O coração e o braço (ct 8,6)

digitalizar0004Neste ano, tive a oportunidade de conhecer a cidade de Ávila, na Espanha, cidade de Santa Teresa de Jesus.

Ávila está celebrando um momento histórico: o jubileu de 500 anos do nascimento de Santa Teresa.

Nesta pequena cidade, fui visitar o que eu mais queria: o primeiro Carmelo que Santa Teresa reformou; o de São José. Começou em uma simples casa de pedra. Ela deixou seu Carmelo original porque havia falta de espiritualidade, e eram divididos em duas classes, pois as irmãs que eram de famílias nobres viviam no luxo, enquanto as mais simples eram renegadas.

Pude ver esse primeiro Carmelo, a sua Igreja, e as irmãs enclausuradas que vivem ali. É incrível como parece que Santa Teresa vive naquele lugar. Deus me deu a graça de ali estar no dia de Nossa Senhora do Carmo, a protetora do Carmelo (16/07/15). E para completar esse dia de tanta graça, pude chegar bem próximo de duas relíquias desta grande santa – seu coração e seu braço – eles estão incorruptos. Essas relíquias estão dentro de belos relicários muito bem protegidas à sete chaves devido a tentativa de roubos anteriores.naescoladossantos

O braço que restou de seu corpo certamente significa que Deus quis deixar uma lembrança do grande trabalho que santa Teresa realizou para a reforma dos carmelos femininos dos seus tempos que estavam relaxados nos costumes. Por toda a Espanha ela estabeleceu conventos carmelitas reformados.

Por tudo o que conhecemos de sua vida, podemos dizer que a relíquia do coração pode significar o grande amor que ela tinha por Deus, pela Igreja, pela salvação das almas e pelo reino de Deus que a levou a trabalhar durante toda a sua vida pela renovação dos carmelos.

O coração e o braço tiveram um significado especial na vida de Santa Teresa, e também devem ter na nossa. E é justamente sobre isso que iremos meditar.

São Tomás de Aquino disse que “a obra principal do cristianismo” é a união da vida contemplativa com a vida ativa (S.Th. 3º p. 67, a. 2.ad Ium).

Mas o mais importante é a vida interior, a contemplação. Podemos compará-las, respectivamente, com o coração e os braços. Ambas são fundamentais, mas o coração é mais importante porque ele vive sem os braços, mas os braços não vivem sem ele.

É o coração que manda o sangue para o braço; sem isso ele morre. Assim a ação, sem a contemplação ela morre, ou então não produz. São Tomás dizia que: pela contemplação a alma se alimenta; pelo apostolado, dá-se (S. Th. 2º 2al, q188, a.6).

Os momentos diante do Sacrário e as comunhões espirituais frequentes, são a verdadeira causa da fecundidade da ação das pessoas que desempenham cargos, diz o Pe. Jean Baptiste Chautard. Ao mesmo tempo essa prática é a salva guarda das suas almas e a causa dos seus progressos na virtude.

É o que nos garante nada querer realizar além das nossas forças, habitua-nos a ver, em tudo, a vontade de Deus; só trabalhar nas obras que Deus deseja de nós, e só por amor d’Ele; oferecer a Deus o nosso trabalho renovando o propósito de trabalhar só para Ele e por Ele. É isso que São Paulo disse aos Colossenses:

“Tudo quanto fizerdes, por palavra ou por obra, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por Ele graças a Deus Pai” (Col 3,17).

“Tudo o que fizerdes, fazei de bom coração, como para o Senhor e não para os homens, certos de que recebereis como recompensa, a herança das mãos do Senhor. Servi a Cristo Senhor” (Col 3,23).

Isto se chama “reta intenção”, sem a qual, o que nós fazemos não tem valor para Deus. Muitas vezes nossas de boas ações praticadas perdem os méritos porque falta esta “reta intenção”. Só agiremos assim se tivermos muita contemplação e vida interior, porque somos vaidosos e queremos aparecer, se exibir, e se destacar.ensinamentodossantos

A ação para ser fecunda, carece da contemplação, porque, é por meio dela que a alma colhe no Coração de Jesus as graças que vai distribuir na ação. Sem a contemplação, vamos à ação de mãos vazias, como um bombeiro que vai apagar um incêndio, mas percebe que está sem água.

É na medida em que a alma se alimenta do amor de Jesus que ela é também capaz de inflamar as outras almas nesse mesmo amor. Por isso, os santos levaram tantas almas a Cristo, porque viviam a contemplação na ação, como Santa Teresa.

“Deus só abençoa as obras que pela prática da vida interior, aproximam os homens de Deus”, diz J. B. Chautard.

Que a exemplo de Santa Teresa de Ávila e por meio de sua intercessão possamos alcançar sempre alimento para a nossa vida espiritual na doutrina Celeste e sentir em nós o desejo da verdadeira santidade.

Prof. Felipe Aquino

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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