Governo da Índia proíbe congregação de Madre Teresa de receber fundos do exterior

Segundo o ACI Digital (29/12/2021), o governo da Índia anunciou no dia 25 de dezembro, dia de Natal, que foi “rejeitada” a renovação da licença para receber fundos estrangeiros das Missionárias da Caridade, congregação católica fundada por madre Teresa de Calcutá.

A congregação, fundada em 1950 pela ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, tem sede na cidade de Calcutá e trabalha com algumas das pessoas mais pobres e desamparadas do país, administrando hospitais, escolas e casas de acolhida para crianças abandonadas.

Em 25 de dezembro, o Ministério do Interior da Índia informou que se recusou a renovar o registro das Missionárias da Caridade sob a Lei de Regulamentação de Contribuições Estrangeiras (FCRA) por “não cumprir com as condições de elegibilidade”.

“Ao considerar o pedido de renovação das Missionárias da Caridade, algumas contribuições adversas foram notadas”, disse o Ministério do Interior, sem fornecer mais detalhes.

Na segunda-feira, 27 de dezembro, a ministra-chefe do estado de Bengala Ocidental, Mamata Banerjee, escreveu no Twitter que o governo havia congelado as contas bancárias da congregação religiosa.

O Ministério mais tarde disse que nenhuma conta havia sido congelada, mas que foi informado pelo State Bank of India que a congregação havia enviado um pedido ao banco para congelar suas contas.

As Missionárias da Caridade emitiram um breve comunicado informando que pediram aos seus centros que não operassem nenhuma conta com moeda estrangeira até que o problema da renovação da licença seja resolvido.

“Fomos informados de que nosso pedido de renovação da FCRA não foi aprovado. Portanto, como uma medida para garantir que não haja nenhum lapso, pedimos aos nossos centros que não movimentem nenhuma das contas de FC [contribuições estrangeiras] até que o assunto seja resolvido”, disse a irmã Mary Prema Pierick, atual Superiora das Missionárias da Caridade, em comunicado divulgado em 27 de dezembro.

Na Índia, uma licença sob a FCRA é imprescindível para receber doações estrangeiras e a congregação católica depende em grande medida deste tipo de doações para financiar as suas muitas obras de caridade.

A organização católica administra casas de acolhida em toda a Índia. Segundo o jornal The Hindu, a congregação recebeu cerca de US$ 750 milhões do exterior no ano fiscal de 2020-21.

O fundador do Centro Jesuíta Prashant para os Direitos Humanos, Justiça e Paz, padre Cedric Prakash, lembrou que “as Irmãs Missionárias da Caridade cuidam de milhares de indianos rejeitados independentemente do custo” e, portanto, “interromper o fluxo de fundos para elas, em termos simples, significa privar os mais pobres dos pobres da Índia: os seres que não são cuidados por ninguém”.

“A medida do governo nega aos sem-teto a necessidade humana básica de abrigo e comida, para não mencionar a aceitação, o calor e o amor que eles precisam desesperadamente e que as irmãs e irmãos tão sinceramente lhes fornecem”, lamentou padre Prakash.

O padre também pediu ao governo que “reconsidere esta decisão terrível” e “restaure o bom nome e o trabalho das freiras Missionárias da Caridade”.

“Se há algum problema ou deficiência, deve-se ajudar as irmãs a tratá-los e, sobretudo, que aqueles que são atendidos nas instituições das Missionárias da Caridade não sejam privados desta assistência humanitária básica”, acrescentou.

Sam Brownback, ex-embaixador-geral dos EUA para a Liberdade Religiosa Internacional, considerou “incrível” que o governo indiano “proíba as doações estrangeiras a uma organização fundada pela Madre Teresa, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz”.

“Essa ação errada só prejudica o povo da Índia. Deve-se permitir que as organizações beneficentes ajudem as pessoas necessitadas”, disse em sua conta de Twitter em 27 de dezembro.

A notícia da proibição de fundos estrangeiros veio duas semanas depois que a polícia de Gujarat começou a investigar as Missionárias da Caridade por suposta “conversão forçada” de meninas órfãs resgatadas do trabalho infantil, que vivem em uma casa administrada pela congregação de santa madre Teresa de Calcutá na área de Makarpura.

A missionária da caridade da casa em Vadodara, irmã Clarissa, disse a Asia News que elas estão em estado de choque pela denúncia, que diz ser falsa.

Cristãos perseguidos na Índia

Ativistas de direitos humanos dizem que as minorias religiosas na Índia enfrentam níveis mais altos de discriminação e violência desde o Partido Nacionalista Hindu BhaRatiya Janata (BJP) de Modi chegou ao poder em 2014.

Os cristãos na Índia representam 2,3% dos 1,3 bilhão de habitantes do país, mas os fundamentalistas hindus acusam os cristãos de converter pessoas em grande escala.

No dia 23 de dezembro, a fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) divulgou os resultados de um novo relatório elaborado por três organizações de direitos civis na Índia, que denunciam o aumento dos ataques contra cristãos no país.

Segundo a pesquisa, os cristãos sofrem perseguição por sua fé “em 21 dos 28 estados” da Índia. Foram reportados “305 incidentes de violência apenas nos primeiros nove meses de 2021”, muitos deles perpetrados por turbas. Também foram documentados “28 casos de danos infligidos a locais de culto cristão, incluindo igrejas”.

Há alguns meses, em seu Relatório de Liberdade Religiosa de 2021, a fundação ACN disse que os cristãos estão sendo perseguidos na Índia com base em uma apologia da supremacia étnica e religiosa. Relatou que nos países asiáticos com maioria hindu e budista, como a Índia, as minorias religiosas, como os cristãos, são frequentemente pressionadas por políticas e, além disso, seus membros são reduzidos a cidadãos de segunda classe.

Os pesquisadores observaram que os cristãos na Índia não só temem e se preocupam com sua segurança devido aos possíveis ataques que possam sofrer, mas também por causa da “atitude negativa da polícia e de outras autoridades civis”, que tendem a ignorar suas denúncias e proibi-los de praticar a sua fé.

As Missionárias da Caridade de Madre Teresa

Na audiência geral da quarta-feira, 22 de setembro de 2021, o papa Francisco destacou o exemplo de serviço de madre Teresa de Calcutá e das Missionárias da Caridade.

Madre Teresa de Calcutá nasceu em 1910 em Skopje (atual Macedônia). Chegou à Índia em 6 de janeiro de 1929, fez os primeiros votos em 1931 e foi enviada para Calcutá, onde trabalhou como professora por 20 anos com as Irmãs de Nossa Senhora de Loreto.

Posteriormente, a santa fundou, a pedido de Cristo, as Missionárias da Caridade, dedicadas ao serviço dos mais pobres.

Além disso, fundou os Irmãos Missionários da Caridade, o ramo contemplativo das Irmãs, os Irmãos Contemplativos, os Padres Missionários da Caridade, os Colaboradores de Madre Teresa e os Colaboradores Doentes e Sofredores. Mais tarde, surgiu a congregação de Missionários da Caridade Leigos e o Movimento Sacerdotal Corpus Christi.

Madre Teresa morreu em 5 de setembro de 1997.

Em 13 de setembro daquele ano, foi concedido a ela um funeral de estado por seus serviços aos pobres, independentemente de sua casta e credo.

Naquele dia, a freira foi despedida por cerca de 100 mil pessoas, incluindo presidentes, primeiros-ministros, rainhas e redes de televisão de todo o mundo.

Foi beatificada por seu grande amigo são João Paulo II em 19 de outubro de 2003 e canonizada 13 anos depois pelo papa Francisco.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticias/governo-da-india-proibe-congregacao-de-madre-teresa-de-receber-fundos-do-exterior-64528

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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