Jesus não morreu na cruz – EB

Em síntese: Os Evangelhos e a tradição de vinte séculos são unânimes em afirmar que Jesus morreu na Cruz. O sudário de Turim comprova-o segundo os estudiosos em geral. Por conseguinte carecem de fundamento sólido as teorias que apregoam o contrário. Neste artigo é considerada a tese de Holger Kersten, conforme a qual Jesus não morreu na Cruz.

O pesquisador alemão Holger Kersten, que compartilha a filosofia budista, escreveu o livro “Jesus viveu na Índia. A desconhecida história de Cristo antes e depois da Crucificação” (Ed. Best Seller, São Paulo, 1989). Nesta obra o autor nega que tenha Jesus morrido na Cruz; haverá ressurgido do sepulcro em vias de recuperação de seus sofrimentos, com o auxílio de amigos, e terá viajado para a Índia. Tal obra foi avaliada em PR 321/1989, pp. 82-95. deste comentário extrairemos, a seguir as considerações relativas à morte de Cristo (pp. 87-89), completando o que dissemos em nosso artigo anterior sobre o mesmo assunto.

Sim ou Não?

Os argumentos aduzidos para afirmar que Jesus não morreu na Cruz, são, em grande parte, depreendidos do exame do Sudário de Turim. – A propósito observe-se:

1) O Sudário não pode servir de base para estruturar alguma teoria, visto que a sua autenticidade ainda está em discussão, embora muito evidente.

2) Mesmo que se admita a genuinidade da Mortalha, ela leva a crer que Jesus morreu realmente e aí foi envolvido. O Dr. Pierre Barbet, cirurgião francês, escreveu a respeito um livro minucioso de índole científica, reconstituído a Paixão e a Morte de Jesus à luz da imagem do Sudário ¹. Além disto, os cientistas sempre viram no Sudário a imagem de um homem realmente morto. A tese de Kersten é totalmente singular.

3) Independentemente do Sudário, a morte de Jesus na Cruz consta das narrações do Evangelho e de toda a Tradição cristã. Os maus tratos e a perda de sangue que Jesus padeceu desde a agonia no horto das Oliveiras até a crucifixão, explicam a sua morte na Cruz; esta, de resto, foi averiguada pelos soldados, que não lhe quiseram quebrar as pernas, como fizeram aos dois ladrões crucificados ao lado de Jesus; por cautela, transpassaram-lhe o lado com um golpe de lança, que por si bastaria para matar Jesus (cf. Jo 19, 31-37).

4) A fim de fugir da força probatória dos fatos, Kersten afirma que o golpe de lança foi apenas “uma arranhadura ou escoriação superficial, e não um golpe violento e muito menos um ferimento profundo” (p. 182). Também para escapar à evidência dos argumentos, julga Kersten que Jesus ficou mais de três dias no sepulcro em tratamento (possivelmente proporcionado a Jesus por companheiros nazarenos ou essênios); cf. p. 195. Tais explicações são artificiais porque inspiradas por preconceitos, como, aliás, também e ridícula a explicação dada à Ascensão de Jesus quarenta dias depois de ressuscitado: “O caminho para Betânia segue em direção ao Sul, nos contrafortes do Monte das Oliveiras até o pico da Ascensão num aclive bastante pronunciado. Quem chega até o pico da montanha, logo é perdido de vista pelos que ficam um pouco mais abaixo” (p. 196). Isto quer dizer que Jesus terá descido para o outro lado da montanha, de modo a desaparecer aos olhos dos Apóstolos; não se terá elevado nos céus!…

H. Kersten não leva em conta o fator mais decisivo para a morte dos crucificados, que era a asfixia. Mesmo que as chagas produzidas pelos cravos não fossem mortais, a posição de quem pendia na cruz levava à morte rápida por asfixia. Eis o que se lê no livro do Dr. Barbet:

“A fixação dos braços levantados, portanto em posição de inspiração, acarreta relativa imobilidade das costelas e grande incômodo na respiração; o crucificado tem a impressão de sufocamento… O coração deverá trabalhar mais, suas pulsações se precipitam e enfraquecem. Segue-se uma certa estagnação dos vasos de todo o corpo. E como, por outro lado, a oxigenação se faz mal nos pulmões que funcionam insuficientemente, a sobrecarga de ácido carbônico provoca excitação das fibras musculares e, como conseqüência, uma espécie de estado tetânico de todo o corpo” (p. 99).

Mais:

“Podemos citar o testemunho de dois antigos prisioneiros de Dachau, que, várias vezes, presenciaram a aplicação do suplício e dele conservam terrificante lembrança… Suspendiam o condenado pelas duas mãos, quer uma ao lado da outra, quer separadas. Os pés ficavam a certa distância do solo.

Em pouco tempo, o incômodo respiratório ficava intolerável. O paciente procurava remediá-lo erguendo-se com os braços para poder retomar fôlego; conseguia-se manter no ar até 30 e 60 segundos.

Prendiam-lhe, então, pesos aos pés para dificultar os soerguimentos. A asfixia se desfechava então rapidamente em três ou quatro minutos. No último momento, tiravam os pesos, permitindo de novo os soerguimentos para que, retomando fôlego, conseguisse reviver (…).

Após uma hora de suspensão, tornavam-se estas contrações cada vez mais freqüentes, mas também mais fracas e a asfixia se estabelecia progressivamente e definitivamente. A testemunha descreve a caixa torácica intumescida ao máximo, a cavidade epigástrica muito profunda. As pernas rijas pendiam sem se agitar. A pele ficava violeta. Abundante suor aparecia em todo o corpo, escorrendo até o chão e manchando o cimento. Especialmente profuso era este suor nos poucos minutos que precediam a morte; os cabelos e a barba ficavam literalmente ensopados, ainda em temperatura próxima a zero. Deviam esses agonizadores ter uma temperatura bem elevada.

Depois da morte ficava o corpo em extrema rigidez. A cabeça caía para a frente, no eixo do corpo. A morte sobrevinha, em média, ao cabo de três horas; ou um pouco mais tarde, quando as mãos ficavam separadas” (pp. 101s).

Por conseguinte, o estudo atento e objetivo do Evangelho colocado no contexto da arqueologia e da medicina confirma que Jesus realmente morreu na Cruz.

5) Toda a Tradição professa a morte de Jesus na Cruz e indica seu sepulcro em Jerusalém. Não há, entre os cristãos, notícia alguma de sepultura de Jesus na Índia; se a houvesse, os cristãos teriam peregrinado até lá, como peregrinaram a Jerusalém, desde cedo até nossos dias. É, pois, totalmente foram de contexto e de verossimilhança a hipótese de Kersten; é somente o desejo de fazer de Jesus em Bodhisattwa que explica a sua engenhosidade fantasiosa.

Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D Estevão Bettencourt, osb
Nº 503, Ano 2004, p. 230

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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