Martírio de Santa Perpétua, Santa Felicidade e dos Mártires de Cartago

Santa Perpétua morreu na arena de Cartago, norte da África, aos 22 anos de idade, no dia 7 de março de 203,  com o catequista e mais 6 catecúmenos, na perseguição do imperador Setímio Severo. Ela escreveu na prisão um diário até o dia do martírio (Paixão de Perpétua e Felicidade); era mãe de um filhinho de colo. Tertuliano completou a narração do martírio. Felicidade estava grávida e deu à luz dois dias antes de morrer.

“Despontou o dia da vitória dos mártires. Saíram do cárcere e entraram no anfiteatro, como se fossem para o céu, de rosto radiante e sereno; e se algum tinha a fisionomia alterada, era de alegria e não de medo.

Perpétua foi a primeira a ser lançada aos ares por uma vaca louca e caiu de costas.
Levantou-se imediatamente e, vendo Felicidade caída por terra, deu-lhe a mão e ergueu-a. Ficaram ambas de pé. Saciada a crueldade do povo, foram reconduzidas à porta chamada Sanavivária. Alí Perpétua foi recebida por um catecúmeno chamado Rústico, que permanecia sempre a seu lado. E como que despertando do sono (até este momento estivera em êxtase do espírito), começou a olhar ao redor e, para o espanto de todos, perguntou:”Quando é que seremos expostas àquela vaca?”Ao lhe responderem que já tinha acontecido, não quis acreditar, e só se convenceu quando viu no corpo e nas suas vestes a marca dos ferimentos recebidos. Depois, chamando para junto de si o seu irmão e aquele catecúmeno, disse-lhes: “Permaneçam firmes na fé e amai-vos uns aos outros; não vos escandalizeis com os nossos sofrimentos”.

Por sua vez Sáturo, em outra porta do anfiteatro, animava o soldado Prudente com estas palavras: “Até este momento, tal como te havia afirmado e  predito, não fui ainda ferido por nenhuma fera. Mas agora, crê de todo o coração: vou avançar de novo para alí, e com uma só dentada do leopardo morrerei”. E, imediatamente, já no fim do espetáculo,  foi lançado a um leopardo; este, com uma só dentada,  lhe derramou tanto sangue, que o povo, sem saber o que dizia, dando testemunho do seu segundo batismo, aclamava: “Foste lavado, estás salvo! Foste lavado, estás salvo!”Realmente estava salvo quem deste modo foi lavado.

Então Sáturo, disse ao soldado Prudente: “Adeus! Lembra-te da fé e de mim; que estas coisas não te perturbem, mas te confirmem!”Pediu-lhe depois o anel que trazia no dedo e, mergulhando-o na ferida, devolveu-o como uma herança, deixando-lhe como penhor e lembrança do sangue. Em seguida, já esgotado, foi deitado com os outros no lugar de costume para o golpe de misericórdia.

O povo,  no entanto, exigia em alta voz que fossem levados para o meio do anfiteatro aqueles que iam receber o golpe final; pois queriam ver com os próprios olhos, cúmplices do homicídio,  a espada penetrar nos corpos das vítimas. Os mártires levantaram-se espontaneamente e foram para onde o povo queria; depois deram uns aos outros o ósculo santo, para coroarem o martírio com este rito de paz.

Todos receberam o golpe da espada, imóveis e em silêncio; especialmente Sáturo, que fora o primeiro a subir e o primeiro a entregar a alma. Até o último instante ia confortanto Perpétua. E esta, que desejava ainda experimentar maior dor, exultou ao sentir o golpe em seus ossos, puxando ela própria para a sua garganta a mão indecisa do gladiador inexperiente.

Talvez esta mulher de tanto valor, temida pelo espírito do mal, não pudesse ser morta de outra maneira senão querendo ela própria.

Oh mártires cheios de força e ventura! Verdadeiramente fostes chamados e escolhidos para a glória de Nosso Senhor Jesus Cristo.”(Cap. 18.20-21:  edit. van Beck, Noviomagi, 1936, pp.42.46-52)

Prof. Felipe Aquino – Editora Cléofas – www.cleofas.com.br

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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