Glorificação de Maria

Côn. José
Geraldo Vidigal de Carvalho*

Duas
grandes verdades teológicas marcam  o
decurso da vida da Mãe de Jesus: sua Imaculada Conceição, que nos leva ao
primeiro momento de sua existência temporal, e sua Assunção aos céus, que nos conduz
a sua situação final. Do tempo à eternidade estes dois dogmas nos envolvem nas
grandezas marianas, cuja base é sua maternidade divina. O senso da imortalidade
perpassa a mensagem bíblica desde o Antigo Testamento, pois o Deus de Abraão,
de Isaac e de Jacob não é Deus dos mortos, mas dos vivos (Mc 12,26-27). A
ressurreição é uma tese irrecusável da revelação divina. Trata-se de um anseio
profundo do ser humano que Deus jamais frustraria. Nem entenderíamos a
Sabedoria Infinita se Ela viesse a aniquilar para sempre  a união da alma e do corpo, dado que não
apenas foi solene a criação do homem, como também este apareceu como imagem e
semelhança de Deus.
Ora, pessoa humana é uma alma que informa um corpo e um
corpo informado pela alma. É certo que a rebeldia do ser racional iria
transtornar os planos do Ser Supremo e a morte, separação da alma e do corpo,
seria um justo castigo pela prevaricação dos representantes da humana linhagem.
Nunca se pode esquecer que o Redentor colocou como uma de suas promessas a
ressurreição dos mortos. Os corpos serão, um dia, associados à glória da alma.
Haverá uma sublimação final da carne, o que é perfeitamente lógico, já que o
corpo coopera, decisivamente, para a 
entrada na felicidade eterna do céu ou na condenação perene do inferno.
São Paulo instruirá sobre a ressurreição (1 Cor 15,35-37). No tempo trazemos em
nós a imagem do homem adâmico que se revoltou contra Deus, mas chegará o
momento feliz em que o homem será perenemente animado pela alma regenerada pelo
novo Adão, Jesus Cristo. A ressurreição de Jesus é o princípio, a garantia e o
modelo da nossa ressurreição. Ora, se Cristo ressuscitou dos mortos, está vivo,
será impossível não pensar na Virgem, que Lhe havendo dado um corpo sempre
glorioso em potência, teve com a carne sacrossanta do Filho uma afinidade
íntima profunda. Maria, Mãe do Salvador, seria a primeira a receber os efeitos
maravilhosos da redenção e, entre eles, a ressurreição antecipada. Cumpre,
pois, firmar que a crença na assunção de Maria não se funda num fato
transmitido pela tradição. É sintomático nunca se ter notícia do túmulo de
Nossa Senhora, mas é na sua maternidade divina que buscamos um dos argumentos
bíblicos da definição infalível de 1º de novembro de 1950. Deus, o Legislador,
que fez do respeito devido aos pais uma das condições da salvação eterna, não
deixaria o corpo de sua mãe entregue à decomposição. Ela nasceu, além disto,
sem a mancha do pecado, toda santa e imaculada, não tinha por que sofrer as
consequências da desobediência de nossos primeiros pais e, com Jesus, pela
força do vencedor de satã, Ela venceria também a morte. Esposa mística do
Espírito Santo, merecia ser a primeira dentre os viventes a conhecer a
glorificação final dos santos. Ela jamais esteve sujeita ao estranho intervalo
que separa o instante da morte, em que se escapa ao tempo, daquele em que se
reencontra a sua plenitude para a Eternidade. Imitou a Jesus, morrendo, mas sua
morte foi qual suave sono do qual logo despertou para receber, na Jerusalém
celeste, as homenagens de toda a corte celeste. Alegres, professamos que a
reintegração da criação em Deus, que já está terminada no seu chefe Jesus,
também o está para a Mãe de Jesus. A glorificação de Maria é, deste modo, um
apelo vibrante a que se vivam verdades que nunca podem ser esquecidas. No céu
Ela aguarda os que vivem intensamente o Evangelho. Reintegrada, está Ela no
porto final à espera de seus filhos espirituais.  Sua situação na glória não a coloca longe de
nós, mas a aproxima ainda mais de nós, dado que sua maternidade de graça se
transformou numa maternidade de glória da qual quer que todos partilhemos.

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* Professor
no Seminário de Mariana – MG

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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