Revista : “PERGUNTE E
RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Nº 388 – Ano: 1994 – p.
431
Alguns leitores pedem uma
palavra sobre o Movimento Sacerdotal Mariano (MSM) nas páginas de PR. Tal Movimento, aliás, é acompanhado pelo
livro “Mensagem aos Sacerdotes, filhos prediletos de Nossa Senhora”, portador
das linhas diretrizes de tal Movimento de espiritualidade. O livro tem sido controvertido, porque está
dito que reproduz mensagens que a Virgem SS. terá comunicado ao Pe. Stefano
Gobbi mediante locuções interiores. Eis
breve parecer sobre o assunto, parecer inspirado exclusivamente pela intenção
de servir à S. Igreja.
Distingamos, como, aliás,
faz o próprio Pe. Gobbi à p. XXXVI do livro, entre o MSM e o livro concomitante
:
1) O MSM é muito
recomendável, pois visa à consagração dos sacerdotes e dos fiéis leigos e Nossa
Senhora, incentivando a piedade e a renovação de vida numa hora tão carente de
estímulos. O MSM vem a ser uma das muitas
iniciativas hoje existentes na Igreja para reunir os fiéis e oferecer-lhes um
programa de espiritualidade. Fica a
critério de cada fiel católico aderir a este ou aquele outro Movimento,
atendendo às suas disposições pessoais.
O S. Padre e muitos Bispos têm apreciado e incentivado o MSM.
2) O livro de locuções
interiores é algo de discutido pela índole mesma extraordinária de tal
fenômeno; o próprio Pe. Gobbi cataloga as objeções que se têm levantado contra
tal obra, visto que locuções interiores podem não ser senão uma manifestação patológica
e ilusória. Com muita sinceridade o Pe.
Gobbi reconhece o perigo de ilusão, mas julga que nem por isto se pode de
antemão condenar qualquer manifestação de tal tipo. O Pe. Gobbi tem certeza de que a Virgem SS.
lhe fala. Os critérios para avaliar a
autenticidade de tal fenômeno são:
ortodoxia da doutrina
proposta;
fidelidade à Igreja,
especialmente ao Papa e aos pastores legítimos;
humildade e despretensão da
pessoa agraciada pelas locuções;
frutos positivos decorrentes
das respectivas mensagens (afervoramento, conversões, catequese…).
Ora tais requisitos têm-se
verificado em torno das mensagens atribuídas a Nossa Senhora. Especialmente os frutos permitem reconhecer a
árvore (cf. Mt 7, 15-20). Daí não se poder, a rigor, impugnar o fenômeno das
locuções interiores e o que elas transmitem, na obra do Pe. Gobbi. Pode haver, sem dúvida, quem não se
identifique com a tônica colocada sobre este ou aquele ponto, como, por
exemplo, a explicação dada aos números 666 e 333 (ver Ap. 13,18) às páginas 647s;
a referência ao Anticristo (pp. 649s), ao sinal impresso sobre a fronte e sobre
a mão (pp. 655s); em suma, a interpretação do Apocalipse, que ocorre esparsa
pelo livro, é de nível pastoral, nem sempre correspondente à da exegese
científica; a predição da iminente segunda vinda de Jesus (pp. 704.712) é algo
de controvertido.
Em suma, nota-se que a
mensagem das locuções interiores é um apelo à conversão ou ao afervoramento – o
que certamente é muito válido. Há aí
censura de erros doutrinários e morais apontados com realismo e com
oportunidade – o que também é válido. As
previsões, ameaças e promessas é que são questionáveis; há tantas previsões e
ameaças paralelas atribuídas ao Senhor e aos Santos em nossos dias que é lícito
perguntar se, de fato, vêm do céu ou são projeções da mente humana cansada de
tantos males e flagelos contemporâneos e, por isto, espontaneamente disposta a
crer que “só Deus dá um jeito nisso”.
Podemos crer que estamos à beira de uma catástrofe mundial, mas não
convém acentuar esta hipótese como se fosse uma certeza e um referencial para o
comportamento dos cristãos.
Ao cristão compete viver
como se estivesse sempre diante do juízo de Deus, sem dúvida; isto implica que
qualquer momento pode ser o último.
Basta que saiba isto para que se prepare constantemente para o encontro
final com o Senhor Jesus; não há necessidade de profecias que definam algum
tempo ou momento com precisão. Disse o
Senhor Jesus: “Não compete a vós conhecer os tempos e os momentos que o Pai
fixou com a sua própria autoridade” (At 1,7).