Morte e Sepultamento de Jesus

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São Leão Magno (Sermões sobre o Natal e a Epifania) Papa e doutor da Igreja (440-461):

A razão profunda de Cristo ter querido nascer de uma virgem foi “a de ocultar ao demônio que a salvação nascera para os homens, a fim de que, ignorando a geração espiritual, não julgasse que havia nascido de modo diferente aquele que via semelhante aos outros.

Notando que Sua natureza era igual a de todos, supunha que Sua origem fosse a mesma; e não percebeu que estava livre dos laços do pecado aquele que não encontrou isento da fraqueza dos mortais. Deus, que em Sua justa misericórdia dispunha de múltiplas maneiras de restaurar o gênero humano, escolheu esse meio de salvação que, para destruir a obra do demônio, não recorreria a Seu poder; mas à Sua justiça. Pois o antigo inimigo, em seu orgulho, reivindicava com certa razão seu direito à tirania sobre os homens e oprimia com poder não usurpado aqueles que havia seduzido, fazendo-os passar voluntariamente da obediência aos mandamentos de Deus para a submissão à sua vontade.

Era portanto justo que só perdesse seu domínio original sobre a humanidade sendo vencido no próprio terreno onde vencera”.

“Conhecendo o veneno com que corrompera a natureza humana, jamais (o demônio) julgou isento do pecado original aquele que, por tantos indícios, supunha ser um mortal. Obstinou-se pois o salteador impudente e cobrador insaciável em se insurgir contra aquele que nada lhe devia; mas, ao perseguir n’Ele a falta original comum a todos os outros homens, ultrapassa os direitos em que se apoiava, exigindo daquele em quem não encontrou vestígio de culpa a pena devida ao pecado. Fica portanto anulada a sentença (cf. Cl 2,14) do pacto mortal que ele havia maldosamente inspirado e, por ter exigido contra a justiça além do que era devido, todo o débito é cancelado. Aquele que era forte é amarrado com seus próprios laços (…). O príncipe deste mundo é acorrentado, são-lhe tirados seus instrumentos de captura (…) a morte é destruída por outra morte, o nascimento renovado por outro nascimento, porque ao mesmo tempo a redenção põe fim a nosso cativeiro, a regeneração transforma nossa origem e a fé justifica o pecador”.

“É Ele que nos perdoou todos os pecados, cancelando o documento escrito contra nós, cujas prescrições nos condenavam. Aboliu-o definitivamente, ao encrava-lo na Cruz. Espoliou os Principados e Potestades, e os expôs ao ridículo, triunfando deles pela cruz” (2 Col2,14).

Leia também: Por que a morte de Cristo na Cruz?

Onde estava Jesus entre Sua morte e ressurreição?

É verdadeira a ressurreição de Jesus?

Jesus Cristo, o único Salvador!

Como morreu Jesus?

O Sepultamento de Jesus

“Pela graça de Deus, Ele provou a morte em favor de todos os homens” (Hb 2, 9).

Sua Alma esteve separada do seu Corpo do instante da morte ao momento da Ressurreição.

É o mistério do Sepulcro e da descida aos Infernos, mistério do Sábado Santo, que manifesta o grande descanso sabático (Hb 4,7-9) de Deus depois da realização da salvação dos homens, que traz a paz ao universo inteiro:

“Estive morto, e eis-me de novo vivo pelo séculos dos séculos, e tenho as chaves da morte e da região dos mortos” (Ap 1,18).

S. Gregório de Nissa:

“Deus [o Filho] não impediu a morte de separar a alma do corpo, segundo a ordem necessária à natureza, mas os reuniu novamente um ao outro pela Ressurreição, a fim de ser Ele mesmo em sua pessoa o ponto de encontro da morte e da vida, sustando nele a decomposição da natureza, produzida pela morte, e tornando-se Ele mesmo princípio de reunião para as partes separadas” (Or. Catech., 16: PG: 45,52B).

São João Damasceno:

“Pelo fato de que na morte de Cristo a alma tenha sido separada da carne, a única pessoa não foi dividida em duas pessoas, pois o corpo e alma de Cristo existiram da mesma forma desde o início na pessoa do Verbo; e na Morte, embora separados um do outro, ficaram cada um com a mesma e única pessoa do Verbo” (De fide orthodoxa, 3, 37: PG 94, 109 BA).

Catecismo (n. 627):

“A morte de Cristo foi uma Morte verdadeira enquanto pôs fim à sua existência terrena. Mas devido à união que a Pessoa do Filho manteve com seu corpo, não estamos diante de um cadáver como os outros, porque “não era possível que a morte o retivesse em seu poder” (At 2, 24) e porque a virtude divina preservou o Corpo de Cristo da corrupção” (S. Tomás, Suma Th. III, 51, 3).

“Ele foi eliminado da terra dos vivos” (Is 53,8).

“Minha carne repousará na esperança, porque não abandonarás minha alma no Hades, nem permitirás que teu Santo veja a corrupção” (At 2,26-27).

A Ressurreição de Jesus “no terceiro dia” (1 Cor 15,4) foi prova disso, pois se esperava que a corrupção se manifestaria a partir do quarto dia (Jo 11,39).

Sepultados com Cristo no Batismo

O Batismo (imersão) significa eficazmente a descida ao túmulo do cristão que morre para o pecado com Cristo em vista de uma vida nova:

“Pelo Batismo nós fomo sepultados com Cristo na morte, a fim de que, como Cristo foi ressuscitado entre os mortos pela glória do Pai, assim nós também vivamos uma vida nova” (Rm 6, 4; Col 2,12).

Jesus Cristo desceu aos infernos

Com sua Alma Jesus esteve com os mortos na Morada dos Mortos, como Salvador, proclamando a Boa notícia ao espíritos ali aprisionados (1Pd 3, 18-19).

Estavam privados da visão de Deus (“Limbo”).

Não significa que a sorte deles seja idêntica, como mostra Jesus na parábola do pobre Lázaro e o rico epulão (Lc 16, 22s).

“Jesus não desceu aos infernos para libertar os condenados (Conc. de Roma de 745, DS 587), nem para destruir o Inferno da condenação (DS 1011), mas para libertar os justos que o haviam precedido” (Conc. de Toledo, de 633, Cap. I, DS 485).

“A Boa nova foi igualmente anunciada aos mortos…” (1Pd 4,6).

A descida aos Infernos é o cumprimento, até a sua plenitude, do anúncio evangélico da salvação. É a fase última da missão de Jesus.

Cristo desceu portanto ao seio da terra, a fim de que “os mortos ouçam a voz do Filho de Deus e os que a ouvirem vivam” (Jo 5, 25).

“Jesus, o Príncipe da vida (At 3,15), destruiu pela morte o dominador da morte, isto é, o Diabo, e libertou os que passaram toda a vida em estado de servidão, pelo temor da morte” (Hb 2, 14-15).

A partir de agora, Cristo ressuscitado “detém a chave da morte e do Hades” (Ap 1,18) e “ao nome de Jesus todo joelho se dobra no Céu, na Terra e nos Infernos” (Fl 2, 10).

Antiga homilia de autor grego desconhecido – Lit. Horas, Sábado Santo:

Um grande silêncio reina hoje na terra, um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio porque o Rei dorme. A terra tremeu e acalmou-se porque Deus adormeceu na carne e foi acordar desde séculos… Ele vai procurar Adão, nosso primeiro Pai, a ovelha perdida. Quer ir visitar todos os que se assentaram nas trevas e à sombra da morte. Vai libertar de suas dores aqueles dos quais é filho.

Levanta-te, tu que dormes, pois não te criei para que fiques prisioneiro do Inferno. Levanta-te dentre os mortos, eu sou a Vida dos mortos.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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