O culto a satanás – EB

i12magesEm síntese: A Itália foi, em começo de 1996, abalada pela prisão de um fundador de seita devotada ao Maligno: os Bambini di Satana (os Meninos de Satanás). Marco Dimitri quer ser chamado “a Besta 666” foi detido por haver violentado uma jovem de dezesseis anos durante uma “Missa Negra”. Os seus seguidores recrutam adeptos entre adolescentes alunos da Escola Média italiana. O fenômeno tende a se expandir na Itália e no mundo; explica-se, em parte, pelo desespero que acomete a sociedade contemporânea; descrente dos valores tradicionais, endeusa os antivalores (verdade é que o culto a Satanás já se praticava desde remotas épocas no seio do Cristianismo e fora). A “Missa Negra” é uma paródia da Missa católica; glorifica Satanás e leva à devassidão sexual, fruto de paixões excitadas.

No começo de 1996 veio a público na Itália um grupo de jovens intitulado Bambini di Satana – Meninos de Satanás. Tem sede em Bolonha. O respectivo chefe Marco Dimitri, fundou tal seita em 1982; foi preso, porém, em data recente, sob a acusação de ter violentado uma jovem de dezesseis anos durante uma “Missa Negra”. Os fatos noticiados pela revista Famiglia Cristiana de 21/02/1996,p. 30-32, nos dão ocasião de abordar a temática do culto a Satanás.

1. O FUNDADOR E A SEITA

Marco Dimitri nasceu em Bolonha. Adolescente, já era irrequieto, a tal ponto que foi expulso da Escola por molestar os seus colegas. Queria ser chamado Bestia (Besta). Os pais o levaram a um mago para que fosse exorcizado – o que só contribuiu para agravar a situação. Dimitri começou a ler “textos sagrados” do satanismo; entrou numa seita para-satânica, que ele depois abandonou, acabando por fundar sua seita própria: os Bambini di Satana.

O grupo se reúne em igrejas execradas ou profanadas e em antigos currais abandonados na região rural de Bolonha. Deixa seus sinais nas paredes dos respectivos templos, às vezes cobrindo símbolos do SS. Sacramento e altares; entre esses sinais estão as palavras de um hino, que assim reza: “Se queres conhecer-me, mata os teus semelhantes. A morte é a alma e a lei é Satanás; com ele hás de matar”. As letras podem aparecer em vermelho, cor de sangue, lembrando o que acontece nas cerimônias do culto satânico.

No princípio de 1996 Dimitri foi preso com dois de seus assessores mais próximos, acusados de ter violentado uma jovem de dezesseis anos. Não é a primeira vez que Marco cai sob os tentáculos da polícia; todavia sempre se livrou de qualquer penalidade, saindo com a “folha corrida limpa”. Isto lhe suscitou publicidade, coisa que ele sempre procurou avidamente, encontrando geralmente algum meio de comunicação que lhe desse cobertura.

Os seguidores de Dimitri recrutam adeptos entre os alunos menores de idade de escolas médias italianas através de emboscadas; Dimitri os reunia em seu escritório, no centro de Bolonha, onde lia cartas pintadas e recebia seus clientes, embora pareça pouco entender de ocultismo. Chegam às suas mãos centenas de cartas de meninas prontas a dar tudo por uma carícia. Esses contatos diversos levaram muito dinheiro à seita de Dimitri, o qual vendia por cinco milhões de liras italianas os cursos para os aspirantes ao sacerdócio satânico; somente no fim do curso era permitido ao candidato participar de um dos ritos satânicos de fundo sexual.

Os seguidores da seita, aparentemente bonachões, habituados à imprensa e à televisão, revelaram-se indivíduos perigosos, dados a todo tipo de perversão. A polícia encontrou nos arquivos do grupo fichas de matrícula assinadas com o sangue das pessoas matriculadas; cerca de cinqüenta destas eram menores de idade, alguns de doze anos, mas todos “consagrados” ao demônio. Encontraram-se também fotografias pornográficas e várias outros elementos congêneres.

Aliás, a pederastia, o sadismo e outras perversões sexuais são correntes entre os cultores de Satanás. Sexo, dinheiro e poder são os três objetivos do pacto com Satanás. Quanto a outras práticas da seita, é difícil conhecê-las, pois os adeptos guardam silêncio a respeito.

2. A PROPAGAÇÃO DO SATANISMO

As pesquisas não convergem entre si quando se trata de avaliar as proporções do fenômeno. Na Itália parece estar presente tanto no Norte como no Sul. Em Nápoles a Prefeitura mandou fechar um Centro Social no qual os rapazeS adoravam um grande bode pregado à cruz. Há quem fale de cinco mil satanistas na Itália. Todavia Silvana Radoani, que se tem dedicado a tale.tudo, afirma serem vinte mil, reunidos em 87 grupos na Itália e 128 grupos no mundo inteiro. Estes números são contestados pelo Prof. Massimo Introvigne, Diretor de um Centro de Investigações em Turim: julga que os autênticos satanistas, com doutrina, liturgia e organização, não são mais do que seiscentos, reunidos em vinte grupos. Em senso lato, podem ser mais numerosos, casos se considerem satanistas aqueles que usam símbolos satânicos ou os magos que evocam Satanás após cobrar alto preço ou ainda os jovens que se reúnem em grupos informais de satanismo “ácido”, mergulhado no mundo dos tóxicos e das drogas. Parece que, na verdade, os que freqüentam certos Centros de Satanismo são uma população flutuante ou também disposta a se dividir e subdividir, chegando alguns a se juntar ao crime organizado.

Todavia é certo que quem entrou num desses grupos, dificilmente consegue sair do mesmo. São poucos os egressos, e, quando ocorrem, geralmente sofrem de graves perturbações mentais.

Torna-se oportuno agora considerar o que seja a “Missa Negra”.

3. A MISSA NEGRA

A Missa Negra é um rito que faz a paródia da Missa católica, oferecendo a Satanás a adoração e o louvor devido a Deus só. Há várias cerimônias de “Missa N.gra”. Os rituais apresentados por Roland Villeneuve em seu livro “L’Univers Diabolique”, Paris 1972, pp. 264-370 datam dos séculos XVI/XVII e fazem eco aos de séculos anteriores; deles são extraídos os tópicos seguintes:

A Missa do Diabo, a partir do século XVI, é exatamente a contraparte do Ofício católico. É a paródia do que Jesus fez na sua última ceia. O que é abençoado, torna-se amaldiçoado; o que é branco, torna-se preto… Por ocasião da elevação da hóstia e do cálice, os sacerdotes-magos exclamam: “Corvo preto! Corvo preto!” para evocar o Maligno. E estes clamores são acompanhados por contorções e saltos. O Demônio, dizem, voa no momento da consagração em torno do cálice. Quando a assembléia viu essa borboleta levanta-se e conjura: “Belzebu! Belzebu!” Não há ato penitencial nem aleluia. Evitam-se os sinos e as sinetas, pois causam horrenda dor ao Demônio (…).

Como o cálice, também a hóstia é preta e, mais, difícil de ser engolida; traz a figura do Demônio, que diz por ocasião da consagração: “Isto é o meu corpo”. Ele levanta a hóstia acima de seus chifres; neste momento toda a assembléia a adora. Cercando o altar em semicírculo, prostram-se por terra. O Demônio faz então um sermão e intima-os a comungar, dando a cada qual um pedacinho da hóstia, a fim de que o possam engolir; entrega a cada qual dois goles de um remédio infernal, e uma bebida de tão mau gosto e odor que, ao engolirem-na, suam e, ao mesmo tempo, ficam gelados em seus corpos, em seus nervos e em suas medulas.

Era “bom costume” roubar o pão eucarístico nas capelas católicas a fim de o profanar no culto satânico. Satanás, dizem, divertia-se atirando as hóstias aos sapos. Estendia sua sanha aos presbíteros da Igreja, fazendo que estes apresentassem as hóstias ao Maligno. Na Alemanha e na Áustria as moças virgens eram incitadas a perfurar as hóstias com três punhaladas; uma certa Maria Renata Saenger percutia-as com alfinetes, em total ódio a Deus.

Em 15/01/1632 o Parlamento de Dole condenou à morte o cidadão Nicola Nicolas, de Anjeux, porque em 1628 levara o SS. Sacramento do altar para um culto satânico, tendo-o misturado com excrementos humanos por ordem do Diabo; as sagradas partículas desapareceram.

As profanações do SS. Sacramento era frequentes no fim da Idade Média e nos dois séculos seguintes: as hóstias eram pisoteadas, conculcadas, transpassadas…; podiam ser torradas no forno.

Entre outros traços, ainda se narra que o Diabo, por meio do seu representante, exortava os seus seguidores a praticar o estupro, o incesto e a sodomia. Os presentes respondiam em uníssono e tão forte quanto possível: “Mestre, ajuda-nos!” O Maligno então apressava-se por aspergi-los com a sua urina como se fosse água benta. O oficiante revestia uma capa preta sem cruz; tomava em mãos o Livro das blasfêmias, que servia de Cânon ou de Oração oficial e central da Missa Negra; continha as mais abjetas blasfêmias contra a SS. Trindade, o SS. Sacramento do altar, os outros sacramentos e ritos da Igreja Católica; estava redigido em língua que o povo ignorava. O sinal da cruz era feito obrigatoriamente com a mão esquerda.

Satã, por seu representante, ridicularizava os dogmas católicos e propunha uma vida nova aos seus fiéis; prometia-lhes não menos do que a vida eterna. No momento do Ofertório, declarava: “Eu sou o verdadeiro Deus; ao menos vocês me vêem, me sentem e me podem tocar. Ao passo que o Outro (…), é melhor não falar dele”. Os discursos de Satanás e sua presença eram tão “reais” e persuasivos que os magos o adoravam no sentido próprio da palavra. Uma certa Maria de Ia Ralde, de 28 anos de idade, afirmava que ela gostava de ir a um culto satânico tanto quanto a uma festa de núpcias; julgava que era muito mais satisfatório e gratificante do que ir a uma Missa convencional, pois o Diabo dava a crer que ele era o verdadeiro Deus, e a alegria dos feiticeiros, naquela ocasião, era o começo de uma glória muito maior.

Era normal recitar ladainhas e orações em honra do Demônio; eram acompanhadas de blasfêmias e expressões de demência.

São estes alguns traços típicos dos cultos satânicos, que culminam na chamada “Missa Negra”, paródia sacrílega da S. Missa. A existência desse ritual em nossos dias significa a capitulação da razão e da sanidade mental diante da imaginação e dos impulsos desregrados da carne. Também a mística precisa dos subsídios da razão. O Demônio existe, mas não pode ser concebido como um deus poderoso, ao qual se deva prestar culto.

APÊNDICE

Após redigir o artigo destas últimas páginas, recebemos outra notícia da Itália, extraída do jornal LA STAMPA, de Turim, edição de 28/02/1996, devida ao repórter Fabio Albanese.

Desta vez, o cenário é a cidade de Catânia na Sicília, onde foram presos em começo de 1996 cinco homens (alguns de certa posição social) acusados de violação de sepulturas, rapto e destruição de cadáveres, incêndios e atos obscenos. Tinham sede na igreja do antigo mosteiro beneditino de S. Nicoló l’Arena, igreja que parece ter sido transformada em templo satânico, onde se realizaram, como se crê, Missas Negras e orgias demoníacas. Tais protagonistas são, para grande surpresa dos habitantes de Catânia e do público em geral: o monge beneditino Michele Musumeci, de 42 anos, antigo Reitor da igreja de S. Nicolô l’Arena; Antonio Germanà, 34 anos, perito do Patrimônio Artístico-cultural de Catânia, encarregado da restauração da mencionada igreja do mosteiro beneditino; Santo Privitara, 37 anos, Conselheiro Comunal de Catânia, e dois animadores da cultura, a saber: Davide Pulvirenti, 20 anos, e Nicoló Elio Ambram, 28 anos.

A história começou quando em 1993 Antonio Germanà e Santo Privitera ofereceram seus préstimos gratuitos à Administração do Patrimônio Histórico de Catânia no intuito de recuperar o monumento igreja que fora abandonado havia decênios; o mosteiro tornara-se Faculdade de Letras. A Prefeitura aceitou a proposta e confiou a tarefa de recuperação a Antonio, que se põs a trabalhar com os quatro companheiros citados e alguns outros voluntários; enquanto as obras corriam, foram promovidas conferências e debates de ordem cultural, assim como uma visita à cripta da igreja, da qual participou o Prefeito. Eis, porém, que no quarteirão se foram espalhando rumores estranhos enquanto furtos e estragos na igreja eram denunciados pelos vigias do monumento. Este fato deu início ao inquérito por ordem da Prefeitura. Durante uma semana, os policiais montaram guarda ao monumento, mas nada foi apurado. Todavia a escuta de conversas telefônicas e as apreensões de correspondência particulares deram motivo ao aprisionamento dos cinco homens: eram acusados de ter violado urnas funerárias, utilizado paramentos litúrgicos da igreja e organizado relacionamento sexual em grupo por ocasião dos seus ritos. Destes parecem ter participado outras pessoas, inclusive menores de idade, que contaram ao magistrado o que viram e ouviram. Foi rescindido o contrato entre Antonio Germanà e a Prefeitura.

Os acusados rejeitam qualquer suspeita de desonestidade, afirmando que se trata de um complô contra eles. Santo Privitera declarou: “Aquilo de que nos acusam, é o contrário do que nós fizemos por aquela igreja. Ocorre uma confusão, fruto de mal-entendidos, que coincidem com a vinda do novo Reitor da igreja, Pe. Ignazio Mirabella”. Apesar das contestações, pesa sobre os cinco homens agrave acusação de ter cometido atos e ritos secretos e obscenos em homenagem ao Diabo na cripta da igreja de S. Nicoló l’Arena.

Eis, pois, mais um caso recente de culto ao Demônio na Itália.Pode-se afirmar tranquilamente que outros países são também sedes de tais orgias.

A propósito:

Roland Villeneuve L ‘Univers Diabolique. Albin Michel, Paris 1972. ,

Bernard Teyssedre, Naissance du Diable de Babylone aux Grottea de II Mer Morte. Paris, Albin Michel 1985.

Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb.
Nº 410 – Ano 1996 – p. 329

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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