Mãe desafia lei do aborto por síndrome de Down no Reino Unido

Segundo o ACI (20/05/2021), Máire Lea-Wilson, uma contadora de 33 anos, vai voluntariamente à Corte Real de Justiça de Londres, a mais alta corte do Reino Unido, desafiar a lei que permite abortar, em qualquer momento da gravidez, um bebê diagnosticado com síndrome de Down. Em 2019, Lea-Wilson teve seu segundo filho Aidan, que tem síndrome de Down. A audiência foi concedida em outubro passado e teve sua data marcada no início deste mês.

O envolvimento de Lea-Wilson com caso data de fevereiro de 2020, quando ela assistiu na TV uma entrevista de Heidi Crowter, uma jovem com síndrome de Down. Crowter estava explicando por que se opunha à lei que permite o aborto até 24 semanas de gravidez para todas as crianças por nascer, mas não impõe limite de tempo de gestação se houver “risco substancial” de deficiência. “Isso me faz sentir não amada e indesejada”, disse Crowter.

As palavras de Crowter tocaram Lea-Wilson, que havia dado à luz seu segundo filho, Aidan, em junho de 2019, com síndrome de Down.

“Descobri que Aidan provavelmente nasceria com síndrome de Down quando estava grávida de 34 semanas e então me perguntavam repetidamente se eu queria interromper a gravidez”, disse ela à CNA, agência em inglês do grupo ACI, em entrevista por e-mail.

“De repente, a maneira como me tratavam mudou de mãe entusiasmada que espera o segundo filho, para mulher enfrentando uma grande tragédia e que tinha que fazer uma ‘escolha’ – abortar ou não”.

“Eu tenho dois filhos que amo e valorizo da mesma forma, por isso não consigo entender por que a lei não os valoriza igualmente”.

Ela decidiu então escrever uma carta aberta ao secretário de saúde do Reino Unido, Matt Hancock, explicando por que ela estava ao lado de Crowter contra a cláusula de incapacidade da Lei do Aborto de 1967.

A seção 1(1)(d) da lei diz que o aborto permitido até a data do nascimento se “houver um risco substancial de que, se a criança nascesse, sofreria de anormalidades físicas ou mentais tão grande que a tornariam gravemente deficiente”.

Ela escreveu: “Eu tenho dois filhos. Ambos são fortes, determinados, independentes e amorosos. Como mãe deles, eles precisam de mim para cuidar deles, para ensinar-lhes sobre o mundo, para amá-los e para lhes dar valor “.

“Como mãe, posso dizer que dou o mesmo valor a eles; mas parece que a lei não o faz. A razão é que um deles tem síndrome de Down e o outro não”.

O post de Lea-Wilson foi amplamente partilhado nas redes sociais e ocasionou o contato com a mãe de Heidi Crowter, Liz Crowter, e sua advogada. Juntas, elas discutiram como sua experiência poderia contribuir para um processo jurídico.

“É muito significativo que tenhamos a oportunidade de mudar a lei. Como mãe, tudo o que eu quero para meu filho é que ele seja tratado de forma justa e igualitária,” disse Lea-Wilson. “Em sua curta vida, nós já experimentamos muita discriminação. Muitas vezes me perguntam: Você sabia que ele tinha síndrome de Down antes dele nascer?”

“A pergunta implica, que certamente eu não sabia, caso contrário teria interrompido a gravidez, o que é incrivelmente doloroso e não lhe dá o valor ou a dignidade que ele merece”.

“Acredito verdadeiramente que esta lei, que diferencia o limite de tempo para o aborto baseado na deficiência, permite que prevaleça uma narrativa onde as pessoas com deficiência são menos valorizadas e consideradas como um fardo para sua família e para a sociedade em geral”.

Embora ela ainda não tenha se encontrado pessoalmente com Heidi Crowter por causa da pandemia de covid-19, ela teve a “grande honra” de conhecer a jovem que será sua companheira na Corte Suprema através de vídeo-chamadas.

“Consigo pensar em poucas vezes na minha vida em que tenha dado mais risada”, comentou ela. “Ela é brilhante”, disse a mulher ao referir-se à jovem Heidi.

Elas têm apoiodo grupo Don’t Screen Us Out (que pode ser traduzido aproximadamente por “Não nos selecione”), formado para resistir à adoção de um novo teste pré-natal que deverá levar a um aumento dos abortos relacionados ao diagnóstico de síndrome de Down.

Em 2019 houve 3.183 abortos com base em incapacidade registrados na Inglaterra e no País de Gales, 656 deles foram decididos após diagnóstico pré-natal de síndrome de Down.

O aborto com base na deficiência também é uma prática comum em outros países europeus. O número de bebês com síndrome de Down nascidos na Europa caiu pela metade entre 2011 e 2015, de acordo com um estudo publicado no European Journal of Human Genetics.

Apenas 18 bebês com a síndrome nasceram na Dinamarca em 2019, e a Islândia diz estar perto de erradicar a síndrome de Down graças aos abortos.

Lea-Wilson acha que há muito em jogo no fato que a Suprema Corte ouvirá o caso entre os dias 6 e 7 de julho. “Espero que, se tivermos sucesso, possamos colocar a sociedade no caminho da verdadeira igualdade e inclusão das pessoas com síndrome de Down”, disse ela.

O biólogo Richard Dawkins escreveu em sua conta de twitter que seria ‘imoral’ trazer conscientemente um bebê com síndrome de Down ao mundo. Em entrevista sobre o assunto, disse que um bebê com síndrome de Down aumenta o nível de sofrimento no mundo e não aumenta a felicidade.

“Esse”, disse Lea-Wilson, “é apenas um exemplo, mas por experiência, eu sei que estas narrativas são comuns. Para outros pais, como eu, isto é chocante porque não condiz de forma alguma com a nossa experiência vivida”.

“Aidan traz muita alegria e felicidade ao mundo. E o que isto diz a meu filho, e a outras pessoas com síndrome de Down… que eles não têm o mesmo valor? ”

“Se a lei mudar, espero que pais novos e aqueles estão esperando um bebê comecem a receber informações justas e imparciais sobre a condição e, acima de tudo, espero que isso signifique que pessoas como meu filho comecem a olhar para um futuro onde possam viver uma vida livre de discriminação”, conclui Máire Lea-Wilson.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticias/mae-desafia-lei-do-aborto-por-sindrome-de-down-no-reino-unido-73124

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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