Martin Schlag: virtudes para salvar a economia

João Paulo II viu o colapso do comunismo. Seu sucessor verá o do capitalismo

ROMA, sexta-feira, 25 de novembro de 2011 (ZENIT.org) – Zenit entrevistou Martin Schlag, professor de direito constitucional na Universidade de Innsbruck, que agora passa a dar aulas de teologia moral na Universidade de Santa Cruz, em Roma. Schlag defende a “economia boa”, afirmando: “Só com as virtudes podemos nos salvar da crise. A eficiência como fim em si mesma leva à catástrofe”.

De acordo com Schlag, que nasceu em Nova Iorque e viveu em Londres, Viena e agora em Roma, não haverá recuperação sem virtude. E, acima de tudo, sem virtude “não há mercado livre.”

“A economia e a ética não podem se separar. Precisamente porque no centro está sempre a pessoa que age”.

Mas a moralidade não é uma opção: é intrínseca à economia. “Um gestor precisa das virtudes, como paixões ordenadas ao bem, para ter sucesso e força de caráter”.

Entre as virtudes do gerente, ele destaca a justiça e a magnanimidade.

“Um aspecto da justiça é fazer as pessoas crescerem, capacitá-las, desenvolver talentos. O que é também fortalecimento da empresa. São virtudes cristãs, mas antes disso são virtudes naturais, inerentes ao homem. Os primeiros filósofos gregos já falavam delas, antes dos padres da Igreja”.

Quando perguntado sobre a separação entre cristianismo e economia, Schlag contestou: “Ela não é verdadeira. O paleocapitalismo é medieval, quando a sociedade era inteiramente cristã. Ele nasceu em Flandres e no norte da Itália, com o desenvolvimento das cidades, com as indústrias de lã, de seda”.

E os bancos? “Eles existem desde a antiguidade. Os franciscanos inventaram os bancos sociais, sem praticar a usura, que era e é condenada pela igreja. O primeiro banco ético foi fundado em 1462, em Perugia. Em pouco tempo, as casas de penhores chegaram a 150 cidades italianas, graças aos franciscanos, que promoveram o microcrédito para pequenas e médias empresas com juros entre 4 e 5%”.

Com relação à crise, o professor da Santa Cruz explicou que “a crise é do sistema, é sistêmica. Haverá uma mudança no método da economia. Houve abuso. Precisamos de prudência, fortaleza, magnanimidade e justiça, virtudes dos grandes”.

Novas regras serão suficientes para superar a crise? Schlag acha que “precisamos de boas leis. Na Itália, a riqueza está na criatividade, nas habilidades de empreendedores, nas ideias. Mas é sufocada pela burocracia e por milhares de leis. Nos Estados Unidos, uma empresa precisa de 26 dias para ser aberta. Na Itália, precisa de 260 “.

Então, também é preciso um bom governo? “É claro. Mas não com políticas assistencialistas. Um exemplo: para a África, foi doado seis vezes o Plano Marshall. Mas não fizeram investimentos, não foram financiadas empresas. Por isso eles ainda precisam do Ocidente. O assistencialismo é contraproducente. Precisamos de um sistema político que favoreça o empreendedorismo”.

Uma nova visão para uma nova economia? “Temos que aprender a pensar no longo prazo. A fortaleza é necessária para isso”.

O que vai acontecer com a nossa economia? “João Paulo II viu o colapso do comunismo. Seu sucessor vai ver o colapso do capitalismo “.

A sociedade ocidental faliu? “O Papa fez uma diferenciação entre o capitalismo bom e o mau. O mau é o das finanças loucas, desconectadas da economia real. Eu acho que é o fim desse tipo de economia antiética”.

Schlag viaja agora a Viena para fazer um levantamento entre gestores europeus e pesquisar como eles vivem o cristianismo dentro das suas empresas.

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Por Marialuisa Viglione

 

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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