Revista: “PERGUNTE E
RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Nº 264 – Ano 1982 – p.
333
O famoso escritor russo Léon
Tolstói (1828-1910) quis certa vez caracterizar o Cristianismo mediante a
seguinte imagem:
“Cristo mostra ao homem uma
perfeição que ele não consegue atingir, mas à qual ele aspira do fundo do seu
coração; mostra ao homem um ideal tal que o homem pode medir a distância que
dele o separa. A doutrina de Cristo se assemelha a um homem que traz uma
lanterna diante de si na ponta de uma vara mais ou menos longa; a luz está
sempre diante dele e lhe revela a cada instante um espaço novo que ela ilumina
e que vai caminhando com ele” (Postfácio da Sonata a Krautzer).
Tolstói acertou (…). Ele não
nega que o Cristianismo seja amor, justiça, paz (…), mas põe em relevo a nota
dinâmica e sequiosa do amor, da justiça e da paz cristãs. As suas palavras hão
de ser entendidas à luz do sermão da montanha (Mt 5-7), que aponta ao cristão
metas sempre mais elevadas: “Se a vossa justiça não for melhor do que a dos
escribas e fariseus, não entrareis no reino dos céus” (Mt 5,20). Donde se vê
que o cristão é alguém que nunca se pode assentar contente consigo mesmo como
se já tivesse alcançado o seu ideal; ao contrário, é um perene caminheiro, que à
sua frente vê constantemente um sinal de mais ou ainda mais. Chamado a ser
filho de Deus não por nome apenas, mas em realidade (cf. 1Jo 3,1-3), sabe que
nunca estará conforme ao modelo que o Pai traçou para ele. Por isto tende
sempre a ultrapassar…: ultrapassar primeiramente a si mesmo, desenvolvendo a
sua estatura interior; ultrapassar também a sua criatividade, descobrindo novas
maneiras de implantar o Evangelho neste mundo, embora o cristão saiba que não é
neste mundo de penumbras e símbolos que os homens chegarão à plenitude da vida.
Fazendo eco a Tolstói, dizia
sabiamente Henri Bergson, o filósofo judeu que muito se aproximou do Evangelho:
“O que me impressionou em
Jesus, é o programa de ir sempre à frente. Em consequência, poder-se-ia dizer
que o elemento estável do Cristianismo é o de nunca parar”.
É para excitar tais anseios
que mais um fascículo de PR é dado a lume. Tentando dissipar dúvidas e projetar
luz, possa contribuir para abrir caminhos aos que foram chamados a ser
peregrinos do Absoluto!