O sentido da vida

O mês dos falecidos, novembro, nos leva à reflexão sobre o sentido da vida. O pensamento da vida futura ilumina a presente vida e lhe dá o verdadeiro valor, como nos ensinam os santos. Pois, como todos sabem, o que se leva da vida é a vida que se leva! Os bens materiais vão todos ficar aqui. Daí se compreende a palavra de Jesus: “Ajuntai para vós tesouros no céu, onde não os consomem nem as traças nem a ferrugem, e os ladrões não descobrem nem roubam. Porque onde está o teu tesouro, lá também esta teu coração” (Mt 6, 19-21).

O grande psiquiatra e psicólogo austríaco Viktor Frankl, contemporâneo de Freud, mas de uma corrente dissidente da psicanálise, criou um método de tratamento psicológico que denominou logoterapia, a cura pela descoberta do sentido da vida, ou, de um sentido para a vida. Dr. Viktor Frankl passou por quatro campos de concentração entre 1942 e 1945, inclusive os piores, Auschwitz e Dachau. Durante esse tempo de prisão, o que o sustentou foi seu grande interesse pelo comportamento humano, concluindo depois que esse interesse o havia salvado e que aqueles companheiros de prisão que tinham uma esperança e davam um significado a suas vidas predominavam entre os sobreviventes da tortura e da fome a que haviam sido submetidos. O seu método de tratamento psicológico, a logoterapia, consiste em ajudar o paciente a encontrar o significado da sua vida.

Contestando um pouco o pai da psicanálise, Frankl sustenta que nem toda neurose é redutível às experiências traumáticas da primeira infância e aos conflitos entre o id, o ego e o superego, assim como também não é a remoção dos sintomas a causa daquelas curas que são obtidas, não pela psicanálise, mas sim pelas rápidas modificações do comportamento, se não por remissão espontânea. E ele conclui que permanece, contudo, uma sensação de amargura. Falta algo a se considerar na terapia: a tensão da busca de um significado para a vida.

Albert Camus afirmou uma vez: “Há um só problema verdadeiramente sério e é … estabelecer se vale ou não a pena viver…”.  O grande problema, o grande causador das neuroses e depressões, é o vazio existencial. Segundo Fernando Pessoa, tudo vale a pena se a alma não é pequena. E podemos parafraseá-lo dizendo que nada vale a pena se a alma se apequena, se não compreende o significado da vida. Cai-se no vazio existencial.

Em pesquisas feitas em universidades americanas, 78% dos alunos declarou que o seu objetivo principal era encontrar um objetivo e um sentido para a própria vida. E a resposta dada pelos alcoólatras e usuários de drogas quase sempre é que perderam o sentido de viver. A mesma resposta dão os que tentam o suicídio: para que viver mais? 

Bento XVI nos lembra que Jesus, Deus feito homem, morto e ressuscitado, trouxe a vitória da vida sobre o vazio da morte. A verdadeira religião, nos dando o verdadeiro significado da vida, dom de Deus para o nosso bem e nossa felicidade eterna, preenche o nosso vazio existencial, tornando-se assim a melhor terapia para qualquer neurose.

Dom Fernando Arêas Rifan*

*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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