O desafio das seitas

O Papa João Paulo II, recebeu um grupo de Bispos do Brasil, em visita “ad limina apostolorum” (ao túmulo dos Apóstolos), em 05/9/95, e pronunciou a eles um discurso de grande importância, onde abordou vários assuntos, entre eles o desafio que as seitas significam hoje para a Igreja.

Referindo-se às seitas, o Papa diz que na América Latina deparamo-nos “com o grave problema das seitas, que se expandem, como uma mancha de óleo, ameaçando fazer ruir a estrutura de fé de tantas nações”.

A América Latina toda é católica, mas esta hegemonia católica, agora, segundo o Papa, está sendo ameaçada pelas seitas. Ele reafirma o que já tinha dito na Carta encíclica Redemptoris missio:

“Certamente a expansão das seitas ‘constitui uma ameaça para a Igreja Católica…'(RM,50)”.

O Papa diz que na Conferência de Santo Domingo (outubro de 1992), ficou claro para os bispos o seu perigo:

“O Documento final descreveu com clareza e precisão essas seitas e movimentos, mostrou suas características e modos de atuar, deixou claro os interesses políticos e econômicos envolvidos na sua expansão em todo o Continente…(Conclusões do IV CELAM,nn.139-152)”.

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Conhecendo as Seitas

O CELAM (Conferência do Episcopado Latino Americano), apresentou, em 1990, um documento elaborado pelos protestantes, que mostra as estratégias para tornar o mundo inteiro protestante. Se refere ao projeto AMANHECER, sagaz e inteligente, com 48 páginas, publicado por Jim Montgomery, gerente-editor de GLOBAL CHURCH GROTH BULLETIN e diretor da OVERSEAS CRUSADES, com sede na Califórnia. O AMANHECER traz o subtítulo de “Estratégias Evangélicas para a Tomada Missionária do Mundo e da América Latina”. Na época, o CELAM alertou os bispos dizendo:

“É necessário que tomemos consciência da existência de uma estratégia evangélica bem arquitetada para a tomada missionária da América Latina, país por país…O que importa unicamente, é crescer em número de fiéis e templos” (Revista Pergunte e Responderemos, n.333/1990, pp.78-87).

Portanto, o Papa não está exagerando quando fala em “ameaça para a Igreja Católica”.

Falando aos nossos bispos em Roma, ele apontou os pontos principais do ataque à fé católica:

“É notória a intenção, por vezes virulenta, destas seitas de minar as bases da fé do povo, de modo especial no que diz respeito ao culto do Mistério Eucarístico e da Santíssima Virgem, à estrutura hierárquica da Igreja e ao primado de Pedro, que perdura no pastoreio universal do Bispo de Roma, e às expressões da piedade popular”.

E o Papa questiona os Bispos sobre as razões do crescimento delas:

“A difusão das seitas não nos interroga se tem sido manifestado suficientemente o senso do sagrado?”

O que o Santo Padre quiz dizer com esta pergunta? Será que os fiéis católicos, não têm ido para as seitas, porque falta mais espiritualidade em nossas igrejas?

Sabemos que durante muitos anos, a Igreja no Brasil e na América, dirigiu-se muito mais ao social, deixando o povo à mingua da catequese e da espiritualidade. Agora paga um alto preço.

O Papa também falou sobre isso aos nossos bispos:

“Ele [o povo católico] quer ver a Igreja com as suas características religiosas,…que despertam a piedade e levam à oração, ao recolhimento e à contemplação do mistério de Deus…”

“Ele quer sentir nas músicas de vossas Igrejas o apelo ao louvor de Deus, à ação de graças, à prece humilde e confiante e se sente desconfortável quando esses cantos em sua letra envolvem uma mensagem política ou puramente terrena, e em sua expressão musical não apresentam a característica de música religiosa, mas são marcadamente profanos no ritmo, na linha melódica e nos instrumentos musicais de acompanhamento”.

“O ministério da Palavra… contenha sempre, do início ao fim, uma mensagem espiritual. É certo que muita gente não possui o suficiente para acalmar a própria fome, mas, ordinariamente, o povo tem mais fome de Deus do que do pão material, pois entende que “não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4,4). Ver a Igreja como Igreja, e não simples promotora da reforma social”.

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Nesta mesma linha, ele fala aos padres:

“Vosso povo, caríssimos irmãos no episcopado, quer ver os padres como verdadeiros Ministros de Deus, inclusive na sua veste e no seu modo externo de proceder. O que os homens querem, o que esperam, é que o sacerdote com o seu testemunho de vida e com sua palavra, lhes fale de Deus”.

Para enfrentar o “desafio” das seitas e do secularismo, o Papa propõe, então, a Nova Evangelização:

“A evangelização a que a Igreja está sendo chamada neste final de milênio deve ser, como tantas vezes tenho repetido, nova em seu ardor, seus métodos e sua expressão”.

“Não estaria havendo uma certa acomodação deixando de ir em busca das ovelhas que estão afastadas? A o contrário da parábola evangélica, não é uma e outra que está tresmalhada, mas é uma parte do rebanho”.

E o Papa dá o remédio para a Igreja ir buscar a “parte do rebanho” que foi embora para as seitas:

“Isso mostra, caríssimos irmãos, que não basta chamar, convocar e esperar que as pessoas venham. Como diz outro lema da ação pastoral de uma das vossas Dioceses, deveis ser ‘uma Igreja que vai ao encontro do Povo!’. Deveis ser uma igreja que procure as pessoas, que as convide não somente no chamado geral dos meios de comunicação, mas no convite pessoal, de casa em casa, de rua em rua, num trabalho permanente, respeitoso, mas sempre presente em todos os lugares e ambientes”.

Prof. Felipe Aquino

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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