O Bem e o Mal: Maniqueísmo?

“Aceitar a distinção entre o bem e o mal ou entre bom comportamento e mau comportamento é maniqueísmo dualista. O bem estaria de um lado e o mal, do outro. Acabemos com a distinção”. É o que estão dizendo. – Será verdade?

O maniqueísmo é uma corrente de pensamento derivada de Mani (século III) na Pérsia.  Professava a existência de dois Princípios ou Seres Primordiais, dos quais um seria essencialmente bom (o Princípio da Luz) e o outro essencialmente mau (o das Trevas); o primeiro seria responsável pelo espírito, o outro, responsável pela matéria. Esta doutrina tem o nome de dualismo ontológico.  Não é aceitável, nem aos olhos da razão nem aos olhos da fé.

Existe, porém, o dualismo ético. Este professa que nenhum ser é essencialmente mau, mas, sendo dotado de vontade livre, pode um comportamento desarmonioso em relação à dignidade humana. Tal fato é da experiência de todos os homens; o próprio São Paulo podia dizer: “Não faço o bem que quero, mas pratico o mal que não quero” (Rm 7,19). Os instintos ou impulsos naturais (conscientes ou inconscientes) nem sempre esperam a autorização da razão para se manifestar.  Compete à pessoa de bem coibi-los e dar-lhes remédio, para não se tornar incoerente. Quem sente, mas não consente em tais impulsos, não está pecando.  Existem, portanto, o bem e o mal no plano ético ou no plano da conduta humana. Quem reconhece isto, está longe de ser maniqueu, pois maniqueísmo, como dito, se refere ao plano ontológico, e não ao plano moral. Observemos que um criminoso, por mais malvado que seja, tem prendas da natureza humana (inteligência, vontade, afetividade…); é corajoso, perspicaz; infelizmente, porém, aplica esses dons à destruição e ao terror, em vez de os dedicar à construção da sociedade; tal indivíduo por se recuperado em muitos casos, tornando-se um bom cidadão.  Portanto não e mau essencialmente, mas apenas em seu agir.

Pergunta-se agora: como reconhecer concretamente o que é moralmente bom ou mau? – A resposta não é difícil: existem ditames éticos impregnados em todo ser humano, ditames que constituem a lei natural; a existência desses ditames, anteriores a qualquer crença religiosa, mais uma vez se manifestou em 1948 na promulgação da Carta dos Direitos Humanos; após os crimes de 1939-45, os povos da terra resolveram afirmar solenemente a necessidade de se respeitar a pessoa do próximo, seus bens, sua fama, sua liberdade… Vemos, pois, que a reafirmação do bem (honestidade, lealdade, fidelidade…) e do mal (homicídio, furto, calúnia…) como comportamentos antagônicos é algo de sadio e mesmo indispensável à vida social.  Sem isso, caímos no caos e na desgraça.

Revista: “Pergunte e Responderemos”

D. Estevão Bettencourt, osb

Nº 377 – Ano: 1993 – p. 480 e 479

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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