se celebrasse em um só lugar e se consagrasse por um só sacerdote em todo mundo, com quanto desejo e afeto não acudiriam os homens àquele lugar e àquele sacerdote de Deus para vê-lo celebrar os divinos mistérios!

Mas agora há muitos sacerdotes e Cristo se oferece em muitos lugares, para que se mostre tanto maior a graça e amor de Deus ao homem, quanto a sagrada comunhão é mais liberalmente difundida pelo mundo.

Graças vos sejam dadas, bom Jesus, Pastor eterno, que em nosso degredo e pobreza vos dignastes alimentar-nos com vosso corpo e precioso sangue; e também convidar-nos com palavras de vossa própria boca e receber estes santos mistérios, dizendo: “Vinde a mim todos os que vivem em trabalhos e estão oprimidos, e eu vos aliviarei”.

Retirado do livro: “Imitação de Cristo” Tomás de Kempis.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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