Mais uma calúnia contra a Igreja Católica

Jô Soares
entrevistou o escritor português Luiz Miguel da Rocha, autor do Livro
recém lançado – “A MENTIRA SAGRADA”, da Editora Jangada. Uma série de
colocações feitas pelo autor foram ofensas diretas à Igreja.

Tudo
girou em torno da morte de JOÃO PAULO I, o qual ele alega ter sido
assassinado por membro da Loja P2, a pedido do próprio Carmelengo da
época. Sua Santidade teria sido sufocada com um travesseiro… Coloco em
seguida um artigo de D. Estevão Bettencourt, desmentindo tudo isso.

Prof. Felipe Aquino

A morte do Papa João Paulo I

Em
síntese: A morte repentina do Papa João Paulo I em setembro de 1978
causou grande surpresa e sugeriu  hipóteses várias, entre as quais a de
ter sido a envenenado o Pontífice. Um livro recente de dois jornalistas
italianos recolhe testemunhos e dados diversos a respeito, chegando à
conclusão muito provável de que João Paulo I morreu de embolia pulmonar,
cujos sintomas ele havia sentido na tarde anterior ao desenlace;
recusara, porém chamar o médico de modo que foi vítima do mal que o
acometia.

* * *

Os jornalistas italianos Andrea Tornielli e
Alessandro Zangrando publicaram um livro cujo título em tradução
portuguesa, soa: “João Paulo I. 0 Papa do Sorriso”. (editora Quadrante,
São Paulo). A obra apresenta uma biografia do Pontífice, cujo penúltimo
capítulo trata da morte do Papa Luciani.  Os dados aí coletados são
importantes para elucidar tão repentino desenlace, diante do qual houve
quem levantasse a hipótese de envenenamento. – Visto que o tema é de
grande interesse, transcreveremos, nas páginas subseqüentes, os
segmentos que melhor esclarecem o enigma.

A Morte

“Peço-te
uma graça; quisera que Tu estivesses ao meu lado na hora em que fechar
os olhos para este mundo. Quisera que segurasses a minha mão na tua,
como faz a mãe com o seu filho na hora do perigo. Muito obrigado,
Senhor!”

Na noite de 28 para 29 do setembro de 1978, o Papa
Albino Luciani morre repentinamente. “Hoje, 29 do setembro, por volta
das 5:30, o secretário particular do Papa, o reverendo John Mage, ao ver
que o Santo Padre não se encontrava na capela privada do seu
apartamento, como de costume, foi buscá-lo no seu quarto e achou-o morto
no leito, com a luz acesa, como se ainda estivesse imerso na leitura. O
médico, Dr. Renato Buzzonetti, que acudiu imediatamente, comprovou a
sua morte, que presumivelmente lhe sobreveio por volta das 23 horas de
ontem, e diagnosticou (uma morte repentina devida a um enfarte agudo do
miocárdio)”.

O atestado de óbito, assinado por Buzzonetti e pelo
diretor de serviços sanitários do Vaticano, Mario Fontana, diz:
“Certifico que Sua Santidade João Paulo I, Albino Luciani, nascido em
Forno Di Canale (Belluno) em 17 de outubro de 1912, faleceu no Palácio
Apostólico Vaticano em 28 de setembro de 1978, às 23 horas, por “morte
imprevista, de enfarte agudo do miocárdio”. O óbito foi comprovado às 6
horas do dia 29 de setembro de 1978″ (pp. 108s).

“A notícia da
morte prematura do Papa dá a volta ao mundo num abrir e fechar de olhos.
Os fiéis estão atônitos, consternados. O rosto pacífico e sorridente do
Pontífice vêneto, as suas lições de Catecismo, o seu modo simples de
falar, a sua grande humildade, haviam tocado o coração de milhões de
pessoas. O seu corpo é embalsamado dentro das 24 horas seguintes ao
falecimento. Com as vestes vermelhas e a mitra branca sobre a cabeça, é
exposto primeiro na Sala Clementina, na Basílica de São Pedro. Milhares
de romanos acodem a render-lhe a homenagem.

O Papa não deixou
testamento: tinha acabado de mandar destruir o que se conservava no
Patriarcado de Veneza e ainda não tinha escrito o novo. Como acontecera
em Vittorio Veneto e em Veneza, também havia chegado pobre ao Vaticano,
sem nenhum bem” (p. 111).

Uma versão tida como mais provável, afirma que o Papa morreu de embolia pulmonar1.

“O
último dia da vida de Albino Luciani havia começado, como de costume,
muito cedo. Depois da oração, celebrou a Missa na capela privada e tomou
o café da manhã. Às 9:30 recebeu em audiência o cardeal africano
Bernardin Gantin, junto com os secretários dos conselhos pontifícios Cor
Unum e Justitia et Pax. Falaram dos problemas do Terceiro Mundo. João
Paulo I disse a Gantin: “É somente Jesus Cristo quem nós devemos
apresentar ao mundo. Fora disso, não teríamos razão alguma para falar;
por nossa incapacidade, nem sequer seríamos escutados pelos outros”.

No
final da audiência, Gantin notou a energia com que o Papa se levantou e
dispôs as cadeiras para fazer uma foto de grupo. Nas horas seguintes,
Luciani recebeu os núncios apostólicos do Brasil e da Holanda, o diretor
do Gazzetino e nove bispos das Filipinas.

Ás 12:30, João Paulo I
almoçou com os dois secretários, Diego Lorenzi e John Magee. A
reconstrução de tudo o que aconteceu naquela tarde foi possível graças
às declarações posteriores dos dois sacerdotes. Ambos, com efeito,
permaneceram em silêncio durante anos. O primeiro a rompê-lo,
surpreendentemente, foi Lorenzi, no decorrer da transmissão do programa
televisivo Giallo, conduzido por Enzo Tertora na RAI 2 em 2 de outubro
de 1987, nove anos mais tarde, Lorenzi revelou que na tarde do dia 28 de
setembro João Paulo I sentiu uma forte dor no peito. Também o padre
Magee, já bispo da Irlanda, depois de ter sido secretário e mestre de
cerimônias do Papa Wojtyla, narrou algo parecido, primeiro à revista
Trentagiorni, em 1988, e depois, no ano seguinte, ao jornalista John
Cornwell. Este último foi autor do livro Un ladro nella notte (Um ladrão
na noite), que foi aprovado pelas autoridades vaticanas e serviu para
rebater as teses de quem sustentava que o Papa havia sido assassinado.

Depois de uma breve pausa para repouso, João Paulo I confessou a Magee:

“- Não me sinto muito bem”.     

O secretário disse-lhe:

“- Deixe-me chamar o doutor Buzzonetti”.

“- Oh não, não…, respondeu o Papa, não é preciso chamar o médico. Andarei um pouco pelos quartos”.

Segundo
Magee, “o doutor Buzzonetti tinha sido escolhido como médico do Papa
Luciani […]. Buzzonetti tinha entrado em contato no Sábado anterior
com o médico que o Papa tinha no Vêneto, o doutor Antonio Da Ros, e
tinham combinado que este último enviaria ao Vaticano o histórico
clínico de João Paulo I”. O secretário, portanto, sabia que Buzzonetti
era o responsável pela saúde do Papa. Mas o médico não foi avisado desse
mal-estar.

Das 14:30 às 16:39, o padre John Magee ausentou-se do
apartamento pontifício para ir buscar uns livros, e deixou o Papa
passeando pela sala. Quando voltou, João Paulo I continuava a andar. Uma
hora depois, ouviu-o tossir violentamente e precipitou-se em sua
direção:

“- Sinto uma pontada”, disse o Papa, segundo relata o bispo Magee.

“- Não seria melhor chamar o médico?” – Insistiu o secretário; pode ser algo grave”.

Luciani
voltou a recusar, e pediu à irmã Vicenza que lhe trouxesse algum
remédio. Segundo John Cornwell, “com quase toda a certeza, naquele
momento o Papa estava sofrendo uma leve embolia pulmonar. Estava
realmente doente e precisava da atenção imediata de um especialista”.

Ás
18:30, chegou aos aposentos pontifícios o Secretário de Estado Jean
Villot. Foi recebido pelo Papa, com quem trabalhou durante mais de uma
hora. Trataram, muito provavelmente, da escolha do novo Patriarca de
Veneza.

Terminada a audiência, tanto Magee como Diego Lorenzi se
encontravam no escritório da secretaria do Papa. Nesse momento, segundo
Lorenzi, João Paulo I queixou-se de outra “terrível pontada”: “Por volta
das 19:45, assomou à porta do seu gabinete de trabalho e disse ter
sentido uma pontada terrível, mas que já havia passado”. Lorenzi disse
que seria necessário chamar o médico. De novo o Papa se recusou e não
foram consultados nem o doutor Buzzonetti nem o doutor Antonio Da Ros em
Vittorio Veneto.

O Papa e os dois secretários sentaram-se para
jantar. “Naquela última noite, desenvolveu-se à mesa uma conversa
estranha – relata o padre John Magee -. Eu tinha resolvido lembrar ao
Papa que devia escolher com certa antecedência a pessoa que iria pregar o
retiro de Quaresma. Ele disse:

“- Sim, sim, é verdade, já pensei nisso, mas o retiro que eu quisera agora seria o retiro de uma boa morte”.

Eram 20:15. Disse-lhe:

“- Mas, Santidade, de maneira nenhuma”.

Tinha ainda na cabeça a morte de Paulo VI, e não queria ouvir falar de morte outra vez. Mas o Papa insistiu:

“- Sim, sim, gostaria de fazer um retiro desse tipo”.

Dom Diego lembrou-se de uma oração. E o Papa corrigiu-o:

“-
Não, isso não é assim. A forma original dessa oração é  “Ó Deus, dá-me a
graça de aceitar a morte da forma como ela há de me chegar”.

Depois
do jantar, incumbiram Dom Diego de pedir uma ligação para o cardeal
Giovanni Colombo em Milão. O Papa e Magee foram juntos à cozinha para
dar boa-noite às freiras. Quando se completou a ligação, Luciani correu
velozmente pelo corredor. Segundo Cornwell, “este foi o último esforço
da sua vida, o que lhe provocou a embolia” (pp. 112-115).

A
sobrinha do Papa, Pia Luciani Bassi, recorda precedentes de mortes
repentinas ocorridas na família: “Nós pensamos que foi uma morte
natural, porque também o seu avô e as suas duas tias morreram assim, de
repente, de um enfarte. Meu tio teve uma boa morte. Ele teria escolhido
uma morte desse gênero, sem incomodar ninguém, enquanto trabalhava pela
Igreja” (p. 120).

“Há outros episódios que podem ser lidos como
uma premonição da morte. Na tarde de 26 de setembro de 1978, Eldoardo
Luciani, o irmão do Papa, chega ao Vaticano. Vai de viagem à Austrália,
mas decide visitar João Paulo I antes de iniciar o vôo. “Jantamos juntos
– recorda -, e depois passeamos quase até a meia-noite pelo jardim do
último andar do edifício. Meu irmão disse-me que o cardeal Villot tinha
manifestado a intenção de aposentar-se e que estava pensando em quem
poderia sucedê-lo na Secretaria de Estado. Também falamos do cardeal
Gantin, a quem estimava muito. Na manhã seguinte, assisti à missa e
depois tomamos o café da manhã juntos. Quando chegou a hora de partir,
meu irmão quis acompanhar-me pessoalmente até o elevador. E para se
despedir, abraçou-me e beijou-me. Fiquei surpreso, porque na nossa
família não somos muito dados a semelhantes efusividades.. Ainda me
causou maior impressão o fato de que, enquanto estava já para entrar no
elevador, ele continuou ali, quieto, olhando-me. Virei-me e ele quis
abraçar-me mais uma vez. Parti para a Austrália e lá recebi a noticia da
sua morte…” Um duplo abraço, quase o presságio de que aquela era a
última vez que se viam.

Duas tardes antes de morrer, durante o
jantar, João Paulo I teria até feito uma alusão ao seu sucessor. “À mesa
falou da sua eleição – conta o padre John Magee -; ainda não conseguia
entender a escolha dos cardeais: “Havia outros melhores que eu que
podiam ser eleitos. E Paulo VI já havia indicado quem seria o seu
sucessor. Estava diante de mim na Capela Sixtina durante o Conclave. Mas
há de chegar a sua vez, porque logo me irei embora” (p. 121).

“Outro
sinal premonitório. Na manhã de 5 de setembro, o bispo ortodoxo Boris
Nikodin morre praticamente nos braços do Papa Luciani ao terminar a
audiência. “Quem sabe se algum dia – teria dito João Paulo I ao teólogo
veneziano Germano Pattaro – não poderemos subir juntos ao altar de Deus,
convertido no altar de todos os cristãos!” (p. 122).

“Albino
Luciani, o Papa da misericórdia, morre com um sorriso nos lábios. No
último instante sorri a Alguém. Alguém que o amava apresentou-se na hora
da sua morte com a ternura de uma mãe.

Tinha-o escrito Dom
Albino, numa oração de 1947, enquanto dirigia um retiro aos irmãos
cartuxos de Vedana: “Peço-te uma graça: quisera que Tu estivesses ao meu
lado na hora em que fecharei os olhos para este mundo. Quisera que
segurasses a minha mão na tua, como faz a mãe com o seu filho na hora do
perigo. Muito obrigado, Senhor!” (p. 123).

Eis o que referem bons autores a respeito da morte de João Paulo I, dissipando versões infundadas.

1 Embolia é a obstrução súbita de uma veia ou de uma artéria por um coágulo (N.d.R.).

Revista “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”

D. Estevão Bettencourt, osb

Revista nº. 462, Ano  2000,  Pág.  495

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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