França enfrenta problemas com laicidade e islamismo

Partido de
Sarkozy organiza debate nacional sobre estes temas

Por Paul De
Maeyer

ROMA,
terça-feira, 1º de março de 2011 (ZENIT.org) – Depois de ter abordado temas delicados, como a
chamada “identidade nacional” e o uso o véu muçulmano integral em
público, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, está novamente se preparando
para entrar em território perigoso, o da “laicidade”, em particular o
da compatibilidade do islamismo com a república e os valores republicanos.

Seu
partido, a UMP (União para o Movimento Popular), marcou para 5 de abril uma
convention sobre “o exercício dos cultos religiosos na República leiga, em
particular o exercício do culto da fé islâmica”. Estas foram as palavras
do secretário-geral da formação de direita, Jean-François Copé (la-Croix.com,
17 de fevereiro).

Recebendo,
na quarta-feira, 16 de fevereiro, os deputados da UMP, o presidente denunciou
“a brecha crescente entre a mídia e a preocupação francesa” sobre as
questões do Islã e da laicidade. “Nós pagamos muito caro pela cegueira
sobre a imigração dos anos 80. Era um debate tabu. Com a laicidade e o Islã
ocorre a mesma coisa”, disse Sarkozy, que pediu, para este ano, propostas
concretas sobre elementos como o conteúdo das pregações dos imames e dos
lugares de culto dos muçulmanos (Le Figaro, 17 de fevereiro).

Sarkozy
quer parar, particularmente, o mal visto fenômeno das reuniões dos muçulmanos
para rezar na rua. “Devemos ter um debate sobre a oração na rua. Em um
país leigo, não devem existir convites à oração na rua”, continuou
Sarkozy. “É preciso chegar a um corpus ideológico em 2011”, disse aos
deputados da UMP.

A direita
tampouco rejeita a alteração da lei de 1905 sobre a separação entre Igreja e
Estado, que estipula que “a República não reconhece, nem paga, nem
subvenciona qualquer culto”. Foi o secretário de Estado da Habitação e
Desenvolvimento Urbano, Benoît Apparu, quem confirmou a ideia de permitir um
financiamento público para os locais de culto. “Em minha opinião, é
necessário facilitar a construção de mesquitas em nosso país, mesmo que o
Estado deva participar”, disse à Radio Montecarlo e BFM-TV. De acordo com
Apparu, se necessário, será feita uma reforma da legislação.

Nem todos
os expoentes do governo do primeiro-ministro François Fillon parecem dispostos
a tocar na “lei símbolo” da França secular. O ministro do Orçamento e
porta-voz do governo Fillon, François Baroin, disse em Europe 1 que, “na
agenda do governo, não há um texto leve a uma mudança na lei de 1905; e como
líder político da UMP e encarregado do debate, não serei favorável à
modificação da lei de 1905”.

Sobre este
tema também opinou, em entrevista ao Le Figaro, em 17 de fevereiro, outra figura-chave
da maioria, o atual ministro da Defesa e fundador da UMP, Alain Juppé. “A
lei republicana – disse – deve ser aplicada em condições de igualdade para
todos. Certamente, existe diversidade. Mas o princípio republicano (…) é que
a lei não pode aceitar as distinções com base em critérios religiosos ou
étnicos.”

“No
que diz respeito aos direitos, é imperioso dizer que os muçulmanos, bem como os
católicos, judeus, protestantes e outros, têm o direito de poder praticar sua
religião. Entre os deveres, está o respeito pelos valores republicanos, em
especial à igualdade entre homens e mulheres”, acrescentou Juppé.

A oposição
criticou a iniciativa de Sarkozy e da UMP, acusando-os de desejo de destaque,
tendo em conta os eventos eleitorais de 2012 (presidenciais e legislativos) e
de quer roubar espaço à extrema direita, que há meses está usando o tema em sua
campanha contra a islamização da França. Para o deputado Henri Emmanuelli (PS),
Sarkozy ficou para trás. “Ele ainda não compreendeu que, com este tipo de
iniciativas, ele trabalha para Marine Le Pen”, disse o ex-ministro
socialista, convidado do programa Le Talk-Orange-Le Figaro.

Segundo
Sarkozy, a esquerda está errada. “Marine Le Pen propôs os problemas, mas
trabalha pouco pelas soluções”: assim se defendeu das críticas o ocupante
do Palácio do Eliseu (Le Figaro, 17 de fevereiro). No entanto, resta o fato de
que a extrema direita cresce nas pesquisas, roubando intenções de voto da UMP.
De acordo com uma recente pesquisa do IFOP (Institut français d’opinion
publique) para o jornal France-Soir, a jovem Le Pen (nascida em 1968)
aumentaria para 19-20% das preferências no primeiro turno presidencial de 2012,
em comparação com os 22-23% para o presidente Sarkozy.

A própria
Marine Le Pen pediu à UMP “mais um pequeno esforço”. “Quero
destacar que, quando a FN é de 15% nas pesquisas, a UMP fala sobre os
problemas”, disse Le Point.fr (17 de fevereiro). “Mas eu não sou boba
– continuou; a convenção da UMP é apenas “bla-bla-blá”, ou seja,
conversa vazia. Para a política, “as orações na rua não são o resultado da
falta de espaço nos locais de culto dos muçulmanos. Isso é mentira e
manipulação.”

A proposta
mais drástica foi feita pelo Partido de Esquerda de Jean-Luc Mélenchon, que
pediu para retornar ao texto original da lei de 1905, retirando a alteração
feita em 1942 por Philippe Pétain, chefe do então governo colaboracionista de
Vichy. Mélenchon também solicitou a revogação da Concordata napoleônica de
1801, que ainda estava em vigor na região da Alsácia-Moselle.

Uma coisa é
clara: depois da chanceler alemã, Angela Merkel, em outubro de 2010, e o
primeiro-ministro britânico, David Cameron, no seu discurso de 5 de fevereiro,
durante a 47ª Conferência de Segurança em Munique, também o presidente Sarkozy
rejeita, por conseguinte, o “multiculturalismo” ou o que dele se
deriva.

“Não
queremos uma sociedade na qual as comunidades coexistam próximas umas das
outras. Quando se chega à França, deve-se aceitar a incorporação a uma única
comunidade, a comunidade nacional”, disse Sarkozy na quinta-feira, 10 de
fevereiro, ao canal de televisão TF1. De acordo com uma pesquisa publicada no
livro “Les Français face aux inégalités et la justice sociale” (que
chegará às livrarias em 9 de março), apenas 20% dos franceses querem que os
imigrantes “mantenham suas tradições particulares”, enquanto 80% quer
“que se adaptem e se misturem na sociedade” (La-Croix.com, 17 de
fevereiro).

A sociedade
multicultural e multiétnica foi defendida por três políticos ecologistas:
Esther Benbassa, Noël Mamère e Eva Joly, de Europe Écologie. “A integração
e a assimilação são movimentos vindos do alto, autoritários, que não levam em
conta as realidades humanas”, disseram em um fórum público divulgado em 27
de janeiro no jornal Libération. O trio lança um apelo a favor do que eles
chamam de “uma laicidade racional que reconheça a parte da pertença
étnica, cultural, religiosa e linguística”.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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