Morte aos idosos

Estes dias uma notícia chamou minha atenção: “Asilo na Alemanha converte-se em abrigo para idosos que fogem da Holanda com medo de serem vítimas de eutanásia. São quatro mil casos de eutanásia por ano, sendo um quarto sem aprovação do paciente”.

Quatro mil por ano, sendo um mil (1/4), praticado sem autorização da própria pessoa ou da família. Mesmo os outros três mil com autorização são inimagináveis. Justamente fogem para a Alemanha onde esta prática fora comum no período nazista e agora é prática corriqueira num país dito democrático e promotor dos “direitos humanos”: a Holanda, justamente onde os médicos se negaram a matar quando forçados pelo exército de Hitler.

Os médicos justificaram como motivo principal de 60% dos casos de morte antecipada a falta de perspectiva de melhora dos pacientes, vindo em segundo lugar a incapacidade dos familiares de lidar com a situação 32%. Tudo porque a Lei holandesa deixa o médico livre para praticá-la, a tal ponto dos idosos terem medo dos profissionais da saúde.

Enquanto lei, a eutanásia na Holanda foi regulamentada no ano 2000, no entanto já era praticada há muito tempo, tendo a conivência do governo e da própria sociedade que incentivou sua discussão e permissão. Um dado alarmante: “90% dos alunos de economia são a favor da eutanásia”, porque o Estado deve gastar com a gestão “pública” e não com velhos, dizem.

A situação chegou a tal ponto que a Real Sociedade Holandesa de Farmacologia distribui um manual de eutanásia a todos os médicos e os diretores de hospitais orientando os profissionais de saúde a darem injeções letais em pacientes idosos, provando que as políticas de “saúde”, antes voltadas para eliminar a dores dos pacientes, agora são para eliminar a vida. Veja este caso relatado por uma medico holandês (Jack Willke) no ano 1999, num encontro em Brasília: “Uma senhora teve o diagnóstico de câncer sem cura, mas a paciente, apesar disso não estava passando mal e ainda tinha condições de viver um tempo. O médico saiu alguns dias para descanso e quando voltou não encontrou mais sua paciente, porque seu colega aplicou-lhe a eutanásia. Ao questionar o colega, dizendo que a mulher ainda podia viver um tempo, o “matante” justificou-se: ‘Sim, sei disso, mas não havia cura para ela e, de qualquer modo, estávamos precisando da cama que ela estava ocupando'”.

O mundo moderno se orgulha de suas idéias liberais. Mas começa a sentir que “o feitiço está se voltando contra o feiticeiro”. Nos anos setenta e oitenta, muitos daqueles que hoje estão nos asilos ou são idosos eram pessoas jovens ou quando muito de meia idade. A discussão entrou naquela sociedade e alguns se opuseram, mas uma grande maioria aprovou tais discussões que se transformaram em lei, só não atinaram que um dia esta lei seria aplicada a eles próprios, quando velhos, como o são hoje. Este caso deve ser um exemplo para o que propõe a Campanha da Fraternidade de 2008. Parece que nós brasileiros, começamos a fraquejar na defesa da vida, nos esquecendo que o processo natural de quem apóia a morte indiscriminada, é se tornar vítima da mesma. “Os médicos que praticam a eutanásia nos matarão com nosso consentimento se tiverem permissão para fazer isso. E nos matarão sem consentimento se não conseguirem permissão. A eutanásia não é um direito. É a abolição de todos os direitos” disse um cidadão holandês, assim como outras propostas de ceifar a vida.

É triste imaginar que exatamente num país onde se localiza a Corte Criminal Internacional (CCI), na cidade de Haia, isto aconteça. A questão da eutanásia na Holanda é um problema que ameaça se expandir para o mundo, o Brasil está entrando na onda, em nome de “prover a saúde pública”.
Este assunto é muito vasto, por isso não tenho a pretensão de esgotá-lo, mas fica o alerta para que não sejamos manipulados por noticias e propostas enganosas, porque aquilo que fazemos hoje ou permitimos que os governos façam ao nosso semelhante, certamente se voltará contra nós muito em breve.

Umas das alegrias que tenho quando visito meus pais é observar seus cabelos brancos e suas rugas, mesmo percebendo que a idade e a saúde já os aflige, outra alegria é visitar minha avó materna, com 100 anos de idade, cuidada com carinho e desvelo pelas minhas tias, acredito que este carinho e segurança a faz viver tanto, permitindo que viva ainda mais, pois é impressionante sua vitalidade. Se o “economez” – uma espécie de doutrina supra-econômica que toma conta da sociedade estivesse em vigência entre nós – talvez ela numa das suas consultas já tivesse sofrido a eutanásia e eu não estaria desfrutando de tão agradável companhia.

Victor Hugo, autor de “A História de um Crime”, disse: – “O mal que se comete por uma boa causa continua sendo mal”. A eutanásia, seja por qualquer motivo, nunca será um bem.

Pe. Crispim Guimarães
Coordenador de Pastoral da Diocese de Dourados

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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