Lazer, ecologia e trabalho segundo São Josemaría Escrivá

Fala Rafael Hernández Urigüen, autor do livro sobre estes temas

SAN SEBASTIÁN, quinta-feira, 10 de março de 2011 (ZENIT.org) – O descanso, o lazer, o meio ambiente e o trabalho como meios de santificação são temas que o fundador do Opus Dei abordou em várias ocasiões.

Hernández Urigüen, sacerdote, professor e capelão da School of Management Assistants (ISSA) de San Sebastián (Espanha), responde, nesta entrevista concedida a ZENIT, sobre estes aspectos recreativos e ecológicos de São Josemaría Escrivá de Balaguer, compilados em seu livro “Juego, ecología y trabajo: tres temas teológicos desde las enseñanzas de San Josemaría Escrivá” (Editorial EUNSA).

ZENIT: Em geral, as pessoas relacionam o Opus Dei com o trabalho. Você, no entanto, traz à tona a dimensão lúdica em São Josemaría Escrivá.

Dr. Hernández: São Josemaría sempre concebeu o trabalho como a matéria habitual de santificação para os leigos que seguem Jesus de Nazaré, principalmente nos anos da vida oculta – cerca de trinta anos -, trabalhando como artesão.

Mas veja: Jesus Cristo é o Filho que trabalha com a plena liberdade de quem recebeu tudo de Deus Pai. O Senhor afirma que o Pai trabalha sempre e Ele – Jesus – só faz o que aprendeu dessa atividade da Primeira Pessoa. O trabalho, então, já não é um símbolo de escravidão ou condenação fastidiosa pelo pecado original, mas uma atividade pela qual os que se identificam com Jesus Cristo podem realizar toda a alegria dos filhos e filhas de Deus.

Quem se alegra com o que executa está vivendo uma dimensão lúdica: pode divertir-se até mesmo em seu esforço. O esforço é um desafio que implica em ativar os recursos das virtudes e da criatividade.

São Josemaría insistia, com sua vida e seus ensinamentos, em que os batizados, enquanto lidam com as suas tarefas, são contemplativos no meio do mundo.

A tese que defendo no livro é que a dimensão lúdica pode e deve envolver o trabalho cotidiano de homens e mulheres.

ZENIT: Então, para São Josemaría, descansar e divertir-se é tão importante como trabalhar?

Dr. Hernández: São Josemaría aconselhou sempre conciliar o trabalho com o descanso, e buscou que os fiéis da Prelazia aprendessem a equilibrar um trabalho exigente e sério com períodos de descanso: esportes, excursões, conversas familiares, cultivo da leitura, hobbies… Sempre incentivou a plena liberdade de seus filhos e filhas espirituais, encorajando-os a ser sempre eles mesmos e desenvolver ao máximo a personalidade de cada um, sem clichês ou moldes uniformizadores.

Além disso, o sentimento de filiação divina levava São Josemaría a promover o bom humor entre todos e a desdramatizar as situações. Na luta espiritual, ele usava imagens da ginástica, do esporte. De fato, existem gravações de suas catequese nas quais ele imita, diante de milhares de jovens e outras pessoas, gestos de saltadores com vara nos jogos olímpicos. Ele falava do espírito esportivo como atitude que traduz ao âmbito humano a virtude teologal da esperança.

Insistia em que a vida espiritual, inclusive a luta ascética, não consiste apenas em evitar a queda, mas em levantar-se, uma e outra vez, quando se falha. Chegava a definir a vida interior como “começar e recomeçar”.

Sempre cuidou do descanso dos outros, inclusive com dicas práticas. Por exemplo, a alguém intelectual muito estressado, podia prescrever: “Dedique alguns dias só a remar, leia Tintín (ou outra história em quadrinhos), reze três Ave-Marias à noite e tente dormir muito e bem”.

Claro que ele sabia como todas aquelas pessoas que o seguiam eram pessoalmente muito exigentes no seu trabalho diário e no serviço aos outros e que, depois de um período de descanso, voltavam com renovado vigor.

ZENIT: A ecologia realmente preocupava São Josemaría Escrivá de Balaguer?

Dr. Hernández: No livro “Lazer, ecologia e trabalho”, o segundo capítulo desenvolve algumas dicas de como o ensinamento de São Josemaría oferece ideias muito inovadoras para exprimir a mensagem cristã com a linguagem da ecologia, e também para iluminar o problema ambiental a partir de uma espiritualidade que, em suas próprias palavras, permite “devolver à matéria seu nobre e original sentido”.

Seus escritos envolvem toda uma teologia da criação e da redenção, na qual se afirma que “o mundo é bom, porque as obras de Deus são sempre perfeitas, e somos nós, os homens, que tornamos o mundo ruim, pelo pecado” (Conversaciones, 70).

Descobri também em seus escritos os estilos de vida cristã que favorecem o cuidado do meio ambiente: formas concretas de vida sóbria, sem deixar-se levar pelo consumismo; cuidado com os objetos que usamos, evitando que quebrem ??desnecessariamente; e a “naturalidade”. Esta expressão do santo sempre me fascinou, porque fomenta uma sábia aceitação da natureza e da forma de desenvolvimento dos cristãos simples, de acordo com o espaço e o tempo.

Outros textos fascinantes de São Josemaría aludem à sua própria maneira de celebrar a Missa. Ele estava convencido de que, ao celebrar a Missa, “estão presentes todas as criaturas de Deus – a terra, o céu e o mar, os animais e as plantas -, dando glória ao Senhor a criação inteira”.

Outra imagem que eu uso muitas vezes se refere ao testemunho e à ação dos cristãos leigos no meio de um mundo muitas vezes manchado pelo pecado: nós temos que seguir no meio deste mundo podre; no meio deste mar de água suja; entre os rios que passam pelas grandes cidades e vilarejos, e que não têm em suas águas a virtude de fortalecer o corpo, de apagar a sede, porque envenenam. Meus filhos, no meio da rua, no meio do mundo, temos de estar sempre procurando criar em torno de nós um paraíso de águas limpas, para que cheguem outros peixes e, juntos, vamos expandindo o remanso, purificando o rio, devolvendo sua qualidade às águas do mar.

ZENIT: Que contribuição teológica oferece Escrivá de Balaguer?

Dr. Hernández: Em minha opinião, uma contribuição de primeira ordem. Embora ele não tenha se proposto expressamente a fazer teologia, seu carisma e seus ensinamentos oferecem ideias que sempre iluminam, como comentei anteriormente, os problemas da história, sempre a partir da luz original: santificar-se por meio do trabalho e das circunstâncias cotidianas do cristão no meio do mundo.

É uma visão muito positiva do mundo e das realidades humanas, que estimula o homem e a mulher batizados, sem se afastarem do mundo, a completarem a tarefa que Deus nos confiou com relação à criação.

ZENIT: O que seria o materialismo cristão, segundo o fundador do Opus Dei?

Dr. Hernández: No livro, é amplamente discutida esta expressão original de São Josemaría. Ele falou dela no Campus Universitário de Pamplona, durante a manhã de 8 de outubro de 1967. Estas são algumas das suas expressões: “O autêntico sentido cristão – que professa a ressurreição de toda carne – sempre enfrentou, como é lógico, a desencarnação, sem medo de ser julgado de materialismo. É lícito, portanto, falar de um materialismo cristão, que se opõe audazmente aos materialismos fechados ao espírito” (Conversaciones con Mons. Escrivá de Balaguer, 115).

Em uns parágrafos anteriores, ele mesmo explicou seu sentido: “Não há outro caminho, meus filhos: ou sabemos encontrar o Senhor em nossa vida cotidiana, ou não o encontraremos jamais”.

Por Miriam Díez i Bosch

Mais informações: http://www.eunsa.es/index.php?pagina=1&id_libro=1554&codigo_materia=&nombre_materia=&seccion=libro&plantilla=libro

Vídeo: http://www.eunsa.es/videos/videos.php

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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