Segundo volume de “Jesus de Nazaré” é denso, mas vale a pena
Pe. Thomas Rosica, CSB
TORONTO, sexta-feira, 18 de março de 2011 (ZENIT.org) – A renovadora experiência de ler as Escrituras é algo muito querido pelo Papa Bento XVI. Seu primeiro livro “Jesus de Nazaré” é uma obra-prima e um verdadeiro modelo de erudição sobre as Escrituras, de experiência viva da oração e do pensamento da Igreja, de fé, de piedade e devoção, todos juntos em um só.
Sou grato a ‘Ignatius Press’ por me convidar a ler o segundo manuscrito de Bento XVI, “Jesus de Nazaré. Da entrada em Jerusalém até a Ressurreição”, antes da sua publicação e apresentação ao mundo pela assessoria de imprensa.
Como estudioso das Sagradas Escrituras, erudito e leitor do Novo Testamento, passei dois dias lendo o novo e denso texto de Bento XVI (Joseph Ratzinger), e saí desta experiência como se fosse um retiro bíblico sobre os relatos dos Evangelhos da Paixão e Ressurreição, que são as histórias do coração da fé cristã.
Este livro deveria ser leitura obrigatória para todos os bispos, padres, agentes pastorais e católicos sérios que querem encontrar-se com Jesus de Nazaré e aumentar o conhecimento sobre a pessoa de Jesus e o mistério central da nossa fé: acredito que não há maneira melhor de preparar-se para a Semana Santa e a Páscoa deste ano.
Advirto que não é uma leitura fácil, mas sim um texto denso e de meditação que exige pausas frequentes e até mesmo momentos de oração para absorver a riqueza do pensamento de Bento XVI.
A conduta de Judas
Vou me concentrar em três importantes pontos que Bento XVI sublinhou da Paixão e Ressurreição de Jesus.
Todos nós observamos que a amizade com Jesus é um dos temas centrais da pregação de Bento XVI. Não surpreende, portanto, que esta questão se destaque nas narrativas da Paixão. O Papa diz que Judas viveu duas tragédias: a traição e um “tipo equivocado de arrependimento”, um arrependimento no qual “não há espaço para a esperança”.
Bento XVI observou que João não oferece uma “interpretação psicológica” do comportamento de Judas: “Para João, o que aconteceu com Judas vai além de uma explicação psicológica. Isto cai sob o domínio de outro. Alguém que rompe sua amizade com Jesus, que rejeita seu ‘jugo suave’, e isso não lhe permite alcançar a liberdade, não se liberta, senão que sucumbe a outros poderes. Dito de outra forma, ele trai sua amizade, pois sucumbe sob o poder de outro, a quem se abriu”.
Não vingança, mas reconciliação
Bento XVI disse que a condenação de Cristo tinha complexas razões políticas e religiosas e que não se pode culpar o povo judeu em sua totalidade. O Papa também disse que é um erro interpretar as palavras citadas no Evangelho – “Seu sangue caia sobre nós e nossos filhos” – como uma maldição sobre os judeus.
Estas palavras, ditas por uma multidão que pedia a morte de Jesus, precisam ser lidas à luz da fé. Essas palavras não estão clamando por vingança, mas por reconciliação. O Papa escreveu: “Significa que todos nós precisamos desse poder purificador de amor, que é seu sangue”.
Bento XVI reafirmou o ensinamento segundo o qual muitos líderes judeus da época de Jesus não o consideraram como o Messias e Rei de Israel, que o rejeitaram e condenaram pelo crime de blasfêmia.
Jesus diante de Pilatos
Pôncio Pilatos apresentou Jesus ao povo com estas palavras enigmáticas: “Ecce homo”; e esta expressão adquiriu um significado profundo, espontaneamente, que foi muito além daquele momento da história.
“Em Jesus – escreve o Papa -, há um homem que manifestou a si mesmo. Nele se mostra todos os sofrimentos dos que estão sujeitos à violência, de todos os oprimidos. Seu sofrimento reflete a falta de humanidade do poder humano, que tão impiedosamente esmaga o impotente.”
“Nele se reflete o que chamamos de ‘pecado’: é o que acontece quando o homem vira as costas para Deus e tem o mundo nas suas próprias mãos.”
Epílogo: Ascensão ao céu
Alguns dos aspectos mais marcantes do livro são quando Bento XVI deixa de ser o exegeta e pastor para ser o amigo. Um deles é o epílogo do livro, com a Ascensão do Senhor ao céu.
Bento XVI escreve: “Após a multiplicação dos pães, o Senhor pede aos discípulos que entrem no barco e vão antes dele para Betsaida, na margem oposta, enquanto ele despede o povo. Então, ‘sobe até ao monte’ para orar. Assim, os discípulos estão sozinhos no barco. Há uma tempestade e o lago se torna turbulento. Estes são ameaçados pelas ondas e pela tempestade”.
“O Senhor parece estar muito distante, na montanha, orando. Mas, precisamente porque está com o Pai, Ele os vê. E porque os vê, atravessa por cima da água, entra no barco com eles, permitindo-lhes continuar com sua missão.”
Bento continua: “É um reflexo atual da Igreja – e nosso. O Senhor está ‘na montanha’ do Pai. É por isso que Ele nos vê. Por isso, ele pode entrar no barco da nossa vida a qualquer momento. Por isso, podemos recorrer a Ele sempre, temos a certeza de que Ele nos vê e nos ouve sempre”.
“Em nossos dias, o barco da Igreja viaja em meio às tempestades da história, em meio ao turbulento oceano do tempo. Muitas vezes parece estar afundando. Mas o Senhor está lá, e sempre chega na hora certa. ‘Eu irei, mas voltarei para vós’: esta é a essência da fé cristã, a causa da nossa alegria.”
Este é o encontro com o Senhor vivo, viajando conosco no barco, que está no coração de “Jesus de Nazaré”, de Bento XVI.
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O sacerdote basiliano Thomas Rosica, presidente da fundação do ‘Salt and Light Catholic Media and Television Network’, do Canadá, é consultor do Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais. Pode ser contatado em: rosica@saltandlighttv.org
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[Tradução livre dos trechos do livro]