Meditações da Via Crucis no Coliseu – Parte Final

NONA
ESTAÇÃO
Jesus cai pela terceira vez

V /. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R /. Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.

Leitura do livro das Lamentações 3, 27-32

Bom é para o homem suportar o judô desde sua juventude. Que se sinta solitário
e silencioso, quando o Senhor se impõe; que ponha sua boca no pó: talvez haja
esperança! Que dê sua face a quem o fere e se sacie de opróbrios. Pois o Senhor
não rejeita para sempre: se ele aflige, ele se compadece segundo sua grande
bondade.

MEDITAÇÃO

Que pode nos dizer a terceira queda de Jesus baixo o peso da cruz? Quiçá nos
faz pensar na queda dos homens, em que muitos se distanciam de Cristo, na
tendência a um secularismo sem Deus. Mas não deveríamos pensar também no que
deve sofrer Cristo em sua própria Igreja? Em quantas vezes se abusa do
sacramento de sua presença, e no vazio e maldade do coração. Quantas vezes
celebramos só nós, sem darmo-nos conta dele! Quantas vezes se deforma e se
abusa de sua Palavra! Que pouca fé há em muitas teorias, quantas palavras
vazias! Quanta impureza na Igreja e entre os que, por seu sacerdócio, deveriam
estar completamente entregues a ele! Quanta soberba, quanta auto-suficiência!
Quão pouco respeitamos o sacramento da Reconciliação, no qual ele nos espera
para levantar-nos de nossas quedas. Também isso está presente em sua paixão. A
traição dos discípulos, a recepção indigna de seu Corpo e Sangue, é certamente
a maior dor do Redentor, o que traspassa o coração. Não nos resta mais que lhe
gritar desde o profundo da alma: Kyrie, eleison – Senhor, salva-nos (cf Mt
8,25).

ORAÇÃO

Senhor, freqüentemente tua Igreja nos parece uma barca a ponto de afundar, que
faz águas por todas as partes. E também em teu campo vemos mais cinzas que
trigo. Afligem-nos tuas vestes e teu rosto tão sujos. Mas os cobrimos nós
mesmos. Nós que te traímos, não obstante os gestos retundantes, as palavras
altíssonas. Tem piedade de tua Igreja: também nela Adão, o homem, cai uma e
outra vez. Ao cair, permanecemos em terra e Satanás se alegra, porque espera
que já nunca poderemos levantar-nos; espera que tu, sendo arrastado na queda de
tua Igreja, fiques abatido para sempre. Mas tu te levantarás. Tu te
reincorporaste, ressuscitou e podes levantar-nos. Salva e santifica a tua
Igreja. Salva-nos e santifica-nos a todos.

Todos:

Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.

Eia mater, fons amoris,
me sentire vim doloris
fac, ut tecum lugeam.

DÉCIMA
ESTAÇÃO
Jesus é crucificado

V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/. Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.

Do evangelho segundo São Mateus 27, 33-36

Chegados a um lugar chamado Gólgota, quer dizer «Lugar do Crânio», deram-Lhe a
beber vinho misturado com fel. Mas Jesus, quando o provou, não quis beber.
Depois de O terem crucificado, repartiram entre si as suas vestes, tirando-as à
sorte, e ficaram ali sentados a guardá-Lo.

MEDITAÇÃO

Jesus é despojado das suas vestes. A roupa confere ao homem a sua posição
social; dá-lhe o seu lugar na sociedade, fá-lo sentir alguém. Ser despojado em
público significa que Jesus já não é ninguém, nada mais é que um marginalizado,
desprezado por todos. O momento do despojamento recorda-nos também a expulsão
do paraíso: ficou sem o esplendor de Deus o homem, que agora está, ali, nu e
exposto, desnudado e envergonha-se. Deste modo, Jesus assume mais uma vez a
situação do homem caído. Jesus despojado recorda-nos o facto de que todos nós
perdemos a «primeira veste», isto é, o esplendor de Deus. Junto da cruz, os
soldados lançam sortes para repartirem entre si os seus míseros haveres, as
suas vestes. Os evangelistas narram isto com palavras tiradas do Salmo 22, 19 e
assim afirmam-nos o mesmo que Jesus há-de dizer aos discípulos de Emaús: tudo
aconteceu «conforme as Escrituras». Não se trata aqui de pura coincidência,
tudo o que acontece está contido na Palavra de Deus e assente no seu desígnio
divino. O Senhor experimenta todos os estádios e degraus da perdição dos
homens, e cada um destes degraus é, com toda a sua amargura, um passo da
redenção: é precisamente assim que Ele traz de volta para casa a ovelha
perdida. Recordemos ainda que, segundo diz S. João, o objecto do sorteio era a
túnica de Jesus, a qual, «toda tecida de alto a baixo, não tinha costura» (Jo
19, 23). Podemos considerar isto como uma alusão à veste do sumo sacerdote, que
era «tecida como um todo», sem costura (Flávio Josefo, Antiguidades Judaicas,
III, 161). Ele, o Crucificado, é realmente o verdadeiro sumo sacerdote.

ORAÇÃO

Senhor Jesus, fostes despojado das vossas vestes, exposto à desonra, expulso da
sociedade. Assumistes sobre Vós a desonra de Adão, sanando-a. Assumistes os
sofrimentos e as necessidades dos pobres, daqueles que são expulsos do mundo.
Deste modo é que realizais a palavra dos profetas. É precisamente assim que
dais significado àquilo que não tem significado. Assim mesmo nos dais a
conhecer que nas mãos do vosso Pai estais Vós, nós e o mundo. Concedei-nos um
respeito profundo pelo homem em todas as fases da sua existência e em todas as
situações onde o encontrarmos. Dai-nos a veste luminosa da vossa graça.

Todos:

Pater noster, qui es in cælis;
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.

Fac ut ardeat cor meum
in amando Christum Deum,
ut sibi complaceam.

DÉCIMA
PRIMEIRA ESTAÇÃO
Jesus promete o seu Reino ao bom ladrão

V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/. Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.

Do evangelho segundo São Mateus 27, 37-42

Puseram por cima da cabeça d’Ele um letreiro escrito com a causa da condenação:
“Este é Jesus, o Rei dos Judeus”. Foram então crucificados com Ele
dois salteadores, um à direita e outro à esquerda. Os que passavam dirigiam-Lhe
insultos, abanavam a cabeça e diziam: “Tu que demolias o Templo e o
reedificavas em três dias, salva-Te a Ti mesmo, se és Filho de Deus, e desce da
cruz!” De igual modo, também os sumos sacerdotes troçavam, juntamente com
os escribas e os anciãos, e diziam: “Salvou os outros e a Si mesmo não
pode salvar-Se! É Rei de Israel! Desça agora da cruz, e acreditaremos
n’Ele”.

MEDITAÇÃO

Jesus é pregado na cruz. O sudário de Turim permite formar uma ideia da crueldade
incrível deste processo. Jesus não toma a bebida anestesiante que Lhe fora
oferecida: conscientemente assume todo o sofrimento da crucifixão. Todo o seu
corpo é martirizado; cumpriram-se as palavras do Salmo: «Eu, porém, sou um
verme e não um homem, o opróbrio dos homens e a abjecção da plebe» (Sal 22/21,
7). «Como um homem (.) diante do qual se tapa o rosto, menosprezado e
desestimado. Na verdade Ele tomou sobre Si as nossas doenças, carregou as
nossas dores» (Is 53, 3-4). Detenhamo-nos diante desta imagem de sofrimento,
diante do Filho de Deus sofredor. Olhemos para Ele nos momentos de presunção e
de prazer, para aprendermos a respeitar os limites e a ver a superficialidade
de todos os bens puramente materiais. Olhemos para Ele nos momentos de calamidade
e de angústia, para reconhecermos que precisamente assim estamos perto de Deus.
Procuremos reconhecer o seu rosto naqueles que tendemos a desprezar. Diante do
Senhor condenado, que não quer usar o seu poder para descer da cruz, mas antes
suportou o sofrimentos da cruz até ao fim, pode assomar ainda outro pensamento.
Inácio de Antioquia, ele mesmo preso com cadeias pela sua fé no Senhor, elogiou
os cristãos de Esmirna pela sua fé inabalável: afirma que estavam, por assim
dizer, pregados com a carne e o sangue à cruz do Senhor Jesus Cristo (1, 1).
Deixemo-nos pregar a Ele, sem ceder a qualquer tentação de nos separarmos nem
ceder às zombarias que pretendem levar-nos a fazê-lo.

ORAÇÃO

Senhor Jesus Cristo, fizestes-Vos pregar na cruz, aceitando a crueldade
terrível deste tormento, a destruição do vosso corpo e da vossa dignidade.
Fizestes-Vos pregar, sofrestes sem evasões nem descontos. Ajudai-nos a não
fugir perante o que somos chamados a realizar. Ajudai-nos a fazermo-nos ligar
estreitamente a Vós. Ajudai-nos a desmascarar a falsa liberdade que nos quer
afastar de Vós. Ajudai-nos a aceitar a vossa liberdade «ligada» e a encontrar
nesta estreita ligação convosco a verdadeira liberdade.

Todos:

Pater noster, qui es in cælis;
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.

Sancta Mater, istud agas,
Crucifixi fige plagas
cordi meo valide.

DÉCIMA
SEGUNDA ESTAÇÃO
Jesus na Cruz, a Mãe e o Discípulo

V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/. Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.

Do evangelho segundo São Mateus 27, 45-50.54

A partir do meio-dia, houve trevas em toda a região, até às três horas da
tarde. E, pelas três horas da tarde, Jesus bradou com voz forte: “Eli,
Eli, lemá sabachthani”, quer dizer, “Meu Deus, Meu Deus, porque Me
abandonaste?” Alguns dos presentes ouviram e disseram: «Está a chamar por
Elias». E logo um deles correu a pegar numa esponja, ensopou-a em vinagre,
pô-la numa cana e deu-Lhe a beber. Mas os outros disseram: «Deixa lá! Vejamos
se Elias vem salvá-Lo». E Jesus, dando novamente um forte brado, expirou.

Entretanto, o centurião e os que estavam com ele de guarda a Jesus, ao verem o
tremor de terra e o que estava a suceder, ficaram aterrados e disseram: «Ele
era, na verdade, Filho de Deus».

MEDITAÇÃO

No cimo da cruz de Jesus – nas duas línguas do mundo de então, o grego e o
latim, e na língua do povo eleito, o hebraico – está escrito quem é: o Rei dos
Judeus, o Filho prometido a David. Pilatos, o juiz injusto, tornou-se profeta
sem querer. Perante a opinião pública mundial é proclamada a realeza de Jesus.
O próprio Jesus não tinha aceite o título de Messias, enquanto poderia induzir
a uma ideia errada, humana, de poder e de salvação. Mas, agora, o título pode
estar escrito ali publicamente sobre o Crucificado. Ele, assim, é verdadeiramente
o rei do mundo. Agora foi verdadeiramente «elevado». Na sua descida, Ele subiu.
Agora cumpriu radicalmente o mandamento do amor, cumpriu a oferta de Si
próprio, e precisamente deste modo Ele é agora a manifestação do verdadeiro
Deus, daquele Deus que é amor. Agora sabemos quem é Deus. Agora sabemos como é
a verdadeira realeza. Jesus reza o Salmo 22, que começa por estas palavras:
«Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?» (Sal 22/21, 2). Assume em Si mesmo
todo o Israel, a humanidade inteira, que sofre o drama da escuridão de Deus, e
faz com que Deus Se manifeste precisamente onde parece estar definitivamente
derrotado e ausente. A cruz de Cristo é um acontecimento cósmico. O mundo fica
na escuridão, quando o Filho de Deus sofre a morte. A terra treme. E junto da
cruz tem início a Igreja dos pagãos. O centurião romano reconhece, compreende
que Jesus é o Filho de Deus. Da cruz, Ele triunfa sem cessar.

ORAÇÃO

Senhor Jesus Cristo, na hora da vossa morte, o sol escureceu. Sois pregado na
cruz sem cessar. Precisamente nesta hora da história, vivemos na escuridão de
Deus. Pelo sofrimento sem medida e pela maldade dos homens o rosto de Deus, o
vosso rosto, aparece obscurecido, irreconhecível. Mas foi precisamente na cruz
que Vos fizestes reconhecer. Precisamente enquanto sois Aquele que sofre e que
ama, sois aquele que é elevado. Foi precisamente lá que triunfastes. Ajudai-nos
a reconhecer, nesta hora de escuridão e confusão, o vosso rosto. Ajudai-nos a
crer em Vós e a seguir-Vos precisamente na hora da escuridão e da privação.
Mostrai-Vos novamente ao mundo nesta hora. Fazei com que a vossa salvação se
manifeste.

Todos:

Pater noster, qui es in cælis;
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.

Fac me vere tecum flere,
Crucifixo condolere,
donec ego vixero.

DÉCIMA
TERCEIRA ESTAÇÃO
Jesus morre na Cruz

V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/. Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.

Do evangelho segundo São Mateus 27, 54-55

O centurião e os que estavam com ele de guarda a Jesus, ao verem o tremor de
terra e o que estava a suceder, ficaram aterrados e disseram: «Ele era, na
verdade, Filho de Deus». Estavam ali, a observar de longe, muitas mulheres, que
tinham seguido Jesus desde a Galileia, para O servirem.

MEDITAÇÃO

Jesus morreu, o seu coração é trespassado pela lança do soldado romano e dele
brotam sangue e água: misteriosa imagem do rio dos sacramentos, do Baptismo e
da Eucaristia, dos quais, em virtude do coração trespassado do Senhor, renasce
incessantemente a Igreja. E não Lhe são quebradas as pernas, como aos outros
dois crucificados; deste modo Ele aparece como o verdadeiro cordeiro pascal, ao
qual nenhum osso deve ser quebrado (cf. Ex 12, 46). E agora que tudo suportou,
vemos que Ele, apesar de toda a confusão dos corações, apesar do poder do ódio
e da cobardia, não ficou sozinho. Os fiéis existem. Junto da cruz, estavam
Maria, sua Mãe, a irmã de sua Mãe, Maria, Maria de Magdala e o discípulo que
Ele amava. Agora chega também um homem rico, José de Arimateia: o rico encontra
modo de passar pela buraco de uma agulha, porque Deus lhe dá a graça. Sepulta
Jesus no seu túmulo ainda intacto, num jardim: o cemitério onde fica sepultado
Jesus transforma-se em jardim, no jardim donde fora expulso Adão quando se
separara da plenitude da vida, do seu Criador. O túmulo no jardim faz-nos saber
que o domínio da morte está para terminar. E chega também um membro do
Sinédrio, Nicodemos, a quem Jesus tinha anunciado o mistério do renascimento
pela água e pelo Espírito. Até no Sinédrio, que tinha decidido a sua morte, há
alguém que acredita, que conhece e reconhece Jesus após a sua morte. Sobre a
hora do grande luto, da grande escuridão e do desespero, aparece
misteriosamente a luz da esperança. O Deus escondido permanece em todo o caso o
Deus vivo e próximo. O Senhor morto permanece em todo o caso o Senhor e nosso
Salvador, mesmo na noite da morte. A Igreja de Jesus Cristo, a sua nova
família, começa a formar-se.

ORAÇÃO

Senhor, descestes à escuridão da morte. Mas o vosso corpo é recolhido por mãos
bondosas e envolvido num cândido lençol (Mt 27, 59). A fé não está
completamente morta, não se pôs totalmente o sol. Quantas vezes parece que Vós
estais a dormir. Como é fácil a nós, homens, afastar-nos dizendo para nós
mesmos: Deus morreu. Fazei com que, na hora da escuridão, reconheçamos que em
todo o caso Vós estais lá. Não nos deixeis sozinhos quando tendemos a
desanimar. Ajudai-nos a não deixar-Vos sozinho. Dai-nos uma fidelidade que
resista no desânimo e um amor que Vos acolha no momento mais extremo da vossa necessidade,
como a vossa Mãe, que Vos abraçou de novo no seu regaço. Ajudai-nos, ajudai os
pobres e os ricos, os simples e os sábios, a ver através dos seus medos e
preconceitos e a oferecer-Vos a nossa capacidade, o nosso coração, o nosso
tempo, preparando assim o jardim no qual possa dar-se a ressurreição.

Todos:

Pater noster, qui es in cælis;
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.

Vidit suum dulcem Natum
morientem, desolatum,
cum emisit spiritum.

DÉCIMA
QUARTA ESTAÇÃO
Jesus é depositado no sepulcro

V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/. Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.

Do evangelho segundo São Mateus 27, 59-61

José pegou no corpo de Jesus, envolveu-o num lençol limpo e depositou-o no seu
túmulo novo, que tinha mandado escavar na rocha. Depois, rolou uma grande pedra
para a porta do túmulo e retirou-se. Entretanto, estavam ali Maria de Magdala e
a outra Maria, sentadas em frente do sepulcro.

MEDITAÇÃO

Jesus, desonrado e ultrajado, é deposto com todas as honras num túmulo novo. Nicodemos
traz uma mistura de mirra e aloés de cem libras destinada a emanar um perfume
precioso. Agora na oferta do Filho revela-se, como sucedera já na unção de
Betânia, um excesso que nos recorda o amor generoso de Deus, a
«superabundância» do seu amor. Deus faz generosamente oferta de Si próprio. Se
a medida de Deus é superabundante, também para nós nada deveria ser demasiado
para Deus. Foi o que o próprio Jesus nos ensinou no discurso da Montanha (Mt 5,
20). Mas é preciso lembrar também as palavras de S. Paulo a propósito de Deus,
que «por nosso meio faz sentir em todos os lugares o odor do seu conhecimento.
Somos, para Deus, o bom odor de Cristo» (2 Cor 2, 14-15). Na putrefacção das
ideologias, a nossa fé deveria ser de novo o perfume que reconduz às pegadas da
vida. No momento da deposição, começa a realizar-se a palavra de Jesus: «Em
verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer,
fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto» (Jo 12, 24). Jesus é o grão de
trigo que morre. Do grão de trigo morto começa a grande multiplicação do pão
que dura até ao fim do mundo: Ele é o pão de vida capaz de saciar em medida
superabundante a humanidade inteira e dar-lhe o alimento vital: o Verbo eterno
de Deus, que Se fez carne e também pão, para nós, através da cruz e da
ressurreição. Sobre a sepultura de Jesus resplandece o mistério da Eucaristia.

ORAÇÃO

Senhor Jesus Cristo, na sepultura fizestes vossa a morte do grão de trigo,
tornastes-Vos o grão de trigo morto que produz fruto ao longo de todos os
tempos até à eternidade. Do sepulcro brilha em cada tempo a promessa do grão de
trigo, do qual provém o verdadeiro maná, o pão de vida em que Vós mesmo Vos
ofereceis a nós. A Palavra eterna, através da encarnação e da morte, tornou-Se
a Palavra próxima: Colocais-Vos nas nossas mãos e nos nossos corações para que
a vossa Palavra cresça em nós e produza fruto. Dais-Vos a Vós próprio através
da morte do grão de trigo, para que nós tenhamos a coragem de perder a nossa
vida para encontrá-la; para que também nós nos fiemos da promessa do grão de
trigo. Ajudai-nos a amar cada vez mais o vosso mistério eucarístico e a
venerá-lo – a viver verdadeiramente de Vós, Pão do Céu. Ajudai-nos a
tornarmo-nos o vosso «odor», a tornar palpáveis os vestígios da vossa vida
neste mundo. Do mesmo modo que o grão de trigo se eleva da terra como caule e
espiga, assim também Vós não podeis ficar no sepulcro: o sepulcro está vazio
porque Ele – o Pai – não Vos «abandonou na habitação dos mortos nem permitiu
que a vossa carne conhecesse a decomposição» (cf. Act 2, 31; Sal 16, 10 LXX).
Não, Vós não experimentastes a corrupção. Ressuscitastes e destes espaço à
carne transformada no coração de Deus. Fazei com que possamos alegrar-nos com
esta esperança e possamos levá-la jubilosamente pelo mundo; fazei que nos
tornemos testemunhas da vossa ressurreição.

Todos:

Pater noster, qui es in cælis;
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.

Quando corpus morietur
fac ut animae donetur
paradisi gloria. Amen.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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