De acordo com informação da Folha de São Paulo*, em 2011 o mercado de casamentos movimentou R$ 11 bilhões no país, e não parou de crescer nos últimos vinte anos, segundo José Luiz de Carvalho, organizador da feira Expo Noivas & Festas. Em São Paulo, foram cerca de R$ 3 bilhões. O faturamento é recorde. O mercado havia movimentado cerca de R$ 10 bilhões em 2010 e vem aumentando desde 1994, ano da primeira edição da feira. O que significa isso?
É fácil entender que o casamento é uma realidade intrínseca à natureza humana. Desde que Deus criou o homem e a mulher e mandou que crescessem juntos e se multiplicassem (cf. Gn 1,26), jamais o casamento foi extinto. Nem mesmo na realidade ateísta do comunismo russo, anti-Igreja, o casamento não acabou. Lenin e Stalin tentaram eliminá-lo, mas depois o aceitaram, certos de que a Rússia sem ele “estava virando um bordel”.
Não há dificuldade humana que possa apagar nos corações dos homens e das mulheres o desejo de se unirem, gerar os filhos, constituírem um lar. É da vontade de Deus, que quis que a família fosse a base da sociedade. Deus disse ao primeiro casal: “O homem deixará a casa de seu pai e de sua mãe, se unirá à sua mulher e sereis uma só carne” (Gn 2,24). Homem e mulher se completam, um foi feito para o outro. Deus sentiu Adão na sua solidão e lhe disse: “Vou dar-lhe uma ajuda adequada” (Gn 2, 18). Qualquer outra modalidade de casamento que não seja esta, está fora do plano de Deus e não pode trazer felicidade duradoura.
O casamento é um meio de crescimento nas virtudes e de santificação; pois cada um dos cônjuges precisa aprender a amar o outro, aceitar seus defeitos, ajudá-lo a superá-los, ter compreensão, paciência, tolerância, bondade, carinho, desprendimento e renúncia, para que haja harmonia conjugal. Ora, tudo isso é uma escola de virtudes e de santidade; exige autocontrole, amor e perseverança.
Isso não é fácil, e é por isso que muitos casais acabam se separando muito cedo. Muitos não entenderam que o casamento não é uma curtição a dois, mas uma missão bela e sagrada a ser realizada a dois. Ele tem duas dimensões maravilhosas: a primeira é fazer o outro crescer, com o meu esforço, a minha oração, o meu carinho, etc. A segunda é a beleza dos filhos gerados para Deus, futuros cidadãos da terra e do céu. Não há obra mais bela e preciosa que um ser humano possa fazer do que gerar um filho. Tudo o mais um dia vai acabar, menos o filho gerado, pois tem uma alma imortal, imagem e semelhante a Deus. O que pode superá-la? Daí se agiganta o sentido do casamento.
Na família, Deus nos ensina a amar e nos dá a oportunidade de sermos amados.
A harmonia conjugal é atingida quando o casal, na vivência do amor, “supera-se a si mesmo” e harmoniza as suas qualidades numa união sólida e profunda. Quando isto ocorre, cada um passa a ser enriquecido pelas qualidades do outro. Há, então, como que uma transfusão de dons entre ambos. Mas para isso, é preciso que o casal chegue à unidade, superando as falsidades, infantilidades, mentiras e infidelidades. Para chegar a este ponto é necessário olhar para o outro com muita seriedade, respeito e atenção.
Ninguém é obrigado a se casar e a constituir uma família, mas se tomamos esta decisão, então devemos “casar pra valer”, com toda responsabilidade. Aquela pessoa com quem decidimos casar é a “escolhida” entre todos os homens ou mulheres que conhecemos; e, portanto, como o(a) eleito(a), devemos ter-lhe em alta conta, como a pessoa “especial” na nossa vida, merecedora portanto de toda atenção e respeito.
É lamentável que entre muitos casais, com o passar do tempo, e com a rotina do dia-a-dia, a atenção com o outro, e, pior ainda, o respeito, vai acabando. Não tem lógica, por exemplo, que um ofenda o outro com palavras pesadas e que provocam ressentimentos; não tem cabimento que o marido fique falando mal da esposa para os outros, criticando-a para terceiros. Isto também é infidelidade. Esta não acontece somente no campo sexual.
Por outro lado, é preciso cuidar para que a atenção, o carinho, para com o outro não diminua. É importante manter acesa a chama do desejo de agradar o outro. São nos detalhes que muitas vezes isto se manifesta: Qual é a roupa que ela gosta que eu vista? Qual é o corte de cabelo que ele gosta? Qual é a moda que ele gosta? Qual é a comida que ele gosta? Quais são os móveis que ela gosta? Qual é o carro que ela prefere? Qual é o lazer que ele gosta? Enfim, a preocupação em alegrar o outro, sem cair no exagero, é claro, é o que mantém a comunhão de vidas.
Isto não quer dizer que o amor conjugal deva ser um “egoísmo a dois”. Como dizia Exupéry, “amar não é olhar um para o outro, mas é olhar ambos na mesma direção”. Isto é, o casal não pode parar em si mesmo, ele tem grandes tarefas pela frente: os filhos, a ajuda aos outros, a vida na Igreja, etc. Importa olhar na mesma direção e caminhar juntos.
Prof. Felipe Aquino
* http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/80062-mercado-de-casamentos-nao-para-de-crescer.shtml