No Tempo Comum, o “mistério de Cristo é celebrado na sua globalidade”, diz liturgista

Segundo o ACI Digital (17/05/2024), a partir da segunda-feira (20), a liturgia da Igreja volta a celebrar o Tempo Comum, um tempo “primordial” e que não pode ser visto como “de menos importância”, disse à ACI Digital o doutor em Liturgia, padre Geraldo Dias Buziani, da arquidiocese de Mariana (MG). Trata-se, disse o sacerdote, de um tempo em que o “mistério de Cristo é celebrado na sua globalidade”.

Segundo as Normas Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário, “no decorrer do ano, a Santa Igreja comemora em dias determinados a obra salvífica de Cristo. Cada semana, no dia chamado domingo, dia do Senhor, ela recorda a ressurreição do Senhor, que celebra também uma vez por ano, com a bem-aventurada Paixão na solenidade máxima da Páscoa. Durante o ciclo anual desenvolve-se todo o mistério de Cristo e comemoram-se os aniversários dos santos”.

“O Tempo Comum tem sua origem no domingo como celebração da Páscoa semanal. Por isso, não podemos entendê-lo como tempo de menos importância em relação aos dois outros grandes ciclos, que são Advento-Natal-Epifania e Quaresma-Páscoa-Pentecoste. Ele é o tempo primordial, justamente por que está na origem do mistério que a gente celebra”, disse o padre Buziani, pároco de Nossa Senhora da Assunção, a catedral de Mariana, diretor de estudos e professor de Liturgia no Instituto de Teologia São José, da arquidiocese de Mariana.

O sacerdote destacou que esse tempo litúrgico, ao contrário dos outros em que se celebra “um aspecto particular do mistério de Cristo”, é o tempo “no qual se celebra o mistério de Cristo na sua globalidade, que vai desvelando e nos revelando o mistério de Cristo e nos permite caminhar com Cristo no cotidiano do seu revelar-se na história”.

Sobre o Tempo Comum, dizem as ‘Normas Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário’: “Além dos tempos que têm características próprias, restam no ciclo anual trinta e três ou trinta e quatro semanas nas quais não se celebra nenhum aspecto especial do mistério de Cristo; comemora-se nelas o próprio mistério de Cristo em sua plenitude, principalmente aos domingos”.

“O Tempo Comum começa na segunda-feira que segue ao domingo depois do dia 6 de janeiro e se estende até a terça-feira antes da Quaresma inclusive; recomeça na segunda-feira depois do domingo de Pentecostes e termina antes das primeiras vésperas do 1º domingo do Advento”, acrescenta.

O padre Buziani disse que o Tempo Comum “nasce do compromisso da comunidade cristã de celebrar a Páscoa semanal como memória viva do mistério pascal” e “é um tempo no qual temos a oportunidade de celebrar e conhecer os gestos do cotidiano, da missão de Jesus”. “Esse tempo nos proporciona caminhar com o Mestre, escutar o Mestre”, completou.

As leituras dos domingos

O sacerdote destacou a importância do Lecionário, livro que traz as leituras bíblicas organizadas para cada celebração litúrgica. Ali se tem “uma leitura semicontínua, ou seja, escolhendo perícopes necessárias e importantes que possam ajudar os fiéis no crescimento espiritual” e “se dá esse encontro com Cristo, na Palavra proclamada, na Eucaristia celebrada”.

O liturgista destacou que, “a partir do terceiro domingo do Tempo Comum inicia-se a leitura semicontínua dos Evangelhos sinóticos: no Ano A, temos Mateus, meditação cristológica; no Ano B temos Marcos, vamos conhecer Jesus pelo olhar de Marcos, sendo que do décimo sétimo ao vigésimo primeiro domingo temos a leitura do Pão da Vida tirados de João, porque o evangelho de Marcos é menor; o ano C, Lucas, a ação do Espírito Santo, os evangelhos da infância, das grandes pregações doutrinais”. Em 2024 a Igreja está celebrando o Ano B.

Desse modo, disse, “vamos tendo essa oportunidade, com a ajuda dos evangelistas adentrando nos gestos, palavras e ações de Jesus, auxiliados também pelas cartas na segunda leitura aos domingos”.

“Essas leituras organizadas dão a caracterização do domingo e, como estão organizadas, elas nos permitem contemplar, adentrar e meditar os gestos cotidianos de Jesus, que vão nos permitir nos assimilarmos um pouco mais a Ele, sendo transfigurados por Ele em sua graça”, acrescentou.

Segundo o sacerdote, “esse tempo comum” é também “tempo do cotidiano”. “É a gente saber encontrar essa espiritualidade do cotidiano, ver o cotidiano também o lugar salvífico, o momento salvífico”, disse.

O padre destacou que “temas importantes” vão sendo “apresentados na liturgia da Palavra no Tempo comum, como a renúncia, a humildade, a temática da oração, do perdão, da paz”. E esse tempo “tem o seu cume na solenidade de Cristo Rei do Universo, nos mostrando esse convite de crescimento, de maturação, de conhecimento e encontro cotidiano que possa nos levar a proclamar Cristo Senhor e Rei do universo”.

A cor verde do tempo comum

Durante o Tempo Comum, a Igreja usa a cor verde que, segundo o padre Buziani, “que destaca esse tempo da simplicidade, da perseverança, do cotidiano, de se alimentar a esperança, de caminhar com o Mestre”.

O liturgista lembrou que há também “algumas solenidades do Tempo Comum, que são: Santíssima Trindade, Corpus Christi, Sagrado Coração de Jesus e Cristo Rei do Universo; além de algumas memórias, festas de santos e festas marianas”.

“Principalmente essas solenidades cristológicas permitem, ao longo do Tempo Comum, retomar um aspecto do mistério do Cristo, para que, meditando-as e celebrando-as, possamos entrar cada vez mais não só na compreensão, mas também na experiência desse mistério”, disse.

A solenidade da Santíssima Trindade é celebrada no domingo depois de Pentecostes, este ano, 26 de junho; Corpus Christi é celebrado 60 dias depois da Páscoa, na quinta-feira depois da Santíssima Trindade, este ano, 30 de maio; o Sagrado Coração de Jesus é celebrado na segunda sexta-feira depois de Corpus Christi, neste ano 7 de junho; e Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo é celebrado no último domingo do ano litúrgico, este ano, 24 de novembro.

Como viver bem o Tempo Comum

O padre Geraldo Buziani deixou alguns conselhos para se viver bem o Tempo Comum. O primeiro deles é “redescobrir a centralidade do domingo”. “Viver bem o Tempo Comum é redescobrir, sobretudo, a centralidade do domingo, do seu caráter pascal e perceber nos dias da semana essa conexão com o mistério pascal celebrado no domingo”.

O padre também orientou a “aguçar os sentidos de escuta e percepção dos gestos de Jesus, uma atenção aos domingos, porque são caracterizados a partir das leituras bíblicas. Então, uma escuta atenta da Liturgia da Palavra que é proposta nos domingos do Tempo Comum, justamente numa leitura semi-contínua que vai apresentando momentos chave da vida do Mestre”, disse, destacando que essa Palavra deve ser levada para o “cotidiano”.

“Esse é meu convite, de olhar o tempo comum com olhar especial. É o tempo da maturação, tempo da perseverança, tempo do discipulado, tempo no qual, no cotidiano, podemos fazer a experiência salvífica do encontro com Cristo, mediado pela Palavra e pela Eucaristia”, concluiu.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/58061/no-tempo-comum-o-misterio-de-cristo-e-celebrado-na-sua-globalidade-diz-liturgista

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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