Há um sabiá que canta na Catedral…

SABIA

Chegou a Primavera, a estação mais bonita do ano; as árvores estão floridas, as cigarras e os pássaros cantando, as flores nos saúdam por toda parte revelando no espelho da Criação o Rosto belo e perfeito de Deus. Podemos exclamar: “O Céu e a Terra proclamam a Vossa Glória!”; “Tudo o que criastes proclama o Vosso louvor!”, assim reza a Liturgia com ainda mais convicção.

No meio de toda esta maravilha que mostra a beleza da vida, neste verdadeiro show da natureza, há coisas impressionantes: uma abelha que capta o néctar de cada flor para fazer o mel; o beija flor que paira no ar para sugar a doçura da flor; as borboletas que esbanjam suas cores ao voar por entre as rosas, violetas, azaleias, crisântemos… É o show da vida! É a época em que o Criador mais nos revela a Sua grandeza, beleza, amor e transcendência a nós. Se a Terra já é tão linda, fico imaginando o Céu!

Eu gosto de ir à santa Missa todos os dias na belíssima Catedral de Lorena, que já tem mais de cem anos, maravilhosamente projetada e construída com muita beleza e carinho. Seus arcos góticos são maravilhosos e harmoniosos; sua majestade é digna da Majestade de Deus. Não me canso de agradecer a Deus pelos que a construíram em 1890. Nela eu fui batizado. Ali está aquela pia sagrada que eu beijo todos os dias, que foi “o túmulo do meu homem velho e o berço do meu homem novo”, regenerado pelas águas do santo batismo. Ali eu fiz a Primeira Comunhão e fui crismado e me casei; ali meus filhos foram batizados, crismados e casados…

Quando nela eu entro, sinto a alegria do salmista que canta: “Que alegria quando me disseram, vamos à Casa do Senhor…” (Sl 121,1); ou como disse o Cronista da Bíblia: “Escolhi e santifiquei esta Casa para que o meu nome esteja sempre neste lugar. Os meus olhos e o meu coração estarão fixos nela para sempre” (2 Cron. 7,16).

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A Casa de Deus deve ser sempre bela. Quando o povo voltou do exílio da Babilônia, depois de 70 anos sem o Templo, destruído por Nabucodonosor, Deus falou ao povo pelo profeta Ageu:

“Eis o que diz o Senhor dos exércitos: este povo diz: não é ainda chegado o momento de reconstruir a casa do Senhor. E a palavra do Senhor foi transmitida pelo profeta Ageu: É então o momento de habitardes em casas confortáveis, estando esta casa em ruínas? Eis o que declara o Senhor dos exércitos: considerai o que fazeis! Semeais muito e recolheis pouco; comeis e não vos saciais; bebeis e não chegais a apagar a vossa sede; vestis, mas não vos aqueceis; e o operário guarda o seu salário em saco roto! Assim fala o Senhor dos exércitos: refleti no que fazeis! Subi a montanha, trazei madeira e reconstruí a minha casa; ela me será agradável e nela serei glorificado, – oráculo do Senhor. Esperastes uma abundante colheita e esta foi magra; dissipei com um sopro o que queríeis armazenar. Por quê? – oráculo do Senhor. Porque minha casa está em ruínas, enquanto cada um de vós só tem cuidado da sua. Por isso o céu negou o seu orvalho e a terra, os seus frutos. Sequei terras e colinas, trigo, mosto e óleo, todo o fruto da terra, homens e animais, tudo o que produz o trabalho de vossas mãos” (Ageu 1,1-8).

Algo simples e bonito tem acontecido em nossa Catedral neste mês de setembro, mês em que se inícia a primavera e dedicado a Bíblia. Há um sabiá que voa e canta no seu interior durante a Missa. Quando o salmista começa a entoar o Salmo Responsorial, aquele simples animalzinho o acompanha com seu canto metálico. É o louvor da criação! Não sei se ele sabe porquê canta assim, mas sei que Deus acolhe este canto de louvor, certamente para suprir aqueles que não o fazem, embora tenham uso da razão. Jesus disse que se os homens não o louvarem as pedras o fariam. Mas os pássaros e as flores se antecipam às pedras, Senhor!

É um canto divino que alegra até os ouvidos tristes e os corações amargurados. É a voz de Deus expressa no canto de um passarinho e que louva o Criador. Ele voa livremente pela imensa nave da Igreja, e de vez em quando pousa no presbitério, sobre o lustre que ilumina o altar; ali ele parece querer assistir mais de perto a cerimônia que presentifica o Calvário.

Certo dia não houve Missa na Catedral, não tinha padre, houve apenas uma celebração da Palavra. Notei que o sabiá não cantou neste dia. No final da Missa um amigo veio até mim para dizer: “Notou professor, hoje o sabiá não cantou, não teve Missa!”. Tive de concordar. Mas ele estava lá assistindo a paraliturgia.

Também é preciso aprender a ler os sinais do amor de Deus que estão espalhados por toda parte. Este simples sabiá que adorna a Liturgia com seu canto na Catedral é um deles.E se você parar um pouquinho para pensar, perceberá tantas outras demonstrações do amor de Deus por você.

Que neste dia possamos louvar a Deus por toda a criação. Por este mundo belo, colorido, dinâmico e cheio de vida que Ele criou carinhosamente para que cada um de nós pudéssemos passar os nossos dias nesta Terra. Laudato Si, Louvado sejas!

Prof. Felipe Aquino

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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