Igreja reconhece mudança climática, mas rejeita «catastrofismos»

Conclusões
do cardeal Martino no seminário internacional no Vaticano

CIDADE DO
VATICANO, segunda-feira, 30 de abril de 2007 (ZENIT.org).- Em 27 de abril
passado, no encerramento do seminário internacional sobre «Mudança climática e
desenvolvimento», o cardeal Renato R. Martino expressou sua satisfação pelo
vivo e intenso debate desenvolvido, e ainda admitindo a realidade da mudança
climática, criticou certas «formas de idolatria da natureza que perdem de vista
o homem».

«A natureza
é para o homem e o homem é para Deus», sublinhou o presidente
do Conselho Pontifício Justiça e Paz ao apresentar as conclusões deste encontro
que reuniu no Vaticano 80 estudiosos e especialistas
de vinte países dos cinco continentes.

«Também na
consideração dos problemas relativos à mudança climática — explicou o
purpurado — terá que recorrer à Doutrina Social da Igreja», que «não avaliza
nem a absolutização da natureza, nem sua redução a mero instrumento».

Segundo o
cardeal Martino, «a natureza não é algo absoluto, mas uma riqueza depositada
nas mãos responsáveis e prudentes do homem» e isso significa também que «o
homem tem uma indiscutida superioridade sobre a criação e, em virtude de ser
pessoa dotada de uma alma, não pode ser equiparada aos demais seres vivos, nem
muito menos considerado elemento de perturbação do equilíbrio ecológico
naturalista».

Pois bem,
neste contexto, «o homem não tem um direito absoluto sobre ela, ainda que sim
um mandato de conservação e desenvolvimento em uma lógica de destino universal
dos bens da terra, que é um dos princípios fundamentais da Doutrina Social da
Igreja, princípio que é preciso compaginar sobretudo com a opção preferencial
pelos pobres e pelo desenvolvimento dos países pobres».

Na
consideração dos problemas relativos à mudança climática, o presidente
do dicastério vaticano revelou que «a Doutrina Social da Igreja deve
enfrentar muitas formas de idolatria da natureza atuais que perdem
de vista o homem».

«Semelhantes
ecologismos — precisou o purpurado — surgem com frequência
no debate sobre os problemas demográficos e sobre a relação entre população,
meio ambiente e desenvolvimento.»

O cardeal
Martino relatou que, na Conferência internacional do Cairo sobre População e
Desenvolvimento em 1994, da qual fez parte como chefe de delegação, «a Santa Sé
teve de opor-se, junto a muitos países do terceiro mundo, à idéia segundo a
qual o aumento de população nas próximas décadas levaria ao colapso dos
equilíbrios naturais do planeta e impediria seu desenvolvimento».

«Estas
teses foram já impugnadas e, felizmente, estão em regressão», afirmou o
presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz. «Ao mesmo tempo — acrescentou
–, os mesmos propunham esta visão, sustentavam como meio para impedir o
suposto desastre ambiental, instrumentos nada naturais, como o recurso ao
aborto e à esterilização em massa nos países pobres com alta natalidade.»

«A Igreja
propõe uma visão realista — sustentou o cardeal Martino.

Tem
confiança no homem e em sua capacidade sempre nova de buscar soluções aos
problemas que a história lhe apresenta. Capacidade que lhe permite opor-se com
freqüência às recorrentes, infaustas e improváveis previsões catastróficas.»

Na parte
final das conclusões, o purpurado recordou que «segundo a concepção de ecologia
humana desenvolvida pelo Papa João Paulo II, a ecologia não é só uma emergência
natural, mas uma emergência antropológica, na qual tem um papel decisivo a
relação do homem consigo mesmo e sobretudo com Deus».

«O erro
antropológico é, portanto, um erro teológico», sublinhou o cardeal
Martino; e acrescentou: «quando o homem quer se colocar no lugar de Deus, perde
de vista também a si mesmo e sua responsabilidade de governo da natureza».

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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