O casamento religioso de William e Kate, no dia 29 de abril de 2011, foi coisa de sonho. A realeza britânica tentou se superar em organização, solenidade e significado social. O sentido do evento se prestou para confirmar o sistema monárquico da Grã Bretanha, ao mesmo tempo refletindo um governo tradicional e moderno.
O aparato foi charmoso, encantador, quase hipnótico. Aliás, aconteceu tudo o que Deus não faz para nos levar a um ato consciente de fé. O Criador não nos encanta, nem nos arrebata para aderirmos a ele, sem um ato refletido da mente. Nem por isso a monarquia britânica está proi bida de fazer o que fez. Parece que ela desperta um arquétipo, presente no inconsciente da humanidade.
Os reis, e sobretudo as rainhas (no caso a princesa) são seres quase divinos, acima das perturbações da vida. São uma espécie de deusas, de fadas. Tudo o que fazem e falam, a sua maneira de vestir, viram lei não promulgada.
É aqui o momento da minha preocupação. Para o público de todo o planeta terra não foi dado nenhum realce ao sentido religioso desse casamento. Falharam na motivação essencial do enlace. Ninguém lembrou São Paulo que diz: “Grande é este mistério. Mas eu me refiro a Cristo e à Igreja” (Ef 5, 32).
Todo o ambiente respirou trajes, jóias, moda, aplausos, desfiles e pompas. Nas nossas igrejas católicas vamos ter um surto de vaidades nos casamentos. Haverá abundância de chapéus, de ternos, de jóias, de vestidos e perfumes.
Será que nosso esforço (uma luta inglória?), de motivarmos o sentido essencial do matrimônio, vai cair no vazio? Mais uma vez os pobres vão sentir vergonha de casar na Igreja, porque não podem acompanhar as vaidades – caríssimas diga-se de passagem – dessas festas matrimoniais?
Não sou contra o sentido social do casamento. Mas este é o momento dois do acontecimento. O momento um é a motivação religiosa, que deve perpassar todo o acontecimento. O que importa é a graça sacramental de Cristo em favor dos noivos, para que sejam fiéis, como Cristo é fiel à Igreja, e ela é fiel ao seu amado Salvador. O momento histórico pode ser útil para uma melhor reflexão, sobre a graça sacramental que Cristo quer conceder à Família.
Dom Aloísio Roque Oppermann, scj – Arcebispo de Uberaba/MG.
e-mail: domroqueopp@terra.com.br
Publicação autorizada para o site:
www.mosteiroimaculadaconceicao.org.br
Santuário de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa – Uberaba/MG